Capítulo 01

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Um balde d'água na minha cara me acordou naquele dia. Era minha mãe com seu jeito normal de me chamar para ir à escola. Pelo menos dessa vez não foi um ferro quente.

Sim, todo dia é desse jeito. Eu acordo às 5:30 da manhã, tenho 30 minutos para me arrumar, daí vem uma van que me leva pra escola em outra cidade.

Leitores que não entenderam: Pra que em outra cidade? Na sua cidade não tem escola?

Não, imagina. É claro que tem. Mas é tudo aquelas escolinhas que não ensinam nada. Aí eu tenho que viajar uns 30 quilômetros todos os dias pra estudar numa escola decente. Morar no interior é isso, amigos.

Era a última semana de aula. Estávamos fazendo as provas finais (dããã) e tudo estava bem fácil. Pelo menos pra mim, que sempre fui o nerd da turma.

Pode parecer clichê, mas eu sou o típico nerd geek de óculos, viciado em jogos e que não tem sucesso com as garotas. Eu sou um clichê ambulante.

Aliás, esse até poderia ser o título do livro.

Clichê Ambulante.

Clichê Ambulante.

Clichê Ambulante.

É... não, não. Vai Friendzone mesmo.

*

Bom, eu queria esclarecer uma coisa aqui:

O MEU NOME É NICOLAN! NÃO NICOLAS, NÃO NICOLAU, NÃO NICOTINA. É NICOLAN!

Quase todo mundo fala meu nome errado. E isso aconteceu de novo quando eu cheguei na escola.

- Fala, Nicolas! - era o Roger, um menino que eu só conheço porque ele fez um vídeo que viralizou na internet. No vídeo, ele comia torta de limão... pelo nariz. E botava pra fora pela boca.

Leitores de estômago fraco: Não acredito que um livro vai me fazer vomitar...

É o poder da literatura, amigos!

Enfim, para que não haja erros com o meu nome, me chame de Nick, Nico, ou qualquer outro apelido existente para o meu nome. Ou me chame de Nicolan mesmo se você não for um doente mental.

Dei um gelo legal no Roger, deixei minha irmã mais nova na sala dela - que mais parece um hospício, porque só tem capetinhas ali; as cadeiras não têm cinto de segurança com cadeado à toa - e fui mais à frente, onde ficava minha sala.

- Bom dia, turma! - fui entrando na sala e jogando a mochila em qualquer lugar. - Nossa, tá calor, né? Eu bem que... peraí...

Voltei para a porta e vi a placa em cima: "2º ano Fundamental". Depois, voltei à sala, com muita vergonha, e peguei minha mochila.

- É... eu acho que entrei no 2º ano errado. Hehehehe. Coisas da vida, né? Então... é... tchau!

Saí correndo dali, sob os olhares dos pestinhas que não entenderam nada. Ainda pude ouvir alguém dizer:

- Tamanho cavalo, passa o ano todo estudando e não sabe onde fica a sala. Essa gente daqui é doida!

Talvez ele estivesse certo.

Finalmente cheguei na minha sala (dessa vez a certa) e a primeira pessoa que vi foi ela... a líder de torcida... a deusa grega... a menina mais linda da escola... o monumento loiro...

Leitores impacientes: Vai direto ao ponto, babaca! Quem é essa aí?

Zoe Carter, a menina que me deixou na friendzone no primário. Eu sempre gostei dela, mas tipo... ela não liga. Até hoje minha bunda dói do pé que ela deu. Aaah, mas sonhar não custa nada e...

- Nicolan? NICOLAAAAAAAAN? - a voz estridente da secretária me despertou do transe.

- Ahn? Quê? Quem morreu?

- Ninguém... ainda. Mas há essa possibilidade. Estão te chamando na sala da diretora.

EITAAAAAAA! O que será que é? Tomara que não seja mais uma daquelas sessões de yoga que a Srta. Hills faz com os alunos quando não tem nada melhor pra fazer... ou quando não tem absolutamente NADA pra fazer mesmo.

Apesar de parecer uma pessoa jovem, doce e de bem com a vida, a querida diretora é uma velha coroca muito da tirana. Ex-militar, torturou um monte de gente na ditadura e sempre anda com uma farda do exército expondo umas medalhas que ela ganhou. Até bigode aquela velha tem. Tem costume de puxar nossas orelhas e, como eu já disse, tem mania de fazer sessões de yoga com os alunos. É a contradição em pessoa.

Mas não era yoga, não. Quando entrei na sala dela, meus pais estavam me esperando. Eita.

Pelo menos meu pai tá sem o cinto.


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