Querida Emma,
Prometi a mim mesma que conseguiria fazer isso, mas é tão difícil! Decidi que precisava de algo para me distrair e me fazer parar de pensar naquela noite. Aquela em que tudo acabou. Ou começou.
Quando nossa mãe disse que eu deveria conversar com alguém para contar sobre meus problemas e pensamentos acho que ela imaginava que eu procuraria uma psicóloga ou algo do tipo, mas quem me entende mais do que você, não é mesmo? Não sei se existe algum tipo de Caixa de Correio dos Mortos aí no céu, mas gosto de acreditar que você vai ler essas cartas em algum lugar.
Nosso pai foi embora, ele se mudou para o Canadá há mais ou menos 1 mês. Acho que ele ficou com raiva por eu não ter falado nada sobre o que aconteceu com você no telhado. Porque a culpa foi minha. Depois que você morreu eu passei alguns meses sem falar, os médicos dizem que eu fiquei em estado de choque e negação. A verdade é que, eu não sabia o que falar. Porque doeu Emma, doeu tanto que eu achei que eu fosse explodir, preferia ter ido no seu lugar.
Eu sempre tive certeza de que você era a melhor irmã do mundo. Minha hora preferida do dia era antes de dormir. Eu ficava acordada, deitada na minha cama, esperando você chegar de alguma festa que havia ido escondida dos nossos pais, e quando eu ouvia os passo cuidadosos em direção ao quarto ao lado - que era o seu - eu sabia que podia dormir, porque você estava bem. Mas as vezes - e eu amava quando isso acontecia - você entrava no meu quarto devagar e se deitava ao meu lado na cama pequena de solteiro. Você sempre estava suada e ofegante, com as cabelos ruivos que puxou da mamãe bagunçados e um sorriso bobo no rosto.
- Está acordada? - Não precisava me perguntar, porque eu sempre estava, apenas te esperando. Então eu sentia seu hálito quente de bebida na minha bochecha, e eu adorava, significava que você estava perto, parecia que estávamos nos protegendo. Eu apenas balançava minha cabeça e você sorria. - Hoje foi incrível! - E era mesmo, sempre, todas as vezes. Porque com você tinha que ser, ou estava tudo perdido. Você me contava as histórias, dos carros velozes, das festas, dos garotos, e eu sentia como se estivesse lá também, podia ver tudo no teto do meu quarto. Algumas vezes você pegava seu celular e me dava um lado do fone de ouvido, e dizia: - Você precisa ouvir essa música. - Elas sempre eram maravilhosas! Deus, eu amava aquelas músicas tanto quanto você amava Kurt Cobain.
Todos te adoravam Emma, porque você era perfeita! Era linda, engraçada, inteligente, divertida e simpática. Eu adorava dizer que era sua irmã mais nova, gostava de ser sua sombra. Mas agora eu preciso de você aqui, porque eu estou crescendo, amanhã é meu primeiro dia no ensino médio, e eu estou surtando. Não sei o que vestir, não sei como agir. Não sou como você: confiante e extrovertida. Sou tímida e minha única amiga depois que você se foi é a Dona Valentina que vem fazer a faxina em casa 1 vez por semana. Saí de nossa antiga escola, porque lá todos me olhavam com aqueles olhares de pena que eu tanto odeio, e queriam sempre me agradar, ficavam medindo o que falar perto de mim, os professores me davam notas altas e mesmo quando eu tinha meus surtos - coisa que tenho bastante ultimamente - eles fingiam que estava tudo bem. Mas não estava. Nunca vai estar.
A mamãe está triste, ela quase não fala, e constantemente eu a escuto se trancar no quarto e chorar. Ela sempre diz que está bem, mas eu sei que ela está mentindo, e ela também sabe, porque eu conto a mesma mentira. Ela não faz mais suas famosas panquecas, nem vai me dar boa noite na porta do quarto, ela se quer canta mais. A casa é tão silenciosa sem você e o papai, escuto apenas nossos fantasmas e a sua voz pelo corredor.
Eu não consigo dormir Emma. Sempre que fecho os olhos eu vejo aquele maldito telhado, e te vejo também. Você está chorando. E quase parece que está voando, como um anjo. Você jurou que nunca me deixaria, mas mesmo assim se foi. Porque? Porque me abandonou aqui? Seja lá qual for o motivo, por favor, volte pra mim.
Sinto sua falta, Emma.
Com amor, Teresa.
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Teresa e as Cartas de Amor
Teen Fiction"Ele é problema ambulante, mas talvez seja isso que eu ame nele. A adrenalina e a emoção que eu sinto apenas de vê-lo, fazem eu me sentir viva. Sinto que começo a fazer sentido quando estou com ele. Lembro que ar não é apenas algo que se respira. El...