Sonhos e pesadelos, mundos que encontramos apenas dentro de nosso inconsciente, com certeza sempre me perguntei quão imenso eram esses mundos, nós somos deuses ou somos convidados dentro dos mesmos? Somos nós mesmos que os criamos, então, essa era uma questão que eu sempre me perguntava.
Antes de tudo, lhes fazendo uma breve apresentação, me chamo Matthew Taylor Walker, e irei relatar as experiências que tive a oportunidade (e o desprazer) de passar. Quer você acredite ou não, essa história que vou lhe contar não se trata de uma ficção ou fantasia, infelizmente, eu realmente gostaria que tudo fosse criado pela minha fértil imaginação, mas sem mais de longas, vamos iniciar o meu relato. Tudo começou no meu país de origem, Inglaterra, na cidade de Ripon, em 2011, já venho a revelar que sempre fui uma pessoa de poucas novidades no dia a dia, seguia uma rotina bem comum, resumida em quatro etapas: acordar, estudar e dormir. A vida em Ripon era muito pacata e a rotina me levava à beira da insanidade, mas creio que se eu pudesse me comunicar com meu eu no passado, lhe diria para se contentar com a mesmice já que o que viria depois não seria nada agradável.
Falando mais sobre a minha pessoa, especificamente na infância, eu sempre fui alguém pouco cercado de outras pessoas, não por vontade própria, porém poucos se interessavam em se aproximar de mim, isso de certa forma me causava profunda tristeza e minha vida era banhada em uma negra melancolia, a única criança que estava sempre ao meu lado era meu melhor amigo, Joel Johnson, ou como eu o chamava, Joe, fisicamente éramos muito semelhantes, ambos altos, esguios, cabelos de comprimento médio, até mesmo nossos traços faciais nos assemelhavam muito, nossas principais diferenças se dariam pela franja que eu possuía e ele não, e pela cor de nossos olhos, castanhos os meus e verde-claro os dele, atualmente nossas diferenças são mais aparentes, porém não acho necessário contar-lhes agora. Graças a Joe, eu não era completamente excluso de ter um convívio social, porém ainda assim minha vida se passava na melancolia, e minha mãe, já que meu pai havia falecido pouco tempo depois do meu nascimento, se preocupava como resultaria meu desenvolvimento futuro, se essa solidão e melancolia me atrapalharia no meu desempenho profissional, apesar de ter sempre tido boas notas mesmo não sendo maravilhado com companhias durante o tempo escolar.
Com o decorrer dessa época, acabei presenciando experiências que acabaram dando mais preocupações aos meus familiares, eu comecei a ter contato com algo que não era deste mundo, sempre que eu olhasse em alguma superfície refletora, como espelhos e até mesmo poças d'água, eu podia ver algo completamente obscuro nela me observando, seus pelos eram tão negros que eu mal podia enxergar seu corpo com clareza, as principais partes observáveis eram seus olhos e seus dentes afiados, ambos emitiam uma ofuscadora luz naquela escuridão, porém não era apenas um ser que era possível avistar, haviam vários de tamanhos e formas diferentes, porém nunca era possível observar claramente suas anatomias e seus rostos. Devido a minha infância solitária e principalmente durante as ausências de Joe, nos momentos que a solidão era mais sofrida, eu acabei por começar buscar reflexos pra poder observar essas criaturas, apesar de seus olhos e dentes medonhos e suas pelagens negras como um urso, eu não possuía medo algum deles, pelo contrário, com o passar do tempo acabei me acostumando a observá-los e sentia que eles também se acostumaram comigo, as vezes pareciam querer fugir do lugar que habitavam e corriam em direção a mim, porém nunca conseguiam passar do reflexo.
Como era de se esperar, meu contato com esses seres fez com que eu fosse considerado problemático perante as outras pessoas, e Joe e até mesmo meus pais se afastaram de mim; Joe não acreditava quando lhe contava sobre meus "amigos", e meus parentes quando lhes contei, de início acharam normal pois é comum e saudável uma criança criar amigos imaginários, porém com o decorrer dos anos começaram a me levar em psicólogos e psiquiatras para analisar o meu caso, muitos receitaram remédios de controle emocional para fazer com que eu parasse de ter essas "alucinações", minha pobre mãe já estava começando a enlouquecer pois percebia que mesmo tomando os medicamentos eu ainda interagia com os vidros e espelhos, então quando percebi seu descontentamento com essa questão, passei a ignorar as criaturas, isso parece ter agido negativamente nas mesmas, começaram a ter comportamentos agressivos e sempre que eu as avistava pareciam estar desejando me atacar, enquanto realizavam ferozes investidas em minha direção, isso com toda certeza me colocava em pânico, porém ainda assim permanecia a ignorá-las para não dar mais desgosto para minha mãe, apesar que uma parte de mim se sentia segura em saber que eles jamais conseguiriam sair dali.
Após várias e várias vezes observando os mesmos tentarem chegar até mim, notei que eles estavam mutilando uns aos outros, era uma cena tão horrorosa que me deixava angustiado de observar, e com o passar do tempo eu não conseguia mais fingir que não estava os vendo quando estava próximo de alguém, e novamente fui taxado como louco. Meus familiares sugeriram me internar, e eu consciente de que isso não era nenhum tipo de devaneio ou loucura, recusei a internação, eles conversaram entre si e resolveram me internar a força, por sorte eu havia escutado suas conversas a tempo, num momento de desespero surgiu-me a ideia de fugir, e foi isso que fiz.
Foi um breve momento da minha vida, talvez apenas uma semana, eu não podia contar com a ajuda de Joe, este o qual havia se afastado de mim por minhas "experiências" as quais o relatava, então fugi para a casa de uma outra pessoa, uma pessoa que acreditava no que eu contava, não importando o quão bizarro fosse, na realidade eu não tinha como saber se ela realmente acreditava ou apenas fingia acreditar para me confortar, mas de qualquer forma, sempre quando estava ao seu lado sentia um conforto inacreditável. Me escondi por uma semana na casa dela e não sabia o que fazer da minha vida após isso, não podia continuar ali devido aos seus pais, eles não sabiam que eu tinha fugido então logo que descobrissem me levariam de volta, e também eu tinha medo de colocar ela em perigo de alguma maneira.
Passou se essa semana e eu resolvi sair procurando outro lugar para me hospedar um pouco, mesmo com tanta insistência por parte da que havia me abrigado antes, não tinha coragem de envolve-la em algo que poderia a prejudicar, então fui para ferroviária e fiquei esperando o trem chegar para ir bem longe na esperança de encontrar um lugar. Era uma tarde de outono, eu estava sentado ao aguardo do trem, as folhas das árvores estavam secas e caindo devido ao vento forte que as balançavam, o sol brilhava no fim das casas e prédios e não demoraria para o mesmo se por, era uma cena linda de se observar, parecia uma cena final de um triste filme de tragédia, onde o protagonista passa por várias perdas para, no final, terminar naquele lugar confortante sabendo que talvez ali tudo mudaria para melhor; quem dera fosse algo assim, eu não sabia, mas, naquele momento realmente seria a hora em que tudo mudaria, mas não para melhor...
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O Apócrifa dos Pesadelos
FantasySonhos e pesadelos, antíteses um do outro, nós estamos à beira de sua margem e sempre possuímos breve contato com os mesmos, porém, o que aconteceria se rompessem a barreira que nos divide? Pesadelos viriam à tona? Ou seriam simplesmente ilusões mos...