Faz mais ou menos dois meses que fui mordido. Um mês que precisei fugir da minha cidade natal. O mesmo tempo em que precisei me afastar da minha irmã e do meu pai. E mentiria se dissesse que senti alguma coisa aos lhe dizer adeus. Não consigo sentir mais nada, a não ser fome.
Meu nome é Raphael Evans, sou filho do homem mais poderoso de Jordvand, Cadir Evans. Ou, pelo menos, era, quando era humano.
Fui mordido por um vampiro, uma vampira na verdade. Não consegui controlar minha fome, e ataquei a primeira pessoa que consegui. Infelizmente essa pessoa era minha mãe. Meu pai pirou, tive que fugir da cidade, junto da minha irmã que também tinha sido mordida na mesma ocasião que eu.
Hoje eu moro no meio de Metrollice a maior cidade da região. Longe o suficiente para que eu nunca mais precise ver meu pai, ou minha irmã.
Na ocasião em que fui mordido, eu tinha apenas nove anos de idade. E continuarei com a aparência até o dia da minha morte. Que poderá demorar, tendo em vista que vampiros não morrem por causas naturais.
Pensei que minha vida seria assim, simples e monótona até que alguém um dia me matasse. Porém andando por Metrollice encontrei dois garotos, com problemas iguais aos meus. E juntos viramos uma espécie de família.
Não contarei como fui mordido, ou como matei minha própria mãe para me alimentar. São lembranças dolorosas demais. Porém contarei o que aconteceu comigo, após chegar em metrollice, sozinho, sem dinheiro, e com a aparência de alguém com nove anos.
*-*-*
Era uma noite chuvosa, fria, solitária. Não sei por quanto tempo eu andei para longe de Jordvand, mas não parei ate me sentir seguro. Metrollice, era imponente. Com três grandes torres de ferro no meio da cidade, e toda a cidade em volta. Parecia quase perfeita para abrigar mais um sem-teto. Mas pelo menos ali, eu não devia satisfações a ninguém. Eu precisava apenas me virar sozinho.
Essa parada de vampiro é estranha mas com o tempo você se acostuma. Seus reflexos melhoram, sua força também. É como se a natureza soubesse do que você precisa para sobreviver.
Um dos mitos sobre vampiros é que eles se alimentam somente de sangue. O que não é verdade. Sangue é sim vital para um vampiro, ele precisa de sangue para viver, mas nosso cardápio vai muito além disso, como qualquer outra pessoa.
Por esse motivo, eu invadi uma casa a noite. Estava tudo silencioso, não parecia ter ninguém acordado. Fui rápido o suficiente para pegar algumas frutas e carnes e sair da casa sem ser percebido.
Ao lado das três torres centrais de Metrollice, existe um círculo de pontes que se elevam sobre um rio que liga a cidade ao monumento. O que poucos sabiam é que nessas pontes as pessoas que não tinham casa, se abrigavam. Eu não fui uma exceção. Assim que comi, fui procurar um lugar para passar a noite, e minha procura por abrigo me levou exatamente até as pontes.
O lugar estava lotado de pessoas, algumas em grupos, outras sozinhas. Mas de certo modo, cheio.
Todas as quatro pontes que cercavam as torres de Metrollice estavam cheias de pessoas. Era uma imagem ruim, ver todas aquelas pessoas sem teto, sem comida. Sem nada para lhe aliviar o frio.
Uma vantagem de ser vampiro. O frio exterior é inibido pelo seu próprio corpo, por isso vampiros não sentem tanto frio como humanos, embora o calor seja de matar.
Consegui me sentar exatamente onde a ponte começa, era o único lugar que estava vazio. Me encolhi e abracei os joelhos. Seria uma longa noite.
*-*-*
Me acordei com um apito infernal dentro da minha cabeça. Parecia um alerta de perigo ou algo do tipo. Olhei ao meu redor e não vi nada. As pessoas dormiam em paz, embaixo da ponte. Nada parecia anormal. Até que eu entendi. Os primeiros raios solares tocaram o chão e foram se aproximando lentamente de mim. Ainda não me acostumara a dormir durante o dia, ainda era esquisito e estranho.
Uma verdade sobre vampiros. O sol é capaz de incinerar até o mais fortes deles. Por esse motivo, eu corri em direção ao lugar mais escuro que eu encontrei. O problema é que eu não encontrei nenhum lugar desse tipo. Todas as casas e monumentos de Metrollice eram cheios de luz e cor. Era como viver um inferno na terra.
Não consegui mais fugir do sol, e precisei entrar na primeira casa que eu vi. A janela estava aberta, a casa tinha mais ou menos cinco metros de altura. Pulei até a janela e entrei. Não havia ninguém no quarto, que parecia ser de uma garota. As paredes eram rosas, e a cor se repetia por quase todo o cômodo, em moveis, tapetes e lençóis.
Fechei a janela e as cortinas rapidamente. No momento em que os raios solares passaram pela casa, um leve iluminação entrou no quarto. Fechei os olhos com medo, mas não aconteceu nada.
Outra verdade sobre vampiros, os raios solares só nos fazem mal se formos atingidos diretamente por eles.
Com o coração batendo mais devagar... na verdade ele não bate. Enfim, um pouco mais calmo, decido olhar a casa e tentar descobrir a quem ela pertence. Ao abrir a porta, percebo o quão grande a casa é. Existiam duas escadas uma dava acesso ao segundo andar, outra ao térreo. Era realmente incrível. Na maior parede da casa existia o retrato de um homem nobre, com roupas finas e elegantes, segurava uma espada fina em sua mão, enquanto a outra estava guardada em um dos bolsos. Dei mais alguns passos em direção a escada, porém percebi passos subindo, e voltei ao quarto, fiquei atrás da porta espiando as pessoas que passavam pelo corredor. Eram empregados, vestiam ternos simples. E pareciam apenas rondar a casa. Seguranças, talvez?
Por via das dúvidas, fechei a porta lentamente e encarei o quarto. Qual seria o melhor lugar para se esconder até a noite cair? Pensei, o armário poderia ser uma opção, mas a dona dele certamente o usaria quando chegar, então, não.
Havia um baú grande, ao lado do armário, onde eu certamente caberia. Mas estava trancado. Então só me restara uma opção, embaixo da cama.
A casa estava movimentada. Pessoas entravam direto no quarto cor-de-rosa, homens e mulheres, pareciam colocar coisas no quarto, os quais eu não conseguia ver. Sempre que alguém entrava no quarto eu prendia a respiração, mesmo sem perceber que eu não precisava mais respirar. Era algo involuntário.
O dia passou lento. Aos poucos a casa foi ficando vazia. Até que quando a noite caiu, uma mulher entrou no quarto. Sentou-se na cama, e ficou a cochichar baixinho.
A mulher não voltou a sair do quarto, ficando nele durante a noite inteira. Porém eu precisava sair. A noite chegara, era minha hora de consegui comida. Era meu horário para sair. Comecei a me afastar devagar para fora da cama. Se eu fosse rápido e conseguisse passar pela janela, talvez a mulher não me notasse.
_ Até quando você vai ficar embaixo da minha cama?_ Perguntou a mulher. A voz dela era calma e não parecia assutada. Diferente de mim que, se meu coração batesse. Estaria a mil por hora.
_ Não se preocupe, eu não vou fazer nada._ Falou a mulher._ Demorei a lhe perceber, sua presença é ínfima. Quase inexistente. Vampiro ou Espirito?
_ Vampiro._ Falei saindo da cama, ficando de frente para a mulher. Ela era loira, possuía olhos claros. Deveria ter uns 19 anos, no máximo. Vestia roupas iguais ao homem no quadro da casa. Elegantes e simples.
_ Mas, você é apenas uma criança!_ Falou ou me ver._ Quem te transformou?
_ Não importa. Eu preciso ir._ Falei, dando as costas a mulher e indo em direção a janela.
_ Mas, você não pode sair por ai, sozinho...
_ Eu sou um vampiro, eu sei me cuidar sozinho.
_ Meu nome é Nita, Amanita Tryck. Sou Duquesa do Lorde Levidran, eu posso lhe ajudar._ Falou a mulher.
Isso era estranho para mim, uma humana tentando me ajudar. Na maioria das vezes eles não faziam isso. Não respondi a mulher, abri a janela e pulei para a rua.
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O Encontro das três raças
ContoRaphael Eduard Evans, filho mais novo de Cadir Evans, Lorde responsavel por Jordvand. Com não mais que nove anos, e agora para sempre. Raphael junto com sua irmã, Rilley, foram mordidos por um vampiro, e infectados com o vírus. Cadir tentou esconder...