No passado, existiam pessoas que se mudavam quase que diariamente, devido a alimentação e tal. Os nômades. Mas a minha família sempre foi perfeita. Um empresário rico casado com uma arquiteta profissional e uma filha pianista. Não é a família dos sonhos? Mas, toda a família tem seus problemas. A minha vida começou a ser um problema quando os meus irmãos nasceram. Tivemos que mudar de casa para uma duas vezes maior, fazendo que minha mãe simplesmente odiasse aquela casa e aquele país. Foi assim que mudamos para a Austrália. E depois pra Suíça. E depois pra Paris. E lá estava eu, presa como uma sardinha enlatada em um avião á caminho de Nova Iorque. Sem amigos. Sem ninguém.
- Mia! Tá acordada? - meu pai perguntou, do assento atrás do meu. Sempre insistindo em me chamar desse nome de princesinha que sempre odiei.
- Estou. - respondi - Isso importa?
- Claro que importa! Eu sou seu pai, sempre vou estar preocupado com o seu bem-estar.
- É claro. - desdenhei - Você sempre pensa em mim quando mudamos pra algum país. E você sempre acerta, pai. Não ligava pros amigos que tinha nesses países mesmo.
E ele não respondeu.
A micro-tv do avião reprisava filmes velhos, nenhum que eu gostasse, mesmo sendo apaixonada por Cinema.
Liguei meu celular, abri na Netflix e me tornei Elena, em The Vampire Diaries. Será que Elena se sentia como eu? Será que ela também odiava se mudar?
A aeromoça avisou que iríamos pousar em alguns minutos, me pediu para desligar meu celular e apertar os cintos. Jason e Halen, meus irmãos de 7 e 8 anos, se divertiam com a rapidez do avião para chegar ao chão e aquilo me deixou irritada.
Ao chegarmos na nossa casa, após a guerrinha que meus irmãos fizeram sobre quem ficaria com o quarto maior, me surpreendi com a beleza da minha casa nova.
A base da construção da casa era vidro e mármore. Uma porta de madeira polida branca adentrava uma casa maravilhosa. Do lado esquerdo, havia uma sala de estar confortável e fofa, com uma lareira robusta, sofás vitorianos e pufes moderninhos. Do lado direito, repousava uma mesa de mármore longa idêntica á de um palácio.
Cara, pensei. Minha mãe se superou dessa vez.
No centro, havia duas escadas que se cruzavam no topo, e pude jurar que estava nos estúdios de O Diário da Princesa 2 - O Casamento Real!
- Emilia, - minha mãe me cutucou - Seu quarto é a segunda porta da direita. E ele é o maior. - ela disse, sussurrando na última frase.
Radiante, subí as escadas e abri a porta do meu novo quarto.
Me deparei com um pesadelo: móveis vitorianos broxantes e uma parede rosa. Sim, pode acreditar: Rosa. Meus pais escolheram o rosa como cor da parede de um quarto de uma garota de 16 anos. É por isso que eu odiava eles.
- QUE DIABOS É ISSO NO MEU QUARTO? UM UNICÓRNIO VEIO E VOMITOU ISSO NA PAREDE? - gritei
- Mia, calma, nós -
- MIA? - eu os interrompi - ARGH, É POR ISSO! EU O-D-E-I- O VOCÊS!
Desci as escadas e corri pro Central Park, cujo convenientemente era em frente minha nova casa.
Lágrimas queimaram meu rosto enquanto eu andava com passos fortes. Quando percebi que estava prestes á desmaiar me sentei.
- Nossa, - uma voz masculina adolescente disse - Está tudo bem com você?
Levantei minha cabeça e me deparei com um rapaz bonito, com um sorriso estonteante. Ele usava uma jaqueta jeans em cima de uma camiseta listrada, uma calça preta rasgada e um All-Star preto clássico. Ele tinha um cabelo escuro, assim como seus olhos. Tinha um topete e as laterais do cabelo estavam levemente raspada. Ele passeava com um dálmata super-fofo, que provavelmente, em outra situação, eu pararia pra fazer carinho.