12/04

70 9 1
                                    

  " Essas maldições serão um sinal e um prodígio para vocês e para os seus descendentes para sempre!

(Deuteronômio 28:6) " 

Olho em direção ao professor de história e tento manter minha concentração nele. Porém minha atenção se dissipa e me leva na voz que me chamava mais cedo. Um arrepio percorre meu corpo e aperto meu casaco sobre mim tentando cessa-lo, mas nada adianta. Ele continua seu caminho pelos meus braços arrepiando cada pelo dele, desce pelo torso e provoca a formação de um nó em meu estômago, rapidamente escorrega pelas minhas pernas deixando-as bambas.

Minha cabeça lateja e sinto um frio invadir minhas veias, cruzo os meus braços contra o peito, com uma força desnecessária e deito o meu rosto sobre os materiais em cima da carteira. Minha respiração está pesada e meu coração acelerado, meus pensamentos processam em uma velocidade absurda e meu corpo parece cada vez mais enfraquecido.
É como se algo estivesse me puxando para baixo e sinto que estou cada vez mais próxima ao chão.

Meu corpo parece estar caindo de uma ribanceira, talvez leve mais alguns segundos para eu colidir com o solo, ou talvez nem tanto, porém a única certeza que eu tenho é que eu irei morrer. Me sinto fraca, impotente e sem ação. No meu cérebro passa coisas diversificadas e totalmente sem nexo. Tento assimilar imagens e acontecimentos, mas é impossível, nada é coeso está tudo confuso.

Estou presa dentro de meu próprio corpo, perdida dentro de mim mesma e isso faz com que tudo fique cada vez mais assustador. Ouço uma voz ao longe me chamar, ela é baixa e meu inconsciente se nega a me deixar entender o que ela profere. Repentinamente sou tirada da minha inércia, meus olhos se abrem estáticos e juntamente com meu sangue corre adrenalina. Agora consigo ouvir com clareza a voz que me chama.

— Marry, está tudo bem? — Pandora passa as mãos em frente ao meu rosto.

— Claro, Pan, está tudo ótimo. — Tento colocar firmeza em minhas palavras.

Ela parece não estar convencida.

— Tem certeza?

— Sim, por que não teria?

— Você estava pálida e parecia estar passando mal. — Ela me observa com preocupação.

— Foi um pequeno mal-estar, realmente não estava me sentindo bem, mas já passou, acho que foi algo que comi. — Minto.

— Você tem certeza? — Suas sobrancelhas se unem em sinal de desconfiança.

— Sim, Pan. Obrigada pela preocupação. — Um sorriso amarelo brota em meus lábios.

— Disponha, não vai sair para o intervalo?

— Intervalo? — Pergunto confusa.

— Sim, a aula acabou faz tempinho.

Passo meu olhar pela sala de aula e encontro a mesma vazia, volto minha atenção para a Pandora e dou de ombros seguindo-a até o refeitório.
Meus pensamentos vagam para o ocorrido estranho de poucos minutos atrás e chego à conclusão que estou realmente enlouquecendo.

(...)

Me despeço de meus amigos e sigo para minha casa. O dia até algumas horas atrás estava ensolarado, porém nesse momento o céu está completo de nuvens negras. O vento faz com que meus cabelos não parem quietos e apresso o meu passo antes que comece a chover. Sinto alguns pingos me molhares, bufo em frustração. Começo a correr e logo chego à porta de minha casa. Involuntariamente giro minha cabeça para o lado e vejo um homem do outro lado da rua. Não consigo ver o seu rosto, pois o mesmo usa um capuz. Suas mãos estão nos bolsos de seu jeans. Um arrepio percorre todo o meu corpo. Ele está de frente para mim, o mesmo parece me observar. Com medo, destranco a porta da sala e entro em casa o mais rápido possível.

(...)

Desligo o abajur e deito em minha cama. Finto o teto através do escuro, uma sensação estranha me incomoda. Puxo o cobertor para cobrir toda a minha cabeça e logo adormeço.

