1º Memory

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Senegal 3 de Março

Ouço imenso barulho à minha volta, em maior parte são gritos, choros, e vozes altas. Pessoas a correr de um lado para o outro com uma expressão nervosa está espalhada na face de toda a gente.

O meu olhar percorre todas as macas onde corpos feridos estão deitados, uns com uma gravidade que até faz doer a vista e outros a precisar de uma pequena ajuda e algumas palavras de conforto.

Corro até a um homem que geme em dor e tento ajudar os médicos à volta dele, a voz do senhor é desesperada e quando ele me apanha perto dele sinto-o a agarrar a minha mão.

"Se eu morrer diz à minha filha que eu a amo" o olhar fraco do homem é suficiente para despedaçar o coração de qualquer um.

"Alison nós tratamos deste, vai ajudar outros" diz-me a mulher negra que enverga uma bata branca machada de sangue.

Assinto com a cabeça depois de prometer ao homem que ele vai ficar bem.

Um outro homem chama-me a minha atenção e não demoro até estar ajoelhada à sua frente ao seu corpo sentado de um dos lados da maca.

As suas mãos agarram os seus cabelos castanhos e o seu joelho treme para cima e para baixo como se estivesse nervoso.

Os meus olhos correm o seu corpo e vejo uma mancha de sangue na lateral esquerda da sua barriga.

"Posso ajudar?" Pergunto chamando à atenção.

A sua cabeça sobe, as suas mãos largam os seus cabelos, e uma face jovem que carrega olhos verdes encarra-me com uma expressão de desconforto. Os seus olhos continuam a encarar-me por segundos e sinto que ele se está a perguntar o porquê de o estar a ajudar.

"É mais fácil se te deitares" tento um sorriso e ele deita-se ainda sem proferir uma única palavra.

Subo a sua camisola dele em mim e tento concentrar-me em ajuda-lo. Observo a ferida e prevejo que tenha sido causada por um raspão de uma bala.

"Safaste-te, foi só de raspão" brinco como ele tentado aliviar o ambiente triste à nossa volta e ele limita-se a encolher os ombros como se não tivesse verdadeiramente interessado no assunto.

Começo por desinfetar a ferida e estancar o sangue usando uma gaze enrolando à volta do ferimento para aplicar pressão.

"Está demasiado apertado?" Questiono-o enquanto finto os seus olhos.

"Não és demasiado nova para estares aqui?" Ele fala pela primeira vez e noto na sua voz grosa.

"Vou tomar isso como um 'não está demasiado apertado', e desde de quando é que se é demasiado novo para ajudar alguém?" Franzo o sobreolho enquanto olho para ele.

"Ganhas-te" ele dá um sorriso torto e eu volto a puxar a sua camisola para baixo.

Tiro do bolso uma folha de papel dobrada e já meio amachucada e rabisco o nome de uns medicamentos que ele irá ter de tomar ainda a sentir os seus olhos em mim.

"Toma" entrego-lhe guardado a caneta no meu bolso.

"Descansa um pouco e depois vai alevantar isso à enfermaria" digo e os seus olhos ficam presos no papel como se ele tivesse a apreciar uma obra de arte.

"Não faças esforços, e as melhoras" rodo nos meus calcanhares sobre o chão de terra batida.

"Obrigada...." A sua voz faz-me voltar a olhar para trás.

"Alison. O meu nome é Alison" disse enquanto o via a passar a mão na testa suada.

"Obrigada Alison" e no exato momento em que a sua voz entra pelos ouvidos sinto que é esta a razão de eu ter vindo para o meio de militares durante a guerra.

Dear Harry |H.S|Onde histórias criam vida. Descubra agora