CENA XIII

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(Quarto de Gisele.)

Serafim:

- Com licença!

Gisele:

- Serafim, o que deseja?

Serafim:

- Eu, eu passei esse tempo morrendo de saudades e descobri que estava em casa hoje, resolvi passar por aqui!

Gisele:

- Que bom, aceita um chá?

Serafim:

- Sim, mas não é só isso!

Gisele:

- Diga! Você me dá medo, Serafim! Sempre que traz notícias, elas nunca são boas.

Serafim:

- Lembra que lhe falei da revista Película? Ela agora está me cobrando. E não que precise do dinheiro, mas preciso emprestada aquela foto que lhe dei no começo de carreira.

Gisele:

- Quem diria, o homem que vivia contra o capital, que repudiava a exploração da beleza... Como as coisas mudam! Já disse que havia perdido tal foto, não?

Serafim:

- Não acredito que tenha feito isso! Foi um presente e...

Gisele:

- Realmente não perdi, Serafim, mas tenho curiosidades! Por que me escolheu na época? Por que nunca expôs as outras fotos minhas?

Serafim:

- Ora, ora... está brincando comigo, Gisele!

Gisele:

- Vamos lá, um segredo seu por um segredo meu!

Serafim:

- Resolvi fotografá-la pela beleza, mas não a beleza em si. Você tinha um quê de ingenuidade que me intrigava! O que me deixa triste é que mudou com o passar dos anos, não fisicamente, mas tem mudado suas atitudes.

(Gisele se aproxima, chega os lábios bem perto de Serafim.)

Gisele:

- Só isso, Serafim? Nenhum interesse masculino?

Serafim:

- Não estou entendendo!

Gisele:

- Eu acho que está!

Serafim:

- Você sempre foi uma jovem bonita, mas não passava de um anjo para mim!

Gisele:

- Não seja hipócrita, seu velho babão, diga a verdade! Nunca chamei sua atenção?

Serafim:

- Não fale assim comigo! Eu... eu confesso que tive uma pequena atração, um amor platônico, mas nada além disso! Não ria de mim... E você anda tão diferente ultimamente!

Gisele:

- Quer ver o retrato, seu trabalho mais brilhante?

Serafim:

- Sim, onde está?

(Gisele traz o álbum e mostra o retrato.)

Serafim:

- Onde está a foto?

Gisele:

- Esta é a foto. Este foi o seu trabalho!

Serafim:

- Uma velha com fisionomia horrível e olhos... olhos malévolos! Não acredito!

Gisele:

- Creia, é o seu trabalho! Ou acredita que alguma plástica me manteria assim por tanto tempo?

Serafim:

- Isso é amaldiçoado, está transformando você, temos que destruir!

Gisele:

- Destruir? Destruir??? Nunca! Vou pegar seu chá.

Serafim:

- Isso não é normal, Gisele, você não precisa disso! Nós destruímos e inventamos uma desculpa para a sociedade!

(Gisele sai.)

Serafim:

- Isso não é obra minha, é só uma foto! Podemos mudar isso!

(Gisele retorna, serve um chá a Serafim e começa a massagear seus ombros.)

Gisele:

- Não há por que destruir. O retrato, Serafim, é algo magnífico! Que outro autor conseguiu uma foto que tomasse lugar do modelo?

Serafim:

- Isso é demoníaco, não é normal!

(Gisele pega um punhal e penetra na cabeça de Serafim, que se debruça morto sobre a mesa.)

Gisele:

- Perdão, Serafim, mas não posso deixar que isso atrapalhe minha vida! Eu não queria, juro que não! (Beija a boca do morto.) Você não entende! O que vou fazer agora? Pense... pense... já sei! Vou para casa que tenho em Campos! Lá acendo a lareira e tudo resolvido! Espalho as cinzas no jardim! É só um velho, ninguém vai sentir falta! É só ter calma!

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O RetratoWhere stories live. Discover now