Conhecendo o lobo

340 26 14
                                    




Naquela tarde o vestido que Marina teria que usar no jantar estava sendo posto sobre a sua cama. Ele tinha mangas rendadas, era amarelo claro, ia até abaixo dos joelhos. Era lindo e quando vestido pela menina de cabelos castanhos e olhos verdes, deu-lhe a aparência de um anjo.

Ela respirou fundo, antes de descer as escadas. Dez minutos antes ela ouvira a campainha tocar. Era ele. Era seu prometido. Um reboliço se formou em seu estomago. Estava nervosa. Aquela noite mudaria tudo.

Quando ela adentrou o ambiente, foi impactada pela imagem bem cuidada de um homem alto, esguio e definido, de cabelos negros e olhos âmbar, com um sorriso divino. Se não fosse por toda a ocasião, diria que aquele era o homem mais belo do planeta, mas não poderia esquecer-se do tipo de homem que ele era. Ele iria desposá-la por interesses. Logo suas feições mudaram. Tinha que manter as aparências. Mas aquilo era um fardo muito pesado a carregar.

― Boa noite, senhores! – ela cumprimentou. Logo adiantou-se em beijar seu pai. Apesar da situação, seu coração não permitia odiar seus pais. E logo em seguida teve que estender a mão a Augusto, em um cumprimento rápido.

― É um prazer enorme conhece-la, jovem Marina. – Augusto estava inebriado pela beleza jovem da menina.

― Bem, já que estamos todos reunidos, podemos ir para a sala de Jantar! – Isadora apressou-se em dizer, já que o clima era tenso naquela sala.

Todos tomaram assento à mesa e o jantar fora servido.

― Augusto, esta noite foi preparada para selarmos um compromisso deveras importante. Não vejo por que esperar, diga a que veio, homem. – Josué, pai de Marina , proferiu.

Marina engasgou-se com sua água. Seu nervosismo era grande e sua apreensão, desmedida. Augusto adiantou-se em ajoelhar ao lado da menina que seria sua esposa, tirando a taça de suas mãos e secando as lagrimas que se formavam nos seus olhos, causadas pela tosse. Quando ela se acalmou, sem notar, segurava nas mãos do homem.

Já não havia mais o que ser dito. Ele já estava de joelhos, diante dela, sentindo o calor de suas mãos e aproveitou a oportunidade e retirou o par de alianças do bolso de seu paletó.

― Marina, sei que é cedo, e que nem me conhece, mas ainda assim eu irei perguntar: Você aceita casar-se comigo?

Um nó se formou na garganta da menina. Ele era o lobo e ela era a presa fácil. Sabia que o lobo era mais rápido e não haveria como fugir. Ela quis chorar, deixar cair pelos olhos todo o medo, pavor e dor que sentia, mas engoliu em seco e meneou a cabeça em sinal positivo. Suas voz foi um sussurro:

― Eu aceito! – tentou sorrir, mas era impossível.

― Nos casaremos em breve. – Augusto ergueu seu corpo do chão e beijou o topo da cabeça da menina, ainda sem jeito perto dela.

Seus pais e o então noivo brindaram ao noivado e começaram a falar desenfreadamente sobre detalhes para a festa. Marina estava ainda mais assustada com tudo, quando sua mãe disse a ele que poderia cancelar a matricula de Marina, pois uma esposa tradicional deve se preocupar apenas com a casa e os filhos e o homem concordou. A cada segundo assistindo aquela palhaçada fazia com que o peito da jovem dilacerasse mais ainda. Por fora era a boneca, exemplo de beleza, mas por dentro seu corpo era um rio de sangue, pois seu coração chorava ferido pela traição de seus pais para com a sua vida e fazia transbordar por todo o seu ser.

A conversa rolou por horas. Marina estava cansada e sonolenta. Necessitava apenas ir ao seu lugar, para chorar em paz, mas não poderia cometer a descortesia de levantar-se antes de seus pais e noivo.

― Josué, querido, não é conveniente que deixemos Augusto conversar um pouco com Marina, a sós? Como um bom noivo, ele deve cortejá-la.

Marina bateu o braço em uma taça de cristal por acidente, provocando grande barulho.

― Pelo andar das horas, devo negar a oportunidade. Já é tarde. Marina deve estar com sono! – Augusto tentou evitar mais desconforto ainda para a menina.

― Não! Vamos, fique a vontade. Marina dorme tarde todas as noites, assistindo e estudando. Ela pode ficar uns minutos a mais com você! – Isadora insistiu.

― Tudo bem para você, Marina? – ele perguntou.

Ela afirmou com a cabeça. Falar era tão difícil.

― Vão passear pelo jardim! – a mulher empurrou novamente.

Marina guiou Augusto pelo enorme jardim, para sentar-se em um banco de carvalho, próximo ao chafariz, onde os pássaros vinham beber todos os dias.

― Marina...

― Eu posso pedir-lhe algo? Digo, eu sei que não nos conhecemos e não deveria pedir-lhe nada, mais eu preciso! – ela falava com desespero, arfando e com os olhos esbugalhados. Ela só teria aquela chance e isso se ele não a entregasse aos seus pais.

― Diga-me! Se estiver ao meu alcance, pode acreditar, eu o farei! – ele encarou os olhos da menina – Acredite, Marina... Eu não sou uma pessoa ruim. Peça o que quiser!

― Tem um lugar, no parque. Naquele parque aqui perto. Eu quero que vá até ele, daqui a uma hora! Eu estarei lá, o esperando. Preciso muito conversar com você. Por favor! – ele podia sentir a agonia impressa em cada palavra dela. Ele podia sentir emanar dela o cheiro do desespero. Havia algo de errado ali, algo que só ela lhe diria, mesmo que fosse para fazê-lo desistir.

― E se eu não for?

― Por favor, vá! Aqui eu não poderei falar nada. Meus pais estão de olho. Eu preciso que dê-me a sua palavra.

― Aquele parque é grande...

― Bem no centro, passe pela ponte do lago artificial. Eu estarei no meio das arvores da pequena ilha.

― Eu... – mais uma vez as lágrimas estavam preenchendo os olhos da menina e aquilo partiu seu coração. Ele sabia que devia estar sendo difícil para ela aceitar tudo aquilo. – Tudo bem. Em uma hora...

― Obrigada! – ela pegou as mãos dele e apertou. – Eu preciso entrar, para poder sair em seguida, sem ser vista. O espero!

― Tudo bem!

Marina guiou augusto até a saída. Agora era questão de tempo. Seus pais dormiriam e ela poderia pular a janela e escalar o muro, como sempre fazia.



AlineMorad, este capítulo é todo seu, como um presente pelo seu dia! Mais uma Vez, Parabéns!

Construir em VerdadeOnde histórias criam vida. Descubra agora