Ela chegou aqui com um folheto, abriu a porta com certo medo, e olhou em volta, evitado o contato visual. Andou ate o cabide, colocou seu casaco, e limpou o excesso de neve em si, -era um dia relativamente frio, de inverno-.
Ela sentou ali no canto, ao lado de uma das ultimas janelas, sempre mexia no cabelo, insegura, e perdida... Uma jovem, de cabelos curtos e castanhos, olhos azuis... Não a vi sorrir, mas, presumo que seu sorriso era encantador, e aqui, estava assustada, desconfiada, olhava o tempo todo para o lado, como se quisesse gritar.
Foram duas semanas. A garota só ouvia.
Ate aquela fria noite de inverno, o vento batia a janela como se quisesse quebra-la, foi a deixa. Ela estava sentada no meio desta vez, um pouco mais ao fundo, porém, ainda era o centro daquela sala. Fez-se um silencio ensurdecedor para os outros presentes, e então a menina finalmente falou.
__ Eu queria ser um alguém, qualquer alguém... Não importasse quem... -disse mordendo os lábios, falava de forma corrida, um pouco atropelada, como se estivesse com pressa para se livrar daquilo- Eu era o que minha mãe queria, o que meu pai queria, o que aquele que eu namorava queria...
Ela suspirou, de forma longa, pausou a fala por alguns segundos, que pareciam minutos aos ouvidos dos outros. A garota não estava em pé, mas suas pernas tremiam. E agora de forma mais lenta, ela continuou.
__ Eu era qualquer um, qualquer coisa e ao mesmo tempo não era ninguém. Me senti vazia por tanto tempo, entende? Vazia, perdida... Foi por tanto tempo que eu não sei mais como é ser alguém que vala a pena ser... Eu não sei ser alguém que vá dar orgulho, que vão chamar de útil... Que vai ser referência de algo. Lembro-me de quando eu era criança, eu queria ser astronauta. Porém disseram que era impossível, e eu não tentei... Então, resolvi ser algo possivel, e escolhi ser desenhista... Disseram que meus desenhos eram amadores, e que eu nunca iria melhorar. Esse foi o ultimo dia que lembro que fui eu mesma, que eu quis algo por mim... E ate hoje, eu me arrependo de ter deixado as pessoas dizerem o que era possivel ou não... Isso me quebrou...
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Broken Dreams Club
Short StoryNão há intermediações quando se decide entrar para esse clube, mas claro, há algumas coisas que você precisa saber... E estar aberto a ouvir novas historias, muitas vezes impressionantes, outras chatas, outras aterrorizantes. Não há um padrão ao cer...