Abro os meus olhos quando sinto alguém segurar em um dos meus braços. Olho para trás e não vejo o rosto do indivíduo, porém posso ver que é um homem. Ele começa a me puxar para trás e meu coração dispara. Tento andar na direção oposta, mas minha tentativa é inútil.
Tento gritar por socorro, no entanto nenhum som saí de minha boca e meu desespero só aumenta. Ele me segura com firmeza, como se fugir de suas garras fosse algo simplesmente fácil.

Vejo o escuro da noite e dentro dela, árvores traçam os seus caminhos. Uma imagem assustadora para se ver em um momento como esse.
O homem me leva até o que parece ser uma sala, o lugar é grande e escuro, não enxergo absolutamente nada. Ele me empurra e eu caio de joelhos ao chão. A dor me incomoda, tento ignorar a vontade de chorar.
Me ponho de pé e as luzes se ascendem. Giro o meu corpo para observar melhor o local. Não vejo paredes, janelas e muito menos uma porta.

Isso é loucura, como entramos aqui!?

Fecho os meus olhos na esperança de tudo desaparecer, porém quando eu os abro sou surpreendida.

Espelhos. Vários deles!

Vejo espelhos por toda parte, procuro pelo homem, mas me encontro sozinha nesse lugar assustador. Os espelhos refletem a minha imagem, posso ver o meu reflexo em vários ângulos diferentes. Minha respiração fica ofegante, minha pele está gelada e as batidas frenéticas de meu coração podem ser ouvidas. Ouço uma risada. Tento buscá-la, mas não vejo absolutamente nada, além dos malditos espelhos. Lágrimas descem pelo meu rosto. Novamente tento gritar, porem não consigo mover meus lábios.

Um pequeno ruído chama a minha atenção. Olho para frente e vejo um pequeno trincado em um dos espelhos. Caminho até ele e passo meu dedo com cuidado sobre a rachadura. Outro som igual ao anterior é ouvido atrás de mim. Caminho até o outro espelho e vejo outro trincado. Uma sensação de pânico toma posse de meu corpo. Em fração de segundos todos os espelhos começam a trincar. Algo caí em cima de minha cabeça. Relutante, levo minha mão até o local. Pego o objeto e levo até a minha visão. Um pequeno caco de vidro.

Outro caco caí aos meus pés. Não olho para cima, por medo de algum deles cair em meus olhos. O som é agonizante.
Um espelho de minha esquerda se quebra por inteiro e o desespero aumenta ao me dar conta que acima de mim está repleto de espelhos.
Me abaixo contra o chão para tentar proteger o meu corpo. Logo, sinto os cacos caírem sobre mim. O barulho é ensurdecedor.

Depois de alguns minutos o barulho cessa. Abro os meus olhos e só vejo cacos. Começo a me levantar e sinto um incomodo. Me ponho de pé.
Algo chama a minha atenção. Um espelho, apenas um único espelho continua intacto. Ele está acima de mim. Começo a tremer ao ver a imagem de meu rosto. Ele está desfigurado, sangue escorre pela minha face. Não me reconheço.

Passo um dedo pelos machucados e sinto dor. Olho novamente para cima, inconformada com o meu reflexo. Meu coração bate tão forte e dá a impressão que a qualquer momento ele irá ceder. Em fração de um piscar de olhos, o espelho se quebra caindo sobre os meus olhos, a dor é indescritível.

Pulo da cama em um solavanco. Meu coração está acelerado e minha boca está extremamente seca. Mais um pesadelo. Mais um maldito pesadelo. Ele foi tão real, ainda sinto a dor em meus olhos. Eu estou ficando louca. Todas essas merdas estão contribuindo para essa minha maldita loucura. Sento na beira da cama para tentar controlar a minha respiração. Meu olhar cai na janela e vejo que já amanheceu. Olho para o pequeno espelho da penteadeira e sinto um arrepio.

Agora só me faltava ficar com medo de espelhos.



*-*-*

Nos perdoem pela demora. 

Até breve!

08/07/2016


Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Jul 09, 2016 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

A Última ProfeciaOnde histórias criam vida. Descubra agora