O fim

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"Cicatriza ferida, pois tudo na vida é eterna partida."  

Vou começar essa história do jeito certo:  um pouco antes do começo. Temos essa mania de pular as partes mais dolorosas, eu mesmo já fiz isso inúmeras vezes. Mas dessa vez vai ser diferente, vou começar do fim. Do fim de uma história linda, que me permitiu viver outras mais lindas ainda.

Não quero atropelar nada, mas foi mais ou menos assim que nossa história terminou. A gente se amava muito, muito mesmo. Um mês antes tínhamos comemorado mais um ano de namoro (a essa altura já eram três),  e na semana anterior, os meus 22 anos. Tínhamos tudo planejado, tudo certo, tudo no seu lugar. Em um ano e meio eu iria concluir minha faculdade de arquitetura, e poderia finalmente me lançar ao mundo. E talvez teria sido assim, acredito mesmo que talvez tenhamos sido feitos um para o outro.  Talvez se eu não saído da aula mais cedo para surpreende-la se eu não tivesse conseguido pegar o trem das 21:15, se eu não tivesse sentado na última cadeira do vagão ainda estivéssemos juntos. Se a Júlia não fosse 2 anos mais velha, se não fosse formada, se não tivesse recebido aquela proposta em Paris, se, se, se... O fato é que esse amor acabou. Mas não foi por falta de amor.

O fim pode ser bem doloroso quando a gente percebe que as vezes, só as vezes, o amor não é suficiente.

Cheguei em sua casa, e fui atendido pela sua mãe. Subi as escadas com uma flor na mão, ainda com espinhos, nunca fui bom em comprar flores (por outro lado tenho habilidades especiais para roubar do jardim do vizinho). Abri a porta, e lá estava ela, sentada, olhando fixamente para o papel. Ela levantou os olhos e sorriu... e eu nunca vou esquecer aquele sorriso. Aquele sorriso triste, que requer muita força para ser moldado no rosto. Aquele sorriso em meio as lágrimas já me disse tudo.  Ela queria o mundo, eu também. Mas a oportunidade dela chegou antes. 

- Aceitei. - Disse Júlia

- Quando você vai? - Perguntei.

- Em dois dias. - Ela disse, ainda em meio a lágrimas.

- Vai dar certo, nós vamos fazer dar certo.

Ela já tinha me falado da proposta. Eu sabia que tinha chance de perde-la naquela noite, mas não acreditei que isso fosse realmente acontecer. Eu poderia viajar para vê-la nos fins de semana, afinal Paris não era tão longe. Somente 5 horas dali. Foi então que eu a vi, olhando para baixo, procurando as palavras certas para me dizer. Ela então me olhou, e não precisou dizer nada. Estava tudo escrito em seu olhar. O sim dela para a proposta significava um não pra mim. Foi a primeira vez em minha vida que pude degustar a dor de um coração partido. E dói. Dói, ainda mais quando o motivo da dor é o mesmo motivo da alegria. Não consegui dizer nada. Levantei, olhei em seus olhos, e esbocei um sorriso que tentava dizer que eu entendia.  Eu entendia. Sai rápido, me despedi de seus pais, e olhei para a casa dela, com uma dor que chegava a ser física.  Em uma escala de 0 a 10, eu diria que aquela dor era 09. Risos. Se naquele momento eu soubesse o que agora eu sei, minha dor seria um 3. 

Afinal, não há final.Onde histórias criam vida. Descubra agora