Cá estou eu mais uma vez neste balcão. Sou apenas um estranho por aqui, gosto disso. Jogo sobre o balcão dois dados, bebo a dose final de whisky e dentro do copo deposito os dados.
Aceno com a mão para o barman, que parecia ocupado servindo um coquetel. Embora focado em seu serviço, logo atendeu ao meu sinal.
-Pois não, posso ajudá-lo?
Bom, creio que sim - fito o copo, apresento-o ao barman de forma que os dados fiquem visíveis - Uma dezena e uma unidade.
O barman solta uma risada descontraída - Ora meu rapaz, essa é nova. Não estou com muito tempo, mas, vejamos. Quero, trinta e quatro.
Acendo um cigarro. Trago.
-Boa escolha, poderia encher o copo com bebida para mim?
-Claro, mas aonde quis chegar com os dados?
-Espere e veja.
Em pouco tempo ele volta com a garrafa em mãos. Ciente dos dados e instigado pela minha proposta sútil, enche o copo. Logo seu olhar parece debochar um pouco ao ver os dados flutuarem com os números 1 e 9 virados para cima.
-É amigo, acho que não foi dessa vez, quem sabe na próxima tenha mais sorte.
-Não se preocupe, não costumo errar. Aliás, faltou o gelo.
-Sério mesmo? - O barman solta uma risada incrédula.
-Espere e veja.
Bom, então aqui está seu gelo - Ele joga dois cubos de gelo no copo, em sequência os dados viram com os números 3 e 4 para cima nos dados.
Como já esperado, o barman dá um pulo para trás surpreso com o quê acabara de ver. Ele sorri e encara o copo tentando acreditar naquela cena. É claro que da minha parte isto é um jogo sujo, preciso apenas induzir a pessoa ao número e ter um dado modificado para que caia neste número ao ser adicionado dois gelos em um copo de bebida.
-Uou cara! Você é incrível. Como fez isso? - Pergunta intrigado - Sensacional, nunca vi nada igual!
-É apenas um passa tempo meu - respondo de forma carismática.
-E então, qual seu nome amigo? Você não é daqui certo?
-É, você está certo, realmente não sou. Me chamo Alexander, mas pode me chamar de Alex, gosto assim - Satisfaço suas curiosidades de forma amistosa.
Puxo a fumaça e direciono meu olhar à uma bela mulher no outro lado do bar.
-Bom. E quem é aquela morena ali? - indico com o olhar.
-Ah! Refere-se então à Camila. Ela está quase sempre aqui nos finais de semana. Maioria das vezes acompanhada de amigos, não sei porquê está sozinha hoje.
-Bom, muito obrigado, tenha uma ótima noite - Deixo o dinheiro sobre o balcão.
-O prazer foi meu Alex, volte sempre. Quando vier pode chamar por mim, sou Rafael.
-Rafael, certo, chamarei - Me despeço dele com um aceno. Fecho minha jaqueta de couro e coloco as mãos nos bolsos ciente do frio.
Olho meu relógio, ainda são 10 horas da noite, estou no centro da cidade. Tudo parece bem movimentado por aqui. Faz frio. Perfeito. Há um canivete em meu bolso, mas penso comigo que não é bom brincar hoje.
Vou até uma parada de ônibus com meu cigarro em mãos. Enquanto espero meu ônibus chegar vejo a moça que eu havia visto no bar se aproximar. Esta falava no celular e parecia estar brigando com alguém. Após um minuto ela desligou repentinamente seu celular, guardou em sua bolsa e buscou manter a postura tentando de forma falha esconder sua frustração.
Me faço presente em seu campo visão de forma amistosa, respeitando seu espaço. Ela nota minha presença, logo assumo uma postura amigável diante dela; por sinal não houve nenhum estranhamento.
-Parece cansada - Introduzo.
-É, realmente estou.
-Quer um cigarro? - Ofereço a carteira aberta à ela.
-Não, obrigada, não tenho o hábito de fumar - pondera.
-Entendo. Isso é bom, vejo que costuma cuidar de sí mesma.
-É, talvez.
-É, o dia realmente não foi fácil para você hoje - Faço minha premissa - Está tendo problema com algum amigo?
-Namorado e amigos... - Responde um pouco mais emotiva e séria.
-Bom. Qual seu nome? - Perguntei mesmo ciente do mesmo.
-Camila.
-Camila, certo. Sou Alexander - me apresento - Camila, acredito que não deve depender deles para ter uma boa noite de fim de semana.
-Você está certo. Eu que sou uma trouxa de ficar esperando por eles. Agora o maldito do meu namorado deve estar lá com aquela vadia - Seus braços se cruzam e os olhos enchem de lágrimas enquanto busca manter o olhar sério ao observar os carros passarem.
-Aposto que se ele estiver fazendo isso agora, mal deve estar se importando com você. Então porquê não deixa ele de lado e vai se divertir? Não se importe por quem não se importa com você.
-Falar é fácil.
-De fato é, mas precisa tomar atitude - Olho para o relógio - Bom, ainda são 22:30, vamos para o bar?
-Tudo bem - responde um pouco insegura.
Sua roupa é casual e despretensiosa, a típica marca de quem vai à algum lugar buscando manter distância das pessoas, embora os cabelos loiros por natureza chamem atenção.
Ao chegar no bar nos sentamos em uma mesa no ambiente interno afim de evitar o frio da noite. Não demorou muito para que escolhessemos o local para que enfim as doses e o assunto pudessem descer em nossas gargantas. De longe notei o olhar do barman que certamente tirava conclusões prévias de mim, tais como mulherengo. De nada me incomoda que ele pense assim, este é apenas um peão e está onde eu perfeitamente quero, porém em algum momento haverá de ser sacrificado para que o jogo continue.
As noites são como um parque de diversão em seu ápice do entretenimento; um show de luzes e oportunidades em que muitos são distraídos. Quem sou eu? Apenas aquele que de longe observa que quando quer se misturar no meio de toda a brincadeira... Por vezes acaba por estragá-la.
Hoje é mais um daqueles dias em que decidi me enturmar, Camila é o brinquedo que decidi ir hoje no meu parque. Meu bilhete já está garantido e no meio dessa dança o grande astro se levanta. É dramático e ridículo falar assim, admito. Mas qual seria a graça do espetáculo sem nenhum drama? Não é mesmo?
Após longos minutos de conversa apresentei-a meu gracioso jogo com uma proposta quente o suficiente para que a bebida a fizesse aceitar. Era simples, a mesma escolia uma dezena e uma unidade. Se os meus dados errassem ela sairia livre dali podendo me pedir qualquer coisa. Caso meus dados acertassem... Bom, essa parte não ficou clara para minha refeição desta noite.
-E então. Uma dezena e uma unidade.
-hmmm deixa eu ver. Ah! Quero ver seus dados acertarem essa! La vai. 3 e 4.

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Compulsivo Sem Lei
Ficção GeralVenha, vamos conversar. Prometo lhe dar a conversa mais agradável que teve em toda sua vida. Olho pra ti e leio cada rastro de suas emoções e pensamentos. Seu mundo está na palma de minhas mãos, eu sou o seu maior azar. Sou como gato preto na esprei...