Culpa. Definida pelo dicionário como o estado arrependido pela responsabilidade de uma ofensa, real ou imaginária. Dean desejava que tudo fosse criação da sua cabeça. Queria, com todas as suas forças, que não tivesse nenhuma responsabilidade sob o que ocorreu. Mas a verdade é que ele era, de fato, a causa de tudo o que houve. Se não tivesse deixado Castiel sozinho, se não tivesse expulsado-o do Bunker. Se tivesse sido um bom amigo e ajudado-o a seguir em frente. De fato, as coisas poderiam estar diferentes agora. Mas, nesse momento, esse sentimento não serve de muito. Não tem como voltar atrás. Cas, o seu Cas, tinha caído e, nesse momento, tudo que há são as lembranças da última vez em que se falaram.
Uma semana atrás:
Dean ouviu o telefone tocar. Sorriu ao ver o nome no visor e atendeu. Uma súbita alegria invadindo seu peito e transbordando pela sua voz.
"Hey, Cas!"
"Dean." A voz do ex - anjo soou rouca, como se ele tivesse chorado por horas. A preocupação substituiu a alegria em questão de segundos. Algo tinha acontecido.
"O que hou-"
"Shh, deixe-me falar, Dean." Pediu com a voz baixa e Dean cedeu. "Há alguns anos atrás eu recebi uma ordem do Senhor. Eu deveria ir ao inferno e resgatar um homem que lá estava. Eu deveria ir, porque, segundo os anjos, você estava incluído nos planos de Deus. Devo confessar que não foi uma tarefa fácil, mas eu a aceitei. Aceitei porque esse era o meu trabalho, e eu, como um soldado, deveria cumpri-lo." Uma pausa foi feita e o ouviu um longo suspiro do outro lado da linha. "Quando eu cheguei lá, você estava torturando a alma de uma mulher. E foi ai que surgiu uma grande interrogação na minha mente: se você era um homem justo, por que estava torturando uma alma? Mas eu juro, por qualquer coisa que se possa jurar, que todas as dúvidas que eu tinha sumiram no momento em que você percebeu a minha presença naquele lugar horrendo. Eu me aproximei cautelosamente e no fundo do seus olhos cor de esmeralda, eu vi um pequeno fio de esperança. Então eu segurei em seu braço e você se afastou. Me aproximei novamente e toquei na sua testa, fazendo que você dormisse e sonhasse com algo bom. Eu te peguei em meus braços e sai com você daquele lugar. Não foi fácil mas no final acabou tudo bem. Acabou tudo bem porque você voltou para onde pertencia. Você estava onde deveria estar."
"Cas, onde você quer chegar com isso?" perguntou Dean um pouco assustado. Não se recordava de nada e, definitivamente, essa história explicava a marca em seu braço.
"Eu ainda não terminei. Bem, com o passar do tempo nós criamos uma amizade forte. Você me tratava como se eu fosse da família e eu não poderia estar mais feliz. Nós enfrentamos o Apocalipse e eu assisti você desafiando todas as "leis" bíblicas existentes. Eu, você, Sam, Bobby, Jo e Ellen salvamos o mundo. Você entende a grandiosidade disso, Dean? Você salvou vidas. E mesmo depois disso você continuou se culpando e carregando todas as mortes de seus amigos e da sua família nas costas. Você estava sofrendo tanto quando viu que Sam tinha ido para a jaula e que provavelmente nunca voltaria. Mas ele voltou, sem alma, o que fez você pedir a morte para recolocá-la onde ela pertencia. Eu fiz muitas burradas, não? Me aliei à Crowley e causei todo aquele caos. E nós fomos para o purgatório. Você acredita que eu estava feliz, lá? Quero dizer, não exatamente. Eu estava feliz porque era uma chance de me redimir, de pagar por todos os meus pecados. E eu o fiz. Quando você passou pelo portal eu me senti aliviado. Aliviado porque você não corria mais o risco de ser morto por algo horrível." Mais uma pausa e um suspiro entrecortado que veio de Castiel.
"Naomi me tirou de lá e me fez fazer mais coisas ruins. Eu as fiz e eu quase te matei naquela Cripta. Eu não o fiz porque você disse quatro palavras que me despertaram. Você me fez recordar de quem eu era. Eu me lembro perfeitamente: 'Eu preciso de você'. Foi quando eu realmente compreendi. Eu, Castiel, o anjo que ajudou os Winchester à salvar o mundo do Apocalipse, o anjo que fez os irmãos caírem, estava apaixonado pelo protegido. Sim, eu compreendi que estava apaixonado por você, Dean." Agora o que se podia ouvir era um suspiro aliviado saindo dos lábios de Castiel.
Dean estava confuso, assustado, surpreso. Não conseguia transformar seus pensamentos em palavras.
"Minhas desculpas se eu te assustei com os meus sentimentos em algum momento ou se você se sentiu desconfortável com as minhas palavras. Mas a verdade é que eu estou tão aliviado por ter te contado isso. Eu sinto como se tivesse arrancado um peso das minhas costas. E por favor, não pense em nenhum momento que você não é digno dos meus sentimentos porque você é, Dean. Você é um dos poucos homens que eu conheço, mas creio que é um dos mais justos. O Senhor não errou quando disse que você precisava sair daquele lugar horrível."
As respirações na linha eram a única coisa que se ouvia. Castiel estava focado em aproveitar os últimos minutos com Dean. Estava tudo bem, ele sabia. O silêncio entre eles nunca os incomodou. Era confortável. Mas o ex-anjo sentia que precisava traduzir seus sentimentos da forma mais humana que conhecia. E o fez.
" Eu amo você." As três palavras saíram junto com as lágrimas que escorreram silenciosamente dos seus olhos. Um alívio percorreu o seu peito porque confessava a verdade e a pureza de seu amor. Pela primeira vez em sua longa existência sentia que estava fazendo algo importante. Porque era Dean. E Dean merecia saber.
E então Castiel ouviu um suspiro. Uma pausa. Um sussurro quase inaudível em um tom tímido raramente usado por um Winchester.
"Eu te amo mais."
"Se você diz."
E então, um estrondo foi ouvido.
A ligação, encerrada.
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If Say So
FanfictionNa qual Castiel confessa os seus sentimentos por Dean antes de desistir de sua luta.