-4-

3 1 0
                                    

— Desculpe Alex. Desculpe-me... Eu... Eu só estou confusa... Apenas isso. Vamos continuar com o jogo, sim?

Parecendo se acalmar um pouco, Alex abandonou o quadro negro sem apagar mais nada, foi até Ellen e a abraçou, como se estivesse abraçando um animalzinho de estimação, afagando a sua cabeça.

— É... Sim, vamos continuar com o jogo...

Ellen gritou enquanto a faca entrou devagar, o fio da lâmina raspando contra o osso do seu ombro direito.

— Shhh... Shhhh... — A faca saiu da carne tão devagar como entrou enquanto Alex continuava afagando a cabeça da doutora. Em seguida, ele voltou ao quadro negro e apagou o braço direito do desenho.

— Feito isso, podemos continuar. — Voltou ao divã e pegou novamente o porta-retratos.

— Que linda família, Ellen! — Exclama, apontando com a faca ensanguentada as pessoas na foto. — Como é mesmo o nome da sua garotinha? Não que ela seja sua ou pertença a você... Bom, você me entendeu.

— É... É Sarah... — Respondeu Ellen, tentando conter-se e manter-se controlada, a salvo das lágrimas que escorriam pelo seu rosto.

— Ah... Que nome previsível, se essa fosse uma história sendo escrita por alguém, com certeza seria alguém bastante idiota.

Ellen se sentia totalmente perdida, tomada pelo medo cego que surgiu quando Alex perguntou o nome da sua filha. Ela não poderia suportar a ideia de que aquele homem demente pudesse fazer algo à sua família, à sua filha!

Como se Alex pudesse sentir no ar, ele se volta para ela:

— Ah... Você está sentindo isso, Ellen? É o medo!

Alex caminhou e se inclinou, apoiando a mão esquerda sobre o joelho, com o rosto bem diante dos olhos de Ellen e encostando a ponta da faca, de leve, no rosto dela.

— Esse é o medo real, Ellen. Eu não entendo a dificuldade que as pessoas têm em perceber que não há diferença nenhuma entre elas, que são todas a mesma coisa, um só ser. Os valores e fatos que as pessoas tendem a enaltecer são sempre aqueles que as diferem, não aquelas que as aproximam. Veja bem, você está aqui agora, indefesa, sentindo a dor dos cortes que eu fiz em você, que só não fizeram pior estrago por que eu fui cuidadoso quanto ao local onde cortei e perfurei, mas se eliminarmos o fator dor restará apenas o medo. Primeiro surge o medo do que eu poderia fazer com você, um medo que nasceu quando você percebeu que está totalmente impotente e que não tem poder para se libertar do papel que eu escolhi para você, o papel da vítima. Agora um novo medo surge, e faz transbordar um sentimento novo, um medo mais profundo, o medo de que eu possa ferir a pessoa que você mais ama: a inocente Sarah! O medo que você está sentindo agora, Ellen, é o mesmo medo que tantas outras pessoas já sentiram. Você pode até discordar, dizendo que as causas do medo são diferentes, mas eu digo em resposta que o que causa o medo não importa quando percebemos que a qualidade do medo é inerente a todo o ser humano, no medo nos tornamos um só ser... Não só pelo medo, claro, mas todo sentimento como amor, alegria, dor, raiva... No fim, todos são um e eu vou lhe dar a prova irrefutável: Eu e você também nos enquadramos neste exemplo.

— Eu não tenho nada a ver com você!

— Tsc, tsc. Que resposta previsível, Ellen! Vou ignorar isso e retomar tudo antes que você arruíne o momento... Onde estávamos? Ah é! Blábláblá... e eu vou lhe dar a prova irrefutável!

Alex pega novamente a foto de Sarah e aponta para ela com a ponta da faca.

— Você disse que eu matei pessoas, mas agora é você a pessoa quem deseja a morte de outra! — Alex volta a se aproximar do rosto de Ellen, testa com testa, olhos nos olhos. — A minha morte Ellen, você está desejando a minha morte, bem agora!

Sob as pálpebrasOnde histórias criam vida. Descubra agora