O sol vermelho de Krypton se assomava no céu, um gigante inquieto. Em suas camadas gasosas, células condutoras de calor do tamanho de um planeta se agitavam como bolhas em um caldeirão infernal em câmera lenta. Delicadas bandeirolas coronais dançavam pelo golfo do espaço, interrompendo as comunicações planetárias.
Jor-El estava esperando havia muito tempo por uma tempestade cintilante como essa. Em seu laboratório isolado, ele havia monitorado suas sondas solares, ansiosamente fazendo preparativos. O momento estava próximo.
O visionário cientista tinha montado seu equipamento no prédio de pesquisa amplo e aberto em sua propriedade. Jor-El não tinha assistentes porque ninguém mais em Krypton entendia exatamente o que ele estava fazendo; na verdade, alguns outros pareciam se preocupar. As pessoas de seu planeta estavam satisfeitas. Muito satisfeitas. Por outro lado, Jor-El raramente se deixava sentir complacente ou satisfeito. Como poderia, quando ele podia imaginar facilmente tantas maneiras de melhorar o mundo? Ele era uma verdadeira anomalia na "sociedade perfeita".
Trabalhando sozinho, calibrava feixes de raios através de centralizadores de cristal, usava ferramentas alinhadoras de laser para ajustar os ângulos de discos refletores convergentes, checava mais de uma vez seus prismas resplandecentes em busca de falhas. Pelo fato de seu trabalho ter desafiado os limites da pouco inspirada ciência kryptoniana, ele havia sido forçado a desenvolver boa parte de seu aparato básico sozinho.
Quando abriu a série de painéis feitos de uma liga de metal que ficava no teto de seu prédio de pesquisa, uma luz escarlate se espalhou pelo laboratório. Logo o fluxo solar alcançaria o nível desejado. Uma ávida curiosidade científica lhe dava mais incentivo do que sua reverência pelo gigante vermelho, que os sacerdotes haviam batizado de Rao. Ele monitorava os níveis de poder exibidos pelos medidores planos de cristal.
Durante todo o tempo, a luz do sol resplandecia visivelmente mais brilhante. As labaredas continuavam crescendo.
Embora fosse jovem, Jor-El tinha um cabelo espesso e característico, tão branco como marfim, e que lhe dava um ar suntuoso. As belas e clássicas feições em seu rosto pareciam ter sido modeladas diretamente do busto de um antigo nobre kryptoniano, tal como seu venerado ancestral Sor-El. Alguns poderiam achar que seu semblante de olhos azuis era distante e preocupado, mas, na verdade, Jor-El enxergava muitas coisas que os outros não viam.
Ele ativou seus bastões de cristal cuidadosamente dispostos, configurando uma melodia harmônica de extensões de onda. No telhado, espelhos laminados e oblíquos projetavam seus reflexos em um prisma central concentrado. Os cristais roubavam apenas um segmento preciso do espectro, depois desviavam o raio filtrado para tanques espelhados parabólicos feitos de mercúrio semitransparente. À medida que a intensidade da tempestade solar aumentava, os espelhos de mercúrio começaram a se encrespar e borbulhar.
Seguindo o plano, Jor-El rapidamente retirou um cristal de âmbar e o inseriu em sua entrada no painel. As facetas lisas da pedra já queimavam a ponta de seus dedos. O primeiro raio se estilhaçou formando uma teia de aranha luminosa que ligava o labirinto de espelhos e cristais.
Em instantes, se a experiência funcionasse, Jor-El abriria uma porta para outra dimensão, um universo paralelo - talvez até mais do que um.
A propriedade ampla e afastada, a muitos quilômetros de Kandor, era perfeita para Jor-El. Seu prédio de pesquisa era tão grande quanto um salão para banquetes. Enquanto outras famílias kryptonianas teriam usado tal espaço para bailes de máscaras, festas ou apresentações, o outrora famoso pai de Jor-El optou por erguer toda a propriedade como uma celebração da descoberta, um lugar onde toda questão pudesse ser investigada, independentemente das restrições tecnofóbicas impostas pelo Conselho Kryptoniano. Jor-El deu um bom uso a
essas instalações.
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Os Últimos Dias De Krypton - Kevin J. Anderson
Science FictionAntes da calamidade que fez com que o pequeno Kal-El-Superman - fosse enviado num foguete rumo a um futuro extraordinário em que viveria como herói, seu planeta natal, Krypton, prosperava. Antes da traição, da tecnologia e da natureza conspirarem...