Capítulo 2

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Metrollice, embora seja cheia de prédios e estruturas um pouco mais avançadas que a maioria das cidades. Ainda tinham pequenas casas, um pouco afastadas das torres. Que tinham o que eu precisava.

Pequenos agricultores e fazendeiros moravam ao redor de Metrollice. E com um gado daquele tamanho, ninguém se preocuparia se uma ou duas vacas ficassem estranhas. Afinal, se eu morder qualquer uma delas, passarei o vírus adiante. Mas não acho que nenhuma vaca vá se transformar em vampiro, por isso, continuo.

Passar pelas cercas que protegem a propriedade foi ridículo de tão fácil. E nenhum dos animais percebeu minha presença. Me aproximei da vaca mais próxima e cravei meus dentes em seu pescoço. A vaca não se moveu, não fez barulho. Ela apenas aceitou que alguém beberia seu sangue, e na pior das hipóteses, ela queimaria assim que tocasse a luz do sol. Mas isso é o de menos. Pelo menos para mim.

Embora vampiros não se alimentem só de sangue. O líquido vermelho ainda é essencial para nós. Após uns dez minutos, eu solto o animal e ela cai no chão, imóvel. Não estava morta, eu conseguia sentir o calor do seu corpo. Mas ficaria assim por um tempo. Limpei minha boca nas roupas, e voltei para a cidade. Ainda era cedo, dez ou onze da noite, algo assim. Eu ainda teria a madrugada inteira para fazer o que quisesse.

Metrollice, diferente de outras noites, estava um pouco agitada. Passei pelas principais ruas da cidade, e sempre vira alguns grupos de pessoas, se movendo de um lado a outro. Mas, as ruas mais esquisitas, também estavam movimentadas. Procurei ser mais cauteloso. Ainda não entendia a cidade direito. Poderia fazer algo errado, e precisar fugir.

Entrei numa rua onde não havia ninguém, a saída da rua era exatamente as pontes onde os sem-teto moravam. Comecei a andar devagar, tentando passar o tempo. Afinal, não existia nada que eu pudesse fazer ali. Percebi então um garoto que entrou na mesma rua que eu, parecia ser dois ou três anos mais velho, não mais que isso. O garoto sangrava, o que fez minha boca salivar, e parecia exausto. Ele conseguiu dar alguns passos antes de desmaiar e cair no chão.

Corri para ajudá-lo, me aproximei com cautela, não queria machucá-lo, e muito menos mordê-lo. Embora o cheiro de sangue humano seja, delicioso. O sangue dele cheirava diferente.

O corpo do garoto havia golpes de faca, o fluxo de sangue era muito intenso eu não sabia como pará-lo. Comecei a ouvir passos e vozes alterados vindo na nossa direção. Provavelmente eram as pessoas que machucaram o garoto.

_ O que merda você fez, moleque?_ Perguntei, sem respostas. O peito do garoto subia e descia levemente. Parecia ter sobrevivido ao que quer que seja isso, por muito pouco.

Pensei em ir embora e deixar o garoto para trás. Afinal, eu não queria me envolver em encrencas tão cedo. Mas assim que soltei o garoto de volta ao chão, sete homens entraram na rua, todos armados com espadas e lanças. Desafiadoramente ameaçadoras. Eu poderia pular em alguma janela, e correr, fugir dos homens. Mas o que me manteve ali, foi por não ser responsável indireto sobre a morte do garoto aos meus pés.

_ O que vocês querem com o garoto?_ Perguntei tentando soar ameaçador. O que pode parecer muito engraçado quando se esta do outro lado da linha. Uma criança de nove anos, enfrentando sete homens armados. E provavelmente todos soldados de Ordem.

_ Você está perdido, criança? Não deveria andar por ai a essa hora, sozinho. Homens maus estão pela cidade, apenas esperando uma chance para fazer algum mal a crianças como você._ Falou um dos homens, sorrindo.

_ Sério? Mas soube também que criaturas noturnas, também estão espalhadas pela cidade. Sugando o sangue de pessoas ruins._ Falei, encarando os homens.

_ Vamos lá, saia da frente. Precisamos ter uma conversinha com seu amigo._ Falou um outro homem apontando para o corpo do garoto.

_ Infelizmente, e aparentemente sem motivo. Eu não vou sair daqui._ Falei._ Se quiserem, vão ter que me tirar a força.

_O que uma criança de oito anos, pode fazer contra sete homens?_ Perguntou o homem que estava a frente dos outros, segurando uma espada longa.

Avancei contra ele rapidamente. A velocidade de um vampiro é alta demais para um humano comum acompanhar. Com um chute tirei a espada de sua mão e com um outro golpe atirei o homem a alguns metros.

_ Nove anos e meio._ Falei._ Eternamente, nove e meio.

*-*-*

A força dos sete homens somados não resultavam em algo muito forte, era patético. A luta acabou antes mesmo de começar, eles nem sequer conseguiram me acertar, e antes do esperado, todos estavam caídos no chão, cinco deles, inconsciente. Os outros dois... bem, eu estava com fome.

Voltei ao garoto caído e o levei dali. Fui então até a ponte, onde todos já dormiam, consegui colocá-lo em um pequeno espaço entre os mendigos do lugar.

Dei dois tapas em seu rosto, para que ele acordasse. Demorou um pouco mais do que eu esperava, mas ele abriu os olhos. O garoto, mesmo manchado de sangue era bonito. Possuía cabelos cor de mel, acompanhados de um par de olhos da mesma tonalidade. Mas não possuía um cheiro humano, pelo menos, não totalmente humano.

_ Por que aqueles caras estavam atrás de você?_ Perguntei, o garoto demorou a responder, estava tentando normalizar a respiração. Então, devagar, ele pôs a mão em seu bolso, e tirou de lá duas bananas, ambas amassadas.

_ Eu... alguém... fome._ Tentou falar, mas ele cuspia uma quantidade considerável de sangue após cada palavra. Mas o contexto ajudou a entender a situação. E embora eu ainda quissese ajudar o garoto, o sangue dele estava muito cheiroso, quase desejável. Eu me levantei pronto para ir embora, mas o garoto segurou minha mão, sem força alguma, claro, se eu quisesse não teria esforço em seguir, mas, ainda assim, o encarei novamente. Seus olhos pareciam querer pedir algo.

_Tenho um... amigo... com fome!_ Falou, usando toda a sua força. A comida não era para ele, era para alguém._ Por favor...

O Encontro das três raçasOnde histórias criam vida. Descubra agora