1. Seja bem vinda, Mallu.
Tenho a impressão de que nunca mais irá parar de chover. Ou que nunca mais irei conseguir sair do seu carro, estou bem irritada, preciso confessar. Hora por ter pavor em ficar muito tempo dentro de um carro, hora por mamãe não parar de falar, hora pela mesma decidir de uma hora para outra "mudar de vida". Acho que nunca vou conseguir aceitar a ideia de que papai não esteja mais entre nós e tampouco, mamãe parecer ter superado isso com apenas quatro meses, o que fora suficiente para que de uma hora para outra, ela decidi-se por si só, mudar de casa. Isso mesmo, neste exato momento estou em um processo de mudança. A menina quieta da cidade quieta está prestes a se tornar a menina quieta da cidade barulhenta. Quero sumir!
No carro estão mamãe, uma mulher de idade média que hora se acha jovem ate demais, hora bem velha, e hora apenas uma mãe perdida tentando se encontrar. No banco do passageiro está minha irmã Fabi, que acabará de completar seus 18 anos e que desde então vem se achando o máximo, o que a torna bem chata. No banco de trás se encontra a solitária, e eu mesma, Maria Luiza, Malu por favor. A tímida e observadora garota de 16 anos que fora obrigada a abandonar todos os seus amigos, três para ser mais exata, e que ainda quer sumir.
Vejo os labios de mamãe se moverem, acho que ela está falando comigo mas a musica que soa em meus ouvidos por conta dos fones, não permite que eu a escute, aposto que ela deve estar falando outra vez sobre como nossa vida se tornará melhor. Como se uma casa nova em uma cidade nova fizesse algum tipo de milagre.
Vou fingir estar dormindo, talvez assim ela me deixe um pouco.
Acordo com um tapa leve na cabeça, é a Fabi.
- Chegamos, pirralha.
Tradução: "Olha, este é o inferno, vamos vê-lo de perto."
Eu nunca havia visto nossa nova casa de perto, só em fotos. Sempre inventava uma desculpa para mamãe, tentando fugir ao máximo desse lugar. Tinha uma tamanha sorte, pois ela acreditava em todas. A casa é aparentemente bonita vista de fora, uma casa pequena mas admirável. Parei em frente ao portão e fiquei tentando imaginar como a minha vida seria de agora para frente mas a unica coisa que vi, foi um buraco negro onde não é possível enxergar absolutamente nada. Respirei fundo e entrei carregando apenas minha mochila. Assim que entrei, a primeira parte da casa que encontro é a sala, e na mesma haviam apenas dois sofás e uma poltrona, ambos vermelhos e cobertos por caixas e sacolas. A luz do dia não consegue iluminar muito bem a sala pelo que vejo, uma pena. Bem ao canto, encontro uma escada que provavelmente dê diretamente aos dormitórios. Como os nossas coisas ainda não estão organizadas pela casa, fica difícil ao menos tentar imaginar um lugar agradavél de se morar. Comparada a nossa imensa casa antiga, essa nova parece ser um cubículo, mas acredito que após arrumada, seja um lugar gostoso de se viver. Ao menos a casa devesse cumprir com isso. Um pequeno muro azuleijado de cor branca divide a sala da cozinha, onde nela se encontra os móveis de cor clara. Pulei a parte chata de conhecer a cozinha e subi as escadas, em uma curiosidade estranha de conhecer o meu futuro quarto, embora ainda não saiba se ele será só meu ou não. Subindo as escadas de mamore de cor bege, pude ver uma pequena janela que consegue iluminar bem a escada com a luz do sol, e como adoro essa luz natural, foi quase como ver uma luz no fim do túnel. Os dormitórios se encontram em um enorme corredor, do lado esquerdo pude ver duas portas e do direito três, suponhei que três dessas portas fossem quartos, e respirei aliviada por não precisar dormir com a chata, quero dizer, minha irmã Fabi. Caminhei primeiramente pelo lado direito do corredor me sentindo em algum filme de terror. Passando os dedos pelas paredes, notei que as mesmas se encontravam com texturas leves em tons beges, parecidos com os da escada, me agrada as cores desta casa. Abri a primeira porta e encontrei um banheiro bem pequeno mas arrumado, a primeira parte arrumada da casa que encontro, o banheiro é bem iluminado e em cores claras também. Um pouco mais a frente, vejo a porta entreaberta e espio mamãe olhando pela janela do quarto que suponho ser seu, ela parecia estar com a mente bem distante, optei por não atrapalha-la. No fim do corredor, havia uma porta de madeira bem forte e vernizada, parei de frente, tentando imaginar o que a imensa porta escondia, coisas bem loucas e sem sentido vieram a minha cabeça, mas para minha decepção, a porta estava trancada. Dei minha volta para conhecer o restante dos respectivos quartos e dou de cara com a minha mãe que me olha toda sorridente e animada com a casa, ja começando com o que de melhor ela sabe fazer: Falar sem parar.
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Era Uma Vez... Mallu
RandomMallu, uma garota tímida de 16 anos que recentemente perdeu o pai, e foi obrigada a ir morar com sua mãe e sua irmã em uma cidade totalmente nova e grande. Será que ela irá conseguir aguentar os acontecimentos que seu futuro lhe aguarda? A cidade pa...