Capítulo III

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O vício no inalante tíner (e em outros hidrocarbonetos) e na nicotina do cigarro já haviam se consolidado como hábitos do meu dia a dia. Era uma poderosa maneira de autoafirmar,  de ser o cara mais 'popular'  entre os meus colegas de classe. Entretanto, usar essas substâncias não foi a única porta que abri para conhecer o mundo dos vícios. Àquela altura, o pacote da curiosidade, que englobava o cigarro e os produtos químicos, já era pouco para mim em termos de sensação física. Foi então que apareceu a maldita Cannabis sativa,  mais conhecida como maconha.
Quando alguns indivíduos a que eu chamava de "amigos"  me apresentaram a Maria Joana, mais um dos nomes populares da Cannabis, disseram-me que eu experimentaria uma viagem para "outro mundo"  quando apertasse o meu primeiro baseado, o cigarro de maconha.  O problema é que ninguém me avisou que era uma viagem que podia ser só de ida.
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Maconha

A Cannabis sativa é uma das drogas mais usadas no Brasil,  por ser barata e de fácil acesso nos grandes centros urbanos. Seu principio ativo é o tetraidrocanabinol(THC),  além de cerca de quatrocentas outras substâncias.

EFEITOS COLATERAIS :intoxicação, boca seca, batidas aceleradas do coração, dificuldades na coordenação do movimento e do equilíbrio, e reações ou reflexos lentos. Algumas pessoas sofrem aumento da pressão sanguínea e pode até duplicar o ritmo cardíaco.
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"Um abismo chama outro abismo, ao fragor das tuas catadupas; todas as tuas ondas e vagas passaram sobre mim. "
       
                                     Salmos42.7(ARA)

É claro que um abismo chama outro, e não demorou muito para que eu mergulhasse na maconha, e, em seguida, outros entorpecentes que vieram junto," no pacote ". Levava uma vida dupla. Em casa, era um ; na rua, outro. Era como o dr. Jekyll do romance O médico e o monstro do autor escocês do século XIX Robert Louis Stevenson. Meus hábitos se transformaram. Chegava tarde em casa, as quatro ou cinco da madrugada, mas ia trabalhar normalmente poucas horas depois, sabe Deus em que condições.

Acontece que eu estava na fase de experimentar tudo que me trouxesse uma brisa, ou seja, que me levasse a um estado de êxtase, alucinação, satisfação e inspiração. As sensações podiam variar, mas as definições da minha viagem iam muito mais além. Havia uma sensação de poder, e eu me entregava mais a ela.

A maconha era definitivamente diferente do tíner e do cigarro. O THC ( tetraidrocanabinol, princípio ativo da maconha; ver maconha) me oferecia uma sensação de fadiga tediosa e, assim, me acalmava, tranquilizava. Quando fumava, realmente, viajava para um mundo de ilusões e já não me preocupava mais com nada.

O THC (C21H30O2) , que é encontrado no cânhamo, atua diretamente no sistema nervoso central do viciado, causando entorpecimento, diminuindo a eficácia do desempenho psicomotor e muscular, o mesmo tempo em que dá uma sensação que lembra o bem-estar, com direito a um pacote de euforia, sonolência e no final hipoglicemiamas esse "bem-estar" me custava muito caro...

Principalmente porque minava a confiança que meus pais um dia chegaram a depositar em mim. Preocupado demais  com isso,  porque a possibilidade de alarmar meus pais realmente meatormentava , fazia de tudo par não despertar qualquer suspeita dentro de casa. Mas até fisicamente as mudanças em mim eram visíveis. A maconha deixava meus olhos avermelhados, e então eu pingava colírio neles, porque isso me ajudava a mascarar minha condição, fazendo meus olhos ficarem limpos e claros. 

Essa combinação de substancias tóxicas (tíner, cigarro, acetona e outros produtos, como a resina, usados na fabricação de piscinas) era o que me dava a tão desejada brisa. Só que essa mesma brisa produzia um efeito rebote no meu rendimento escolar, e assim eu só conseguia passar de ano colando dos colegas.

Depois de sair do ensino médio, passei no vestibular para ciências contábeis, que só cursei até o quarto período (segundo ano do curso). Não fui reprovado em nenhuma matéria, mas tudo só rolava na base da cola. Não aprendi nada_ passava nas matérias colando, porque queria mostrar aos meus pais que estava seguindo todas as suas recomendações. Só não entendi na época que as recomendações deles não incluíam essa farsa.

Mas o importante para mim é que eu fazia parte de um grupo de "amigos descolados". Eu, que era conhecido como Formigão, ou Cabecão_ porque aguentava altas quantidades de droga sem maiores consequências_, tinha como principal amigo o Luciano, que o pessoal conhecia como Luciano Farinha, ou Lu F. E não era só isso_ eu já conquistara, acima de tudo, acesso as meninas da classe média alta. Amparado pelos entorpecentes, consegui me aproximar daquelas jovens bonitas e liberadas. Acima de tudo, eram as características delas que me contagiavam, fazendo com que me sentisse muito bem. 

" Nós usamos muita droga juntos. Maconha, cocaína, chá de cogumelo e lança-perfume. Fazíamos farra em motéis e no sítio do meu pai. a gente comprava quilos de cocaína pura para poder cheirar. Nós medíamos as carreiras de cocaína com uma trena. O Formigão aguentava cheirar mais de um metro."

Lu F à Folha Universal

Continua....

Estarei postando no decorrer desta semana o restante desse capitulo. Meu tempo é muito curto . Espero que gostei desse livro, e ajude voce que precisa ou conhece alguem que se encontra nos vícios.



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⏰ Última atualização: Jul 25, 2016 ⏰

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