Mais um dia chegara, fazendo com que o sol banhasse todo o quarto de Marina e irritando seus olhos e acordando-a. Era cedo ainda, mas sua ansiedade era grande para saber o que, de tão importante sua mãe queria conversar com ela. Sua mãe disse-lhe apenas que era algo que mudaria sua vida. Marina alegrou-se, pensando que enfim veria o mundo, conheceria pessoas, viajaria, iria dançar com suas amigas. Naquele momento, tudo o que pensava era em liberdade, em viver tudo o que nunca viveu.
Mas Marina não via sua mãe com um ar de quem lhe traria noticias tão libertadoras assim. Se bem que sua mãe estava mudada desde que toda aquela tormenta acontecera, há quatro anos... A vivacidade daquela casa havia morrido. As pessoas moviam-se em silencio pela enorme e majestosa casa, sem risos ou felicidade. Havia quatro anos também do acidente que levo seu irmão.
A enorme mesa de quase cinquenta lugares estava posta, apenas em uma das pontas, para duas pessoas, já que seu pai estava viajando a negócios e só chegaria para o almoço. Isadora Cerqueira esperava por sua filha, com as mãos suando. Tudo o que estava fazendo era necessário e embora sua filha não fosse compreender naquele momento, mas era para o seu bem.
― Bom dia, mamãe! – Marina a beijou.
Marina usava um terninho preto com o símbolo de sua escola, e sapatos bege. Seus cabelos longos estavam em um coque bem feito. Todos os dias ela seguia aquela rotina, usando o uniforme da escola para meninas, tomava seu café e partia ao encontro de suas amigas.
― Bom dia, querida! Hoje não precisará ir à escola. Já liguei e avisei que não iria.
― Mas eu quero ir. Quero ter minhas aulas e ver minhas amigas. Esta casa é tão solitária... – falou tristemente.
― Ouça, querida... É difícil falar sobre isso, mas já está na hora! Você acabou e completar dezenove e há mudanças que precisam ser feitas. Você já é uma mulher, está na hora de noivar e casar-se! – sua voz era lenta e passiva, seu controle tinha que ser mantido.
― Mãe, como eu irei noivar e casar se nem ao menos falei com algum garoto na vida? Nunca sai ao menos desta casa!
― Eu sei, meu bem. Mas você sabe que a preparamos a vida inteira para isto, não é? Claro que cuidamos de tudo por você. Nós temos um pretendente para você. E...
― O quê? Como assim? Mamãe, eu tenho direito a fazer minhas escolhas!
― Olhe para mim e me escute! – Isadora gritou.
― A senhora não tem este direito! – suas lagrimas teciam uma linha fina no rosto.
― Mas o que está feito, está feito e pronto! Não há como mudar.
Aquele realmente era um dia péssimo para ir à escola. Marina correu e quis trancar-se em seu quarto, mas era impossível, pois seus pais proibiram fechaduras nas portas dos filhos e assim sua mãe pôde entrar em seu quarto e vê-la chorando. Aquilo quebrou Isadora por dentro, mas era necessário.
Marina se debulhava em lagrimas, tristonha por toda a sua condição de vida, confinada naquela casa e sem contado com nenhuma pessoa do sexo masculino que não fosse seu pai e seu falecido irmão.
― Marina, não chore! Você é forte, pode passar por tudo isso e se sustentar de pé!
― Mamãe, não me obrigue a fazer isso, por favor!
― Entenda que é para o seu bem!
― Para o meu bem, tanto quanto me mandar morar fora por um ano, junto com o Roberto? – Roberto era seu irmão. Antes do acidente Marina fora mandada para viver um ano longe, somente com ele, vivendo sob as mesmas regras que vivia em casa.
Falar naquilo afetou sua mãe. Ela sabia do mal que tinham feito em tê-la mandado para longe naquele período.
― Não, isso é deveras para o seu bem. Nós não cometeríamos os mesmos erros. Me entenda! Eu peço que aceite. Que não vá contra o que já foi acordado. É importante para nós e para você. Para o seu futuro!
Com certeza seria torturante viver com um homem que ela jamais vira na vida, mas Marina não tinha escolhas. Mais uma vez sua família estava decidindo seu destino. Com lagrimas nos olhos e com medo em seu coração, Marina meneou a cabeça, aceitando seu destino que, nem mesmo podia visualizar.
― Tudo bem, preciso esclarecer umas coisas. Você precisa saber sobre ele, ao menos um pouco.
― Tipo o que?
― Seu nome, idade, condição social. Coisas assim. E o mais importante: ele é sócio de seu pai na empresa. Ele tem cinquenta por cento das ações do laticínio. Nossa união, através do seu casamento será bom para unificar nossos bens e interesses.
― Então é isso? Tudo tem haver com dinheiro, não é, mãe?
― Não, não olhe desta forma, por favor.
― Diga-me o que preciso saber, então.
― Certo, vamos lá. Seu nome é Augusto e ele tem o dobro de sua idade...
― O dobro? Mamãe! Este homem é velho demais para mim.
― Não, não é. Ele é o ideal. Você verá. Ele é um homem magnifico e bondoso.
― E quando o conhecerei? – ela encolheu-se, com medo da resposta.
― Esta noite! Ele virá jantar conosco e oficializar o noivado. Ele tem pressa, assim como seu pai.
― Dois interesseiros! – ela proferiu aquilo com escarnio e asco.
― Tudo na vida é regido por interesses, filha. Você tem interesse em comer e beber, e para isso você trabalha. Você conhece alguém e casa com esse alguém, por interesse, assim como você compra uma roupa nova por ter interesse de vesti-la. Mas nos temos que pensar é em sua primeira noite. Você irá incentivá-lo a beber bastante. E um dia antes nós a cortaremos, na cozinha.
Marina teve um dia inteiro para digerir aquela historia toda. Talvez nem mesmo dormisse naquela noite. E se ele fosse velho, feio e barrigudo? Ele permitira que ela continuasse a estudar? Teria ela a coragem de contar as suas amigas sobre seu casamento com um homem que tinha o dobro de sua idade?
Olá, Querido Leitor!
Este conto veio-me à mente e não saiu mais, então aqui está, para todos! Nunca conseguirei guardar algo só para mim e tinha que compartilhar com todos!
Espero que gostem!
Estou construindo. Estou dividindo em etapas e hoje teremos duas delas. Logo, logo teremos mais!
Se gostar, não deixe de convidar um amigo a conhecer.
Beijos
Mércia Ferreira
VOCÊ ESTÁ LENDO
Construir em Verdade
ChickLitMarina viveu a vida inteira sem conhecer o mundo, Sem contato com garotos. Mas seus poucos anos de vida trazem muitos segredos, dor, e tristezas. É Obrigada a casar com Um homem que nunca viu na vida. Augusto tem marcas que o tempo não pôde apagar...