Dear Harry |H.S|

2º Memory

Senegal 26 de Março

Está um calor insuportável, a luz fraca de uma pequena lâmpada tenta iluminar a tenta mas em vão. Esforço a minha visão enquanto aperto a ligadura de um homem que se contorce de dores graças a um ferimento de uma bala.

Ignoro os palavrões que ele diz graças às dores que sente e assim que acabo sinto-me exausta.

Coloco um pano molhado sobre a sua testa para tentar baixar a febre

"Se precisar de alguma coisa uma das outras enfermeiras irá ajuda-lo" digo afastando-me do senhor

Dispo a minha bata e aceno às outras enfermeira que me desejam boa noite. Assim que sai para fora da tenta sinto um brisa ligeiramente mais fresca a embater na minha pele.

"Que calor" murmuro para mim mesma

"À isso é por minha causa" salto em susto assim que oiço uma voz atrás de mim

Viro-me para trás e um sorriso com covinhas salta-me à vista.

"Que susto Harry!" digo dando um esta no seu braço o que provoca com que ele solte uma gargalhada

"Ai Harry!" ele fala num tom esganiçado numa tentativa de imitar a minha voz, reviro-lhe os olhos em resposta

"O quê que estás a fazer ainda cá fora?" digo olhando para o céu escuro e começamos a olhar

"Vim ver-te" ele coloca as mãos nos bolsos das calças camufladas e encolhe os ombros

"Muito atencioso da sua parte Mr. Styles" digo num tom de brincadeira e ele ri

Um pequeno silêncio confortável estabelece-se entre nós enquanto caminhamos, apesar de não fazer a mínima ideia para onde vamos.

Isto começa a tornar-se uma rotina.

"Quero levar-te a um sitio" ele diz quebrando o silêncio

"Vais levar-me a jantar no meio deste fim do mundo" pergunto franzindo o sobreolho e ambos nós olhamos para a terra batida à nossa volta

"Um dia" ele murmura mais para ele do que para mim e continuamos o nosso caminho em silêncio

"Amanhã vais ver-te livre de mim" ele diz batendo com o seu cotovelo no meu braço

"Ai sim?" Interrogo olhando para os seus olhos verdes

Ele vai-se embora?

"Sim, vamos reabastecer as munições e assim" no exato momento em que ouço as suas palavras sinto um alivio no peito

"Vais-me levar onde?" pergunto desviando o assunto

Já me basta na guerra, não tenho de falar dela também.

"Surpresa" ele diz piscando-me o olho

"Vá lá Harry" peço

"É já ali" ele aponta para a frente e começo a ver a única arvore verde no meio da paisagem seca iluminada pela luz da lua

Caminhamos sem proferir nenhuma palavra, num silêncio agradável até estarmos, sentados lado a lado, conta o grosso tronco da árvore

"Gosto de vir para aqui, é bastante sossegado à noite" durante uns momentos ambos fintamos o céu estrelado

Nunca pensei que algum dia iria acabar a prestar serviço no meio da guerra. Algumas vezes arrependo-me sempre que acordo a meio da noite com o som dos tiros preso na minha cabeça, ou com a imagem de rostos aflitos enquanto lutam pela vida.

Acredito que o meu trabalho seja o mais fácil aqui, não imagino metade das coisas que o rapaz ao meu lado já presenciou.

"Fala-me de ti Harry" digo quebrando o silêncio