Capítulo 1 - A Transformação

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Três coisas que me deixavam arrepiada: elevador, gente mentirosa e estacionamento vazio

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Três coisas que me deixavam arrepiada: elevador, gente mentirosa e estacionamento vazio. Olhei mais uma vez no retrovisor, meus olhos estavam miúdos e as olheiras marcadas denotavam o acúmulo das noites perdidas. Se alguém me fitasse com atenção, certamente perceberia o quanto eu havia chorado.

Voltei ao retrovisor pela milésima vez, sabe quando a gente olha sem ter ideia do que procura? Era assim que eu me sentia.

Quase trinta minutos me arriscando parada num estacionamento. Morar em São Paulo era muito diferente do que eu imaginava, não havia ninguém da família por perto, nem meus melhores amigos, exceto por Bárbara, minha sócia na empresa, e tudo era tão corrido que eu mal conseguia enxergar os reflexos da minha própria vida.

Trabalho, a melhor coisa que eu tinha conquistado, mas ali, uma pergunta: para quê? Tantas pessoas passaram pelo meu caminho... Onde estavam as melhores companhias? Não havia mais ninguém. Um passado de inteira dedicação ao violino — sem ele eu jamais seria quem sou, bem como sem o apoio dos meus pais —, viagens, concursos, namorados, conquistas, festas e solidão.

Olhei de novo no retrovisor...

Cadê meu marido, meus filhos, minha felicidade? Não havia nada que valesse a pena, que me fizesse resistir.

Que susto!

Um rosto sorridente e três batidas tímidas no vidro do meu carro. Em meus quase quatro anos naquela cidade, eu nunca havia sido assaltada. Simplesmente gelei. Ele bateu de novo e sorriu ainda mais. Que garoto esquisito.

— Bom dia — articulou, fazendo caras e bocas do outro lado do vidro. Foi engraçado, admito, se eu não estivesse tão pê da vida, teria dado uma boa gargalhada.

Baixei o vidro.

— Que é?

— Bom dia, aliás, boa tarde, né? — sorriu de novo. Quantos anos ele teria? Dezessete, vinte? — Pra você.

Panfletagem, só isso. Tchau, muito obrigado pela atenção, viu?, ele disse e foi saindo com um andar super desengonçado, quase caipira, infantil. Fiquei distraída, e quem não ficaria?

O garoto cruzou a esquina e desapareceu, lá se foram meus cinco segundos menos angustiantes do dia. O mundo escuro retornou. Olhei o papel na minha mão, um simples folhetinho religioso. Até aqui, dona Laura?, resmunguei e amassei a literatura sem hesitar.

&&&

Laura conhecera uma igreja cristã e, mesmo contra a vontade do marido, Marco Antonio, passara a frequentar as reuniões, levando consigo os dois filhos, Tiago e Christina.

Aquela era uma igreja pequena, humilde e de poucos membros. Talvez por isso tenham se envolvido tão rapidamente com as outras pessoas. Seu filho mais velho, tímido e de caráter introspectivo, surpreendendo a todos, foi o primeiro a ser inserido nas atividades da singela comunidade cristã. Logo, e sem acanhamento, manifestou suas maiores habilidades.

Entre a Fé, a Razão e o Coração (CHICK-LIT)Onde histórias criam vida. Descubra agora