welcome to new york.

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 "Rose, o teu avô chegou." A senhora de meia-idade informou e eu assenti sorridente por finalmente ver-me livre daquele inferno a que apelidavam de Orfanato, onde três anos pareceram durar uma eternidade. Agarrei nas minhas malas e desatei a correr para fora do quarto em direção à entrada, olhei de relance para o homem de cabelo grisalho e logo exclamei o seu nome mais alto do que era suposto. Corri até ao seu encontro e saudei-o num abraço apertado. "Estás bem, tudo ficará bem pequena Rose."  A verdade, é que eu nunca iria ficar bem. 

Bufei entediada enquanto via os prédios da cidade tornarem-se borrões coloridos à medida que o comboio ganhava velocidade. Mais uma hora de viagem e chegaria ao meu destino. Não que isso me agradasse. Iria viver com o meu tio, em Nova Iorque, devido à recente morte do meu avô. O meu avô referia imensas vezes as saudades que sentia e o quão triste ficava por eu ter sido entregue a um orfanato no Sul e isso não era bom para o meu estado mental tendo em conta o desastre que se dera, o meu humor desta vez não era dos melhores para aturar as suas bocas, aliás, na verdade eu estava completamente devastada. A família era uma das coisa que eu atribuía grande importância, sempre sonhara em casar, depois da universidade, e ter filhos frutos dum romance tão puro como aquele que os meus pais tinham... ou pareciam ter. Apesar de me ser indiferente e de já estar habituada, este tema era algo que sempre deixara-me de rastos. É por isso que agora estou a caminho desta cidade longíqua e muito conhecida, para tentar "ser feliz". Eu nem mais lágrimas tenho para chorar, e evito ao máximo fazê-lo.
Encostei a minha cabeça à parede metálica do comboio e fechei os olhos tentando não parecer tão melancólica como realmente estava. A idosa à minha frente já começava a olhar-me preocupada e pena era a última coisa que eu queria. Principalmente quando pensava que a culpa era minha. De facto as minhas notas eram impecáveis e a organização fazia parte de mim, mas pouco antes de me revelarem a grande notícia, eu tinha-me candidatado à universidade. Foi então que o meu sonho se destruiu, vi-me obrigada a desistir de tudo. Queria desistir das aulas de piano, mas sei que era algo que o meu avô não ia admitir que fizesse, e a última coisa que tencionava fazer, era desiludi-lo. Felizmente o meu tio, vindo do além,  interveio em meu auxílio e acabara por levar a melhor. Na altura, pouca importância atribuíra àquela questão, mas agora... sentia que tinha sido a gota de água para ele. Eu deveria ter percebido mais cedo o que se passava, devia ter facilitado mais as coisas, eu... simplesmente não conseguia deixar de pensar que podia ter feito mais. Mas foi a minha decisão viver com o meu avô, não por ele, mas sim por mim, o meu avô salvou-me daquele inferno que era o orfanato e será impossível esquecer-me desse feito. A típica voz mecânica soou pelos altifalantes, anunciando a chegada a Nova Iorque, interrompendo assim o fluxo dos meus pensamentos. Olhei surpreendida para o relógio que abraçava o meu pulso, como é que seis horas tinha passado tão depressa?

Levantei-me rapidamente, sentindo-me logo um pouco atordoada, tinha passado demasiado tempo na mesma posição. Assim que recuperei o equilíbrio, não perdi tempo e reuni toda a minha bagagem passando de seguida pelas portas duplas que me deram acesso ao exterior. Uma golfada de ar quente chocou contra o meu rosto trazendo-me o cheiro da poluição. Milhares de pessoas atropelavam-se umas às outras, sem nem darem conta da minha miserável existência. É... era oficial, tinha mesmo chegado à cidade.

New York { ariana grande.}Onde histórias criam vida. Descubra agora