Garotos e bancos.

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Um dia estava caminhando em uma rua, cujo nome não me lembro. Sim as ruas também tem nomes.

O dia estava chuvoso na pequena cidade de Corumbaíba. Ela estava em constante evolução econômica. Uma empresa de laticínios ajudou muito nesse desenvolvimento. Italac, se não me falha a memória.

Por ser um dia chuvoso, o céu estava nublado e escuro. Eu vestia uma jaqueta de jeans preto, mas mesmo assim a brisa fria penetrava com facilidade minha derme.

Ao chegar no final da rua, me deparei com uma praça, pequena, porém muito formosa. Havia pequenas flores amarelas, e o gramado estava verde e brilhante. Porém, seus bancos estavam destruídos e poucos estavam em condições de oferecer assento para alguém.

Como de costume, as pessoas dessa cidade não saem muito em dias assim. A cidade parecia abandonada. Logo vi que não. Havia um garoto que estava sentado em um dos bancos da praça, e que, com um gesto me surpreendeu ao me convidar a sentar-se ao seu lado.

Era um garoto franzino, deveria ter uns 10 anos de idade. Vestia uma blusa de frio branca, calça jeans e um tênis social.

Sentei-me por educação. O menino nem sequer olhou em meus olhos, pois eles estavam fixados ao horizonte, cuja neblina trazia consigo a escuridão.

O dia tinha se transformado em poucos minutos em uma noite nostalgiante e fria.

Fiquei ali esperando junto a ele para ver se algo interessante acontecia. Por um momento então seus olhos se viraram aos meus, junto a eles, uma pergunta:

- Hey tio, o que são as palavras?

Respondi então sem muita demora:

- As palavras são o que você é.

O garoto pareceu não entender o que eu disse. Então como de costume de minha pessoa, gosto sempre de forjar uma forma de ensinar alguém a aprender coisas novas. Logo, consegui montar uma linha de raciocínio para explicar tal coisa. Na minha interpretação vital é claro.

- Ora, olhe ao seu redor. Tudo o que vê possui um passado, presente e consequentemente um futuro, principalmente um significado, não à nada no mundo que não haja um nome, um sinal ou uma imagem o qual não o descreva. As pessoas dão as palavras significados, isso nos faz criar comandos dentro de nossa própria mente. Imagine um despertador o qual desperte seu sono a tal horas da manhã. Você não se levanta por instinto, mas algo no seu inconsciente busca uma palavra a qual possa lhe fazer levantar. Seja por ter que ir para a escola ou para simplesmente ter que desligar o despertador. Mesmo que as palavras sejam faladas por um bebê, isso é suficiente para que haja um significado para ele.

O menino continuou com suas perguntas.

- Tio.... as nuvens morrem?

Respondi com surpresa, pois não esperava tal pergunta.

- Apenas se a morte significar algo para você. A morte vem de um significado de deixar de existir.

O garoto novamente olhou para o horizonte fixadamente e me disse.

- Tio, o que a morte significa para você?

Percebi que as nuvens o fascinava então lhe disse.

- As nuvens que tanto te fascina pelo seu tamanho e formas. Eis que então, o vento vem a elas e as levam de sua existência e forma, mudando o seu estado. Não pense que elas se foram ou morreram, pois não há como escapar desse mundo, mesmo se for pela morte; o seu corpo, irá ser enterrado e depois de alguns anos, tudo será dissolvido pelo mundo. Morrer não significa deixar de existir, mas sim, deixar de falar ou agir. Significa mudar o seu estado físico. Mesmo que não esteja mais presente nas vidas das pessoas, a sua essência habitará esse mundo. Mesmo que seu corpo se dissolva em milhares de partículas, você ainda habitaria o mundo. Pois a sua essência é ligada às memórias que você deixou.

O garoto fez um gesto de consentimento com a cabeça e entendeu tudo o que eu disse. Voltou seu olhar para o céu e eu o acompanhei.

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