CAPÍTULO 2

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Trabalhando com seus colegas estudantes de arte nas estruturas maravilhosamente exóticas, Lara não conseguia decidir se o design da propriedade de Jor-El era fruto de genialidade ou de loucura. Talvez as duas coisas fossem muito semelhantes para serem distinguíveis.

Rao brilhava sobre os "carrilhões de luz", tiras ultrafinas de metal penduradas em fios tênues que giravam sob a pressão dos fótons, produzindo uma miríade de arcos-íris. Uma torre espiralada branca como leite, sem portas nem janelas, se erguia no centro da propriedade, como um chifre de uma gigantesca fera mitológica, que afunilava até ficar pontiagudo em seu ápice. Outros anexos eram estruturas geométricas singulares que cresceram a partir de cristais côncavos, cobertos com interessantes arranjos botânicos.

O solar do cientista solteirão era um labirinto irregular de arcos e cúpulas; paredes no interior que se encontravam formando ângulos irregulares, cruzando-se em locais inesperados. Um visitante que caminhasse em meio aquele traçado caótico podia facilmente se desorientar.

Embora Jor-El passasse a maior parte do tempo no tumultuado prédio de pesquisa, aparentemente havia percebido que faltava algo na propriedade que seu pai tinha lhe deixado. Paredes externas de pedra polida, brancas como giz, chamavam a atenção como se fossem telas em branco que demandavam alguma obra de arte. Para sua sorte, o grande cientista havia decidido fazer algo em relação a isso, e foi por essa razão que chamara uma equipe de artistas talentosos liderados pelos famosos pais de Lara, Ora e Lor-Van.

Lara queria deixar a própria marca, dissociada de seus pais. Era uma mulher feita, uma adulta independente e cheia de ideias próprias. Dada a chance, ela se achava capaz de criar uma obra característica que talvez até mesmo o próprio Jor-El notaria (se o belo, porém enigmático homem, se desse ao trabalho de sair um pouco do laboratório). Um dia Krypton a reconheceria como uma artista dona de uma imaginação própria e fértil, mas isso não era o bastante. Lara queria ir além, e não limitaria suas possibilidades. Além de uma artista, ela se considerava uma contadora de histórias criativa, uma historiadora, uma poetisa, e até mesmo uma compositora de óperas que evocavam a grandeza da interminável Era de Ouro de Krypton.

Seu cabelo comprido caía em cachos sobre os ombros, cada fio de tom âmbar repuxado. Como exercício, Lara havia tentado pintar um autorretrato (três vezes, de fato), mas nunca conseguiu reproduzir direito seus impressionantes olhos verdes nem o queixo pontudo ou os lábios em botão que se curvavam para cima em um frequente sorriso.

Seu irmão de 12 anos, Ki-Van, com o nariz levemente sardento, olhar curioso e cabelo desgrenhado da cor da palha, também viera para a área de trabalho, que lhe parecia uma maravilha em comparação com qualquer exposição montada em Krypton.

Em volta dos prédios principais, equipes de artistas em treinamento se agrupavam em torno dos pais de Lara. Mais do que apenas subordinados e assistentes, aqueles eram verdadeiros aprendizes que absorviam o que podiam de Ora e Lor-Van, para que um dia pudessem contribuir com seu próprio talento para a biblioteca cultural de Krypton. Eles misturavam pigmentos, erguiam andaimes e montavam lentes de projeção para transferir estampas que os mestres mais experientes haviam traçado na noite anterior.

Se os pais de Lara fizessem bem o seu trabalho, os kryptonianos já não se lembrariam do trágico desvanecimento e confusão que marcaram o fim da vida do pobre homem enquanto ele sucumbia à doença do esquecimento. Em vez disso, eles se lembrariam da grandeza visionária de Yar-El. Jor-El, com certeza, seria grato aos pais de Lara por isso. O que mais ele poderia lhes pedir?

Com o desembaraço da juventude, Lara se sentou de pernas cruzadas em um pedaço luxuriante de relva púrpura, uma variedade de grama encontrada nas planícies selvagens que cercavam Kandor. Ela ficou contemplando aquele que considerava um dos mais enigmáticos objetos do terreno: doze placas lisas feitas de pedras castanho-amareladas com nervuras se erguiam em volta das áreas abertas da propriedade, cada uma com dois metros de largura, três de altura e bordas irregulares. Os obeliscos eram como mãos lisas e erguidas, pálidas e sem manchas. Onze das pedras planas estavam dispostas em intervalos regulares, mas a 12ª estava surpreendentemente deslocada em relação às outras. O que o velho Yar-El queria dizer com isso? Será que pretendia cobrir os obeliscos com mensagens incompreensíveis? Lara jamais saberia. Embora ainda estivesse vivo, Yar-El estava muito longe de poder explicar as visões presas dentro de sua cabeça.

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⏰ Última atualização: Jul 11, 2016 ⏰

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Os Últimos Dias De Krypton - Kevin J. AndersonOnde histórias criam vida. Descubra agora