Capítulo 1

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Meu nome é Brook Aislin minha mãe morreu assim que eu nasci, com eclampsia, uma condição rara, mas grave que é causada pelo aumento excessivo da pressão arterial na hora do parto. Meu pai é um pobre e miserável alcoólatra que me entregou à minha tia assim que eu nasci. Minha tia sempre me conta que no momento em que ele me deixou em sua casa ele estava tão bêbado que cruzava as pernas e a possibilidade de ele ter conseguido voltar para casa sozinho eram remotas.

Hoje eu moro com ela em Nova York. Tia Rosa, na verdade Rosália, é uma empresaria de nome conhecido pelas ruas e casas da cidade, ela possui uma floricultura no central Park e eu trabalho com ela.

A clientela da floricultura é bem diversificada. Por aqui sempre