Um final (in)feliz? - Conto João e Maria

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Duas crianças andando na floresta. Já sabe qual conto de fadas estou te contando? Não? Vamos ver se posso te dar uma dica... Ah, sim! Essas duas crianças estão fugindo de uma bruxa que quer comê-las no jantar. Entendeu agora? Bem, se você disse João e Maria, acertou. Esses dois estão correndo da bruxa na floresta, mas logo estarão seguros...

Como assim "não", escritora? Eu estou contando a história do jeito certo, ora essa!

Ah, sim. Acabei me esquecendo desse detalhe afinal, mil perdões leitor... Talvez essa história não seja de fato para criancinhas...

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De mãos dadas, João puxava Maria para dentro da densa floresta, eles corriam fingindo não ouvir os barulhos assustadores que a noite produzia. Eles tinham outros barulhos para temer.

Os galhos retorcidos das árvores batiam contra seus rostos e rasgavam suas bochechas, assim como as raízes no chão os faziam tropeçar a quase dez passos andados. A única iluminação provinha da lua, o que deixava o lugar ainda mais assustador. A floresta parecia ter vida própria e parecia querer vê-los serem pegos.

Maria choramingou baixinho, ela sabia que a ideia de ir naquela casa de doces fora a pior de sua vida. Seu pé doía, seu ombro sangrava e o medo de morrer se agravava em seu peito. Ela queria que tudo aquilo fosse só um pesadelo e que quando acordasse estaria em sua cama quentinha ao lado do irmão. Um puxão em seu braço a tirou dos seus devaneios, João a puxava com mais força. Eles tinham que correr mais rápido. Ele também estava com medo, muito medo. Mas se mantinha firme pela sua irmã. Se algo acontecesse com ela, ele nunca se perdoaria.

Um galho inesperado parado no chão o fez cair e arranhar suas pernas de terra, bolhas de sangue surgiram em seus joelhos.

– João, vamos. Se levante. Não temos muito tempo. Maria sussurrou, levantando-o pelo braço enquanto olhava para os lados. O terror em sua voz deixava claro que ela tinha dúvidas se eles conseguiriam escapar.

Uma risada ecoou pelas árvores.

– Não, por favor. o menino gemeu baixinho.

Os dois garotos passaram a correr desesperadamente sem se importar em olhar para os lados ou para o chão. E à medida que corriam, a floresta se tornava mais escura e mais assustadora: as folhas começaram se tornar cinzentas, as plantas a se contorcer para baixo e o ar antes límpido agora tinha um cheiro de podridão e de morte.

Um tronco enorme caído tapava o caminho e os obrigavam a terem de pulá-lo, plantas viscosas com uma aparência esquisita pregavam em seus braços e uma hora ou outra barulhos estranhos os faziam se assustar. Eles precisavam de uma saída.

Pararam por um instante, sabendo que correr não adiantaria nessas circunstâncias. Ambos sabiam que só estavam vivos porque assim era a vontade da bruxa, se ela quisesse matá-los já teria feito com literalmente um estalar de dedos. O monstro era muito poderoso para ser detido por duas crianças indefesas e ingênuas.

Olharam-se para seus rostos sujos de terra e suor, temiam que aquela seria a última noite de suas vidas. Maria laçou um braço na cintura de seu irmão em um abraço apertado.

– João, eu te amo mais que tudo nesse mundo. – lágrimas rolavam pela sua bochecha e sua voz era um poço de lamurio. – Nenhuma bruxa irá estragar isso.

– Não, Maria. Não desista, temos que continuar correndo. – ele começou a puxá-la para longe dali com os olhos carregados de falsa esperança. – Temos que correr agora!

As mãos da garota seguraram firme nos ombros do outro para que assim ela pudesse olhar em seus olhos.

– Não adianta, você não entende? Correremos em círculos até que ela decida a hora de nos capturar, não há saída para nós. – ela engoliu em seco, enfim a verdade que carregava dentro de si fora dita. Um peso enorme pairava sobre aquelas palavras.

Um final (in)feliz?Onde histórias criam vida. Descubra agora