Parte 2

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Após apresentar documentos, Leiko e Charles adentraram o bordel. O lugar era espaçoso, com um bar à direita, cheio de luzes e garrafas das mais variadas bebidas e formas na parede, servindo dois clientes claramente virados e cansados demais para voltar a encarar a realidade do mundo lá fora. À frente haviam mesas e mais mesas, com um grande palco que se estendia do fundo do salão até o meio, de forma triangular. As luzes acessas eram poucas e rosadas, sendo interrompidas lentamente por um azul que conseguia passar as sensações de que o lugar era tão caro quanto era sinistro. Para Leiko sempre houve algo de sinistro em bordéis: talvez a ideia de comprar algo tão facilmente conquistável ou a venda de algo tão íntimo e pessoal. Mas suas indagações acabavam sempre com a frase "se é seu, você tem o direito de vender".

- Eu vou falar com o dono do local, me espere aqui, ok? - disse Charles enquanto se encaminhava para os fundos do salão.

- Não quer um guarda-costas?

- Se eu fosse querer um contrataria um armário, não um criado mudo. - Sem virar para trás, Charles sorriu com sua primeira vitória contra sua amiga. Ele se esforçou para abraçar tal raro sorriso.

Leiko continou observando o local e estudando o mesmo. Haviam vários campos gravitacionais, onde as empregadas poderiam dançar enquanto flutuavam no ar. Também havia uma moça corpulenta com um uniforme modesto passando com um aspirador de pó no local. Leiko puxou uma cadeira e se acomodou, puxou um cigarro e se escorou na mesa, sentindo saudades da sua cama.

Dez minutos depois Charles voltou acompanhado de um homem de estatura média (que parecia minúsculo ao lado de seu contratado) extremamente bem vestido. Seu cabelo era uma grande franja que vinha do lado esquerdo da sua cabeça até o queixo no lado direito, raspado nos lados. Nenhum pelo no rosto e a falta de sobrancelhas faziam dele alguém extremamente incômodo de se encarar. Se esse era o objetivo, Leiko julgou que esse cara sabia muito bem o que estava fazendo. Ou pelo menos ia no cabeleireiro certo.

- Leiko, esse é...

- Oswaldo Mill. Um prazer, senhorita. - Sua voz era sedosa e havia um tipo de sotaque forçado que deixava tudo parecendo melaço. Melaço sendo jogando nos seus olhos e invadindo cada cavidade que encontrar pelo caminho.

- Prazer, Sr. Mill, meu nome é Leiko. - disse ela sem se levantar.

- Por favor, me chame de Oswaldo. Charles disse que vocês compraram o caso do antigo investigador. Espero poder os ajudar como puder para resolvermos esse problema.

Parecia que uma agulha de pelo menos três quilômetros havia atravessado a traqueia de Charles em poucos segundos, mas era apenas o olhar de sua colega. Ele não era muito fã de cigarros mas a ansiedade agora o faria comprar uma fábrica para si.

- Sim, Sr. Mill. Toda ajuda será bem vinda. - Doeu. Não foi uma dor física propriamente dita, mas doeu bastante em Leiko dar aquele sorriso para o dono da casa noturna. Eram poucos os sorrisos que ela gostava de gastar por dia e não queria ter de gastar um deles agora. Mas não foi ela quem escreveu as regras de "como tratar seu empregador", ela só as seguia.

- Por favor, sigam-me. - Oswaldo virou-se e seguiu até o fundo do salão, pela mesma porta na qual Charles entrou anteriormente. Leiko seguiu junto de Charles atrás do seu novo contratante.

Charles até pensou em comentar algo mas ao olhar pra baixo na direção de Leiko, sentiu como se fosse ser esmurrado por uma gang de punks mutantes. A ideia rapidamente sumiu de sua cabeça.

Andaram algum tempo por corredores estreitos com poucas portas até chegar em uma escada que os levou para o subterrâneo do estabelecimento. Lá havia um tipo de escritório com uma mesa de madeira muito bem conservada com um pano branco por cima, escondendo vários volumes pequenos. Nas paredes, prateleiras metálicas com livros antigos ainda de papel misturados a tablets diversos. O chão era de terracota e ajudava a deixar a sala fria como um freezer.

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⏰ Última atualização: Jul 22, 2016 ⏰

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