Capítulo I - Ele

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Ele abriu os olhos. Tudo o que podia ver eram pontinhos brancos que se espalhavam sob um manto negro.

“O céu!”, ele pensou.

Percebeu que estava deitado e virou a cabeça para o lado. Viu um coelho.

“Um coelho!”, ele pensou.

Decidiu descobrir o que havia do outro lado.

“Árvores!”, ele pensou.

Aos poucos, foi tentando se levantar. Fora um grande esforço porém, depois de alguns segundos, estava de pé. Caminhou por alguns metros.

Algo o estava incomodando. Não sabia se era o fato de não saber quem era, o que tinha feito em sua vida até ali, ter se esquecido do próprio nome ou a intensa dor de cabeça que agora o perturbava.

Depois de alguns momentos de autoanálise decidiu que a prioridade naquele momento era sua dor de cabeça.

Passou as mãos e os olhos sobre o seu corpo para descobrir o que estava vestindo. Poderia existir algum tipo de remédio em algum bolso.

Percebeu estar trajando uma jaqueta verde musgo.

(Uma curiosidade sobre aquela jaqueta: ela havia sido adquirida há alguns anos pela pechincha de 15 euros numa cidadezinha chamada Colônia, na Alemanha, enquanto ele comemorava com seus amigos o carnaval local. Infelizmente ele não tinha nenhuma recordação sobre o fato).

A jaqueta possuía sete bolsos. Mas, ao investigá-los, não encontrou nenhum sinal de remédio. Achou alguns trocados, recibos (em sua maioria de estacionamentos) e duas balas mentol. Colocou uma na boca.

Agora se concentrava na calça jeans. Quatro bolsos. Três tampinhas de longnecks e um papel com algo escrito, mas ilegível. Percebeu que o papel teria passado por, pelo menos, duas vezes em uma máquina de lavar.

Decidiu olhar para baixo.

“Amarelo. Duas. Cinza.”, pensou.

Estava no meio de uma estrada, com uma faixa que ia para um lugar e voltava de outro, e outra que voltava desse mesmo lugar e levava para outro. Em ambas as pontas a estrada se perdia por entre árvores, nevoeiro e escuridão. Não havia luz, não havia som.

Uma música começou a tocar em sua cabeça:

“There was blood and glass all over and there was nobody there but me…”

Pontadas acompanhavam o baixo e a voz de Bruce Springsteen.

Olhou novamente para onde o coelho estava. Não havia mais nada ali. Neste momento, o coelho adentrava a floresta, buscando por sua toca.

“Coelho… quatro patas…”, ele pensou.

Olhou para as árvores, que começavam a balançar devido a uma fina brisa que agora passava por ali.

“Árvore… verde…”, ele pensou.

Olhou para baixo, e viu marcas de pneu que se estendiam por cerca de dez metros, como se algum carro tivesse tentado brecar bruscamente.

“Estrada…”, ele pensou.

Então, um turbilhão de memórias  veio a sua mente, fazendo com que sua dor, que antes seria categorizada como um oito em uma triagem de pronto socorro, se tornasse um onze.

Em algum momento anterior ao seu despertar tinha sido atingido por um Celta verde enquanto caminhava pela estrada. O que o ele fazia andando por ali, não fazia ideia.

“Eita.”, ele pensou.

Olhou para trás e viu sangue no meio da estrada. Percorreu o sangue com os olhos até chegar a um vulto inerte estirado no chão…

Um corpo.

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⏰ Última atualização: Jun 21, 2016 ⏰

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