Acordei.
Passei a vista nos lados e vi um vulto feminino que me parecia familiar.
- Maria!? - Chamei, por impulso.
- Quem é Maria? - Respondeu o vulto.
Ergui a mão e cocei as pálpebras. Olhei ao redor novamente e tive uma surpresa. Estava deitado no chão de uma pracinha bem bonita com dois bancos de madeira e uns arbustos nos cantos que me dariam uma enorme sensação de relaxamento se eu soubesse onde estava e porquê.
Mas a maior surpresa foi a garota. Ela era exatamente igual a Maria. Mas não era ela, não tinha como ser ela...
- Quem é você? - Perguntei, com a esperança de que fosse realmente ela.
- Me chamo Péthane - Respondeu ela com um sorriso infantil no rosto.
Claro que não era a Maria, afinal eu não a veria nunca mais.
Péthane era da minha altura, tinha cabelos castanhos que iam até os ombros, eram ondulados com uma mecha branca na frente. Ela deveria ter heterocromia, pois tinha os olhos de cores diferentes. Um era da cor do vazio, um cinza bem claro e intenso e o outro era vermelho sangue, uma combinação bastante incomum, e que brilhavam atrás dos óculos de armação simples . Mas foi justamente por isso que ela não poderia ser a minha Maria de olhos castanhos.
- E onde nós estamos? Esse lugar me é familiar.
- Bem vindo a Lugar Nenhum. - E abriu os braços em uma forma de me apresentar o lugar - Qual o seu nome, parceiro? - Mais uma vez aquele sorriso infantil e encantador.
Confesso que não parava de olhar para ela, tanto por ela se parecer muito com a minha ex-namorada, quanto pelo fato de ser extremamente animada pra quem não sabe onde está.
Dentre todas as respostas que eu poderia dar, disse a única que me fazia sentido na hora:
- Ninguém.
Ela me lançou um olhar confuso e franziu a testa.
- Seu nome é esquisito - Então sorriu de novo - e engraçado também.
Mas era a verdade, eu não lembrava de nada. Era uma pessoa sem identidade, sem planos ou razão para existir. Não ter motivo para viver é o mesmo que estar morto. Esse nome era perfeito para mim naquele momento.
Até que a garota me tirou dos meus devaneios:
- Já sei! Você não lembra de nada, não é?
Concordei com a cabeça.
- Mas você não lembra de nadinha, mesmo?
- Lembro apenas de uma coisa. Uma garota chamada Maria que se parece com você. Parece que éramos namorados, mas ela me deixou... só lembro disso.
- Que passado triste.
O que veio a seguir me deixou ainda mais confuso e desorientado.
Ela me abraçou, mas não foi um simples abraço. Foi um abraço muito apertado, daqueles que você se sente seguro nos braços de alguém, como se nada pudesse te machucar se você ficar ali. Aquele era o abraço mais gentil e acolhedor que existe.
- Mas está tudo bem agora. Isso é passado, você não tem que se preocupar, está bem? - Depois me soltou e sorriu.
Aquele sorriso me deixava fascinado e não entendo o porquê. Já não me preocupava mais saber que lugar era aquele ou quem eu era, só queria fazê-la rir mais. Mas não sei o que deu em mim, porque ouvir aquilo fez meu estômago revirar.
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Capítulo Perdido
Historia Corta"Que história você vai me contar hoje, Max?" Depois de alguns insistirem, decidi publicar minhas histórias, contos, crônicas, poesias e delírios aqui. Os capítulos são independentes entre si e sem ligação nenhuma uns com os outros. Os gêneros variam...