Parece estranho toda essa rotina ajustada e direcionado para apenas uma direção.
Eu Agostinho portador de todo e céu e terra que aqui vejo e se alguém me contraria digo logo que não há homem mais valente e entendedor dos antepassados como eu, nasci por aqui mesmo, nessa casinha de barro e vara de pau de ferro.
Era um menininho pequeno e raquítico assim como conta dona Vera que mora pelas bandas do coqueiral, assim me criei, depois de muito esforço para me manter forte diante de toda a dificuldade que insistia bater na porta e me assolar que até de vez em quando gostava de mostrar para a enfusada que com homem rapaz não se pode afrontar.
Esses dias avistando a paisagem e tomando café como faço frequentemente quando vejo duas crianças lá no fundo do quintal brincando com bolas de meia e utilizando duas varas apoiando como trave, parecia até um jogo de futebol nessa emaranhada correria que nem eu mesmo entendia. O mais velho ensinava para o mais novo regras de como conduzir aquela brincadeira inocente e assim foi até o sol ficar forte e eu pedir para que eles entrasse para poder almoçar.
O mais velho se chamava Antônio, esse até deu trabalho no parto, era fino como um palito mas rodopiava na barriga da mãe que era uma beleza.
O novo era Carmo, esse é igualzinho a mim, menino sonhador que quer ganhar o mundo a força e que na hora de trabalhar sorrir como um filho inocente.
E mais adentro tem Estela, essa sim vale a pena contar, conheci em um dia de sol em baixo da mangueira da casa do senhor nestor, me lembro como se fosse hoje, estávamos aprontando a festança de casamento da filha mais velha da Geraldina e depois de muito trabalho braçal e dedicação para que tudo ocorresse bem fui-me preparar para o casório que não muito estava para começar.
Estava lá a moça que acabara de chegar, bonita feito uma flor, com um vestido bege decotado e mansa igual uma artista dessas que vemos na televisão e eu bobo não tinha nem proza para conversar com ela, ai de mim simples moço que não muito vestia bem, e quando tive minha oportunidade fui logo tratar de apresentar e ela com o riso bobo disse que chamaria Estela e logo ganhou meu coração.
E a partir daquele dia vivemos juntos e tivemos dois meninos que hoje vive a labutar por ai... Como pode esse destino que direciona a cada momento ao um rumo novo. E nessas filosofias baratas me peguei pensando o como sobreviver naquele oasis sem o pão de cada dia. Sim tínhamos apenas alguns trigos que misturávamos com farinha para contentar a fome que no outro dia viria da forma pior e que sabíamos que não poderíamos mais adiar a procura de um lugar para manter-nos bem, um lugar que possamos pelo menos inserir obrigatoriamente nesse sistema capitalista que muitos exaltam como um tipo de Deus, eu não sou muito de gostar dessas coisas não, gosto mesmo é dessa sombra fresca que sopra a ponta do meu nariz e no canto do galo apartar o gado para tirar o leite que ultimamente vem escarço.
Poderia ser que após os dias chuvosos os pastos voltariam a ser verdes novamente e a plantação produziria aquele bom feijão da minha infância, mas a muito não vemos e o que antes era realidade hoje se torna meras especulações nordestinas de conversas de botecos.
Esses dias andei reparando o como está o meu gado empalidece até chamei Estela para observar comigo.
-Está vendo mulher? Essa imagem desoladora da nosso gado?
-Para de besteira homem, logo logo volta a chover e volta a ser como era antes.
-E se não chover? E se for uma mera ilusão que alimentamos para não cairmos na loucura?
-Já passamos por muito que essa não será a primeira que iremos perder e já lhe disse que hoje mesmo ouvi compadre Cícero comentando sobre a chuva que banhou os lados da região, será possível que Deus não lembrará dos seus filhos que a muito lhe rogam?
- Não sei mulher, mas se ele não lembrar teremos que partir rumo a cidade grande, onde a água brota em fartura e a fome é só uma espécie de mito.
E nessa passamos mais um dia sem a certeza da chegada do amanhã, e fomos acreditando mais um pouco que nossa situação vai melhorar.
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Triste sol do amanhã
DiversosUma busca existencial de um jovem nortista na grande capital. Parece apenas mais uma simples história, porém Augustino busca toda informação que supre o vazio em uma selva de pedra onde a sobrevivência é um hobe dos indivíduos habitantes.