Aberrações de Titã

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— Tem visto o "pálido ponto azul" com que frequência? — Perguntou Omaírp, debruçado em suas sombrias anotações clínicas.

— Quase diariamente, nos meus sonhos. — Responde Ardnassac deitada no divã.

— Bem, fale-me sobre o que vê.

— Eu vejo o sol crescendo, até queimar meus olhos. Sinto minhas próprias cinzas me sufocarem. Tudo fazendo parte de um único movimento. É tão violento, amarelo. Todo o vazio transformando-se em fogo.

— E o ponto azul?

— Cinzento, depois alaranjado depois desaparece.

— Sim, entendo. – O tom desinteressado de Omaírp a entristece.

— Não acredita?! – Virou e o encarou-o.

— Como? – Sem levantar os olhos das anotações.

— Perguntei se você acredita em mim.

— O que me interessa é se você acredita no que diz?

— Claro que eu acredito. Acontecerá, eu sei!

Os olhos voltam as anotações.

— Não há como provar. Você está tendo alucinações.

— Não haverá nada para provar se eu estiver certa. Pois são previsões! Não sei de onde vem. – Sacudiu-se de suas amarras bem feitas – Nunca vi nada fora daqui. Você me tranca aqui desde... desde sempre. Porque isso? Eu quero sair!

— Já tivemos essa conversa.

— Se eu sair, eu posso melhorar. – quase chorou.

— Se você sair vai apavorar todos com suas alucinações.

— Não, não! É porque eu estou certa? Você tem medo?

— Não! É porque você é uma aberração!

Ardnassac encolheu-se. Seu rosto ficou sereno enquanto olhava pela escotilha. Viu o horizonte de Titã, alaranjado e brilhante como o pomo de Éris.

— Aberro para surdos.

Um alarme toca. Ardnassac sorri.

Aberrações de Titã e outros Contos de Ficção CientíficaOnde histórias criam vida. Descubra agora