...saiu cambaleando do bar.
Penso um pouco se vou ou não atrás dele, ele esta meio acabado demais, não sei se vou aguentar olhar para ele desse jeito, no fundo ainda acho que é o mesmo touquinha de sempre, só um pouco diferente demais.
Por fim decido ir atrás dele,corro até a saida na esperança de o achar antes que ele seja atropelado ou que entre no carro e acabe atropelando alguém. Mas ele não seria capaz disso, eu o conheço e ele não iria por a vida de outra pessoa em risco.
Vejo ele parado ao lado de um carro preto procurando as chaves no bolso,bom foram quase dez anos sem nos ver, eu posso estar mesmo enganada e ele seria mesmo capaz de dirigir completamente bebado. Corri até ele e segurei em sua mão.
-Anthony, você me parece muito bebado,talvez seja melhor eu te levar para sua casa, não pode dirigir assim. -Tomei as chaves da mão dele e ele me encarou.
-Esqueci Lali...Lais, eu me viro.-Falou meio embriagado, mas eu percebi que ele ia me chamar de Lalinha, porque não chamou, talvez tenha mudado mesmo. Tudo bem eu já não me importo TANTO assim.
-Não,nem pensar. Vem, vamos!.-Disse firme. O puxei até o meu carro e o ajudei a entrar. Eu me lembro de tantas senas como essa quando tinhamos quinze anos, mas juro essa não me traz alegria como aquelas trouxeram. Tempos em que eu o levava para casa no carro de uma amiga. Éramos mesmo uma boa dupla, Anthony e eu.
Estavamos na pista principal e eu, claro, não sei onde ele mora, nem mesmo para que lado ir.
-Ei!.-Chamei o despertando, ele olhou para frente e não respondeu.-Onde você esta morando.-Novamente silêncio.-Ah esquece, me dá seu celular que vou ligar para Amanda.-Quando ele ouviu o nome da esposa quase teve um enfarte.
-Você não soube?.-Ele parecia mesmo triste, e eu, como eu já havia dito em algum momento atrás, me sinto um vilão de novela água com açúcar, no fundo do meu coração eu pedia bem baixinho para eles terem se separado.
-Não, o que?.-Disse descontraída.
Ele abaixou a cabeça e pude ver uma lágrima rolar.-Ela me deixou.- era isso que eu queria ouvir, mas ele disse tão triste, isso parece doer tanto. Eu gostaria de não ter ouvido isso. Prefiro ele longe e feliz, que tão perto e triste.
Eu sou mesmo uma egoísta por querer que eles se separem. Teria evitado toda essa sena se eu tivesse escutado até o fim a mãe de Anthony a uns dias atrás. Ela me ligou dizendo que precisava de ajuda, que Anthony estava mal e não parava de beber, estava distante. Entre outras coisas relevantes. Ele tinha mulher ela poderia resolver isso, era o que eu achava.Não perguntei mais nada e o levei para minha casa. Ele não disse nada, eu abri a porta e entramos, ele ainda não disse nada.
-É melhor você ir tomar um banho, vai passar toda essa embriaguez.-Ele ainda não se pronunciou e eu não esperava isso mesmo. O guiei até o banheiro e sai.
Fui procurar pela casa uma roupa masculino e quando finalmente achei, percebi que procurava a muito tempo. Estou sentada no sofá e ja passou uma hora ,será que o banho não já tinha acabado. Fui até o banheiro e bati na porta e nada, nem barulho de água. Fiquei preocupada, do jeito que ele estava poderia ter se desequilibrado e batido a cabeça. Peguei a chave reserva e abri a porta, foi como levar uma facada no coração, ele estava todo ensanguentado, pulsos cortados. Parece mentira ou algo que um rapaz de vinte e cinco anos não iria fazer, mas na verdade é bem comum.
Corri para o telefone, o que adiantava agarrar ele e gritar"Por que??? Porque??". Liguei para ambulâncias, sim, mais de uma, mais de uma vez.
Voltei para o banheiro e verifiquei os pulsos, estavam horríveis, como ele achou uma lâmina? Devia ter pensado em se matar a muito tempo, não importa, agora que vejo quanto ele se afundou, o quanto ele esta perdido, é meu dever ajudar.
A ambulância chegou e eu não parava de chorar.
-Ele vai ficar bem?.-Perguntei chorosa.
-Ele perdeu muito sangue e não esta respondendo, vamos levar ele ao hospital e lá você terá maiores informações.-Disse o paramédico um pouco apressado demais por estar levando a maca onde Anthony estava deitado, para a ambulância.
(...)
Ele já esta dormindo a dois dias. As medições fizeram efeito e ele teve que fazer uma transfusão de sangue. Apesar de todo o perigo ter passado eu não me conformo com essa situação. Liguei para a mãe de Anthony, ela contou tudo. Disse que ele tentou se matar enquanto estava com ela, tinha ficado louco. Disse ela que isso é o que faz o amor, ele ama Amanda com todas as forças e por isso ficou desse jeito.Fiquei um pouco abalada mas não disse nada, como já havia dito ao touquinha quando ele se casou, se ele for feliz eu vou ser também, mas agora ele não esta e vou me comprometer a mudar isso.
No final do segundo dia ele acordou e ficou um pouco bravo. Eu não deixo ele morrer e ele me agradece me chamando de intrometida e arrogante. Disse que ele queria morrer e gritou comigo por não ter deixado ele se libertar. Eu sai da sala depois disso e só voltei agora, ele ainda não vai poder ter alta e uma enfermeira me chamou dizendo que uma pessoa que tenta se matar, não para até conseguir ou achar um motivo para viver. Que eu deveria ser forte e tentar manter ele longe de tudo que fosse pontiagudo ou muito alto.
Assim o fiz.
-Vamos lá touquinha, trouxe algo para você comer.-Disse entrando no quarto.
-Mas que saco, você pode me deixar em paz? Eu não quero você aqui, eu não quero ficar aqui, eu quero morrer! E nunca mais me chame de touquinha!.-Disse firme, eu estava me acostumando e tudo que me limitei a dizer foi; -Coma logo touquinha, tem outros jeitos melhores de se matar que morrer de fome.- Revirei os olhos e ele olhou para mim quando coloquei o prato ao lado dele. Segundos depois ele estava rindo. Ele riu e eu vi aquele sorriso lindo dele, pela primeira vez depois de sua volta, isso pode valer apena.
Ele esta começando a voltar ao normal, eu acho. Mas isso já valeu meu dia e todos os outros que tive que aguentar seu mau humor e tentativas de acabar com a própria vida.
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Quando criança
Conto"-Lais tenho que te contar uma coisa.-Foi assim, sem Lalinha, sem "minha bolinha de neve" e sem mais nem menos." ~Apenas leia~ Não divulgado,escrito somente para; #Desafio3 #EscritoresBR