Um

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Eu me lembro que era pequena, tão pequena, que não via a borda da mesa. Tinha um globo de neve, eu sempre pensava o quão aquele pinguim era solitário, então sempre aparecia para brincar com ele. Balançava, balançava e balançava, na esperança que ele não se sentisse tão sozinho.

Meu pai percebia que eu não parava de olhar para aquilo, e veio até mim.

— Pois é, filha! Um pinguim preso em seu mundo perfeito, sem pessoas ruins, sem problemas, apenas neve.

Sem entender o que papai estava falando, não dei ouvidos.

×××

Era meu aniversário. Estava fazendo 12 anos e ganhei a minha primeira máquina fotográfica, e alguns filmes. Não parava um segundo de fotografar. Usei os 16 filmes que papai tinha me dado, junto às câmeras.

— Bom dia pai, bom dia mãe — Disse indo em direção à porta.

— Opa, opa mocinha, onde a senhorita pensa que está indo? – Papai perguntou

— Estou indo com a vovó ao shopping, ela disse que queria comprar  um presente para mim

— Então tá, mas volte antes das 4:00 horas. — Falou e voltou-se para o jornal

Balancei a cabeça positivamente, e sai.

×××

Quando cheguei ao shopping, vovó ainda não havia chegado. Entro numa loja de brinquedos, e começo a procurar alguma coisa que me chame atenção. Ao olhar para o lado de fora da loja, me deparo com o Spencer, o menino mais bonito do colégio, ele era mais velho e nunca havia, se quer, olhado para mim. Sai rapidamente da loja. "E se ele resolve olhar para a loja, e me vê aqui?", pensei.

Vovó aparece. Com um cigarro, o que já era uma marca registrada.

— Então, o que vai querer? — Vovó perguntou

Vovó não era mais uma adolescente, mas se vestia como uma. E eu me imaginava igual a ela, quando tivesse uma idade aproximada.

— Estou muito velha, para brincar com essas coisas! — Falei, ainda olhando para o Spencer. Vovó percebeu.

– Deixa eu ver se entendi...  Você está com vergonha de sair da loja com um brinquedo e ele te ver?

— Tá tão na cara assim? — Perguntei aos risos

Saímos da loja, e fomos até a praça de alimentação.

— A senhora leu meus pensamentos, não tomei o café da manhã, sai muito apressada.

— Vou buscar alguma coisa para comer, fique aqui.

Ela saiu. E eu fiquei apenas observando o Spencer, que parecia estar nos seguindo. Eu o observava, morrendo de vontade de falar com ele, mas era muito tímida e nunca iria conseguir trocar nem duas palavras. Vovó, volta, com  duas bandejas e as põe na mesa.

— Por que você não vai lá, e fala com ele?

— Sou muito tímida, não acho que conseguiria falar com ele. Ele é o garoto mais bonito do colégio, e é mais velho. E se...

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