Finalmente o dia da Floração de Yggdrasil chegou e Christian tinha algo a decidir. Algo que nunca passaria por sua cabeça um ano atrás. Será que ele realmente precisava voltar para seu mundo? Tinha de ser agora? Talvez não fizesse mal esperar mais um ano.
Seus pensamentos foram interrompidos quando Pixie que estava fora da cabana o chamou. O homem desceu as escadas sendo seguido por Faye e dando de cara com Titânia, o que deixou ambos desconcertados. Não era todo dia que se recebia a visita da faerie mais importante do reino.
− Chegou o dia – a elfa disse em sua voz hipnótica. – Está pronto?
− Sim – o cavaleiro tentou não gaguejar.
Titânia percebeu isso, assim como percebia tudo.
− Tem certeza? Seu coração parece inquieto.
− Estou bem.
− Pois bem. O dia da floração chegou e neste instante o portal para Mannheim está aberto no fundo do rio atrás de você. Agora... Christian, há um ano eu lhe disse algo que o deixou apreensivo, você se lembra do quê?
Ele se lembrava.
− Você me disse que voltar para minha terra talvez não fosse a melhor escolha. Também me disse que hoje me contaria a razão disso.
− Sim. – A elfa hesitou um pouco, coisa que o homem não achara ser possível. – Sabe, Christian, em seu mundo os humanos acreditam que nós faeries somos imortais. Isso não é verdade. O tempo apenas passa de forma diferente aqui em Alfheim. Eu tenho duzentos e trinta e dois anos, mas vi sua espécie nascer e crescer desde os primórdios.
O homem estava confuso. Muito confuso. O que Titânia dizia parecia fazer sentido e ser insano ao mesmo tempo.
− E-Eu não estou entendendo – ele gaguejou.
A elfa firmou a voz e despejou a verdade de uma vez:
− Christian, o que estou lhe dizendo é que esse ano que você passou aqui, correspondeu a um milênio em seu mundo.
O homem estacou incrédulo. Mil anos? Isso era impossível. Isso queria dizer que tudo que conhecia estava acabado. Sua família, seus amigos, seu rei. Tudo. Uma ira quase incontrolável tomou conta de seu corpo.
− Titânia, você mentiu para mim! – o homem cuspia as palavras. – Você nunca me disse isso. Por que você não me contou? Por que você me deu esperanças?
A elfa permanecia serena diante daquele mar de fúria.
− Christian, você mudou muito desde que chegou aqui. Conheceu muitas coisas novas com as quais nunca sonhara. Responda-me sinceramente: se há um ano eu tivesse lhe dito isto, você acreditaria?
O cavaleiro queria gritar que sim, mas a mera presença da elfa o fazia incapaz de mentir. Ele sabia que não acreditaria. Ele sabia que teria de ver por si mesmo. Ficou em silencio e isso foi resposta o suficiente para ela.
− Desde quando chegou seu destino já estava selado – ela continuou. – Durante este ano eu apenas quis lhe mostrar que existem novos motivos para se viver. – Titânia apontou para Faye e Pixie.
Christian olhou para as duas fadas se sentindo envergonhado. Esquecera-se completamente delas em sua raiva. Elas que salvaram sua vida. Elas que o acolheram durante o último ano. Lembrara que procurava um motivo para ficar, antes da revelação, e agora ali estava ele procurando um motivo para deixar aquele lugar.
− E agora? – ele perguntou, buscando por um conselho piedoso.
− Ora, humano de Mannheim. Viva – A elfa sorriu. – Viva conosco.
O cavaleiro baixou a cabeça e pensou. Pensou em sua família, em seus amigos, em sua terra e em seu rei. Tudo agora era passado. Ergueu os olhos e fitou Faye. Aquela que amava estava ali e agora não havia mais nada os impedindo de ficar juntos. Nem magia, nem dever, nem honra.
− Sim. Viverei – respondeu ainda olhando para a fada.
Ela se aproximou, perguntando:
− Você está bem?
− Sim. É muita coisa pra digerir em tão pouco tempo. Vou sentir falta de minha terra. Queria apenas vê-la mais uma vez.
− Nós podemos ir. O portal ainda está aberto – ela disse. – Voltamos antes dele se fechar.
Christian olhou para Titânia esperançoso. A elfa acenou sorrindo e os alertou:
− Apenas tomem cuidado. Mil anos é muito tempo. Christian, você não vai querer ser visto com essas roupas e Faye... Bem, não acho que seja preciso explicar sua situação.
O homem e a fada assentiram e esta última voou para dentro da cabana, voltando em alguns minutos com dois mantos com capuz. Ambos colocaram as vestimentas e Faye teve de evitar voar a partir de agora.
Titânia sorriu diante das duas figuras encapuzadas e se perguntou se aquilo realmente os faria mais discretos. Deixou a preocupação de lado e se aproximou dos dois erguendo a mão.
Faye e Christian sentiram uma leve brisa soprando de seus pés até suas cabeças e olharam para a elfa confusos.
− Para vocês não se molharem – ela explicou.
Ambos sorriram por causa daquele gesto gentil e Christian disse:
− Titânia, desculpe-me por gritar com você. Eu passei dos limites.
Ela sorriu com a sinceridade que o homem agora demonstrava.
− Humanos e faeries são criaturas governadas pela emoção. Eu não o culpo.
− E obrigado por tudo – ele acrescentou.
Titânia acenou com a cabeça e voltou para sua morada, pois havia mais deveres a serem cumpridos no dia da floração.
− Vamos? – Faye indagou o homem.
− Sim, vamos – Christian respondeu.
Os dois se despediram de Pixie e saltaram no rio, mergulhando até seu fundo em direção à luz.
* * *
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Ponte para Faye
Historia CortaUm cavaleiro bretão acidentalmente viaja para Alfheim, o Reino das Fadas, e conhece Faye, uma fada que o faz questionar se realmente deseja voltar para casa. Obs.: Pessoal, as visualizações das minhas histórias estão aumentando e eu estou muito feli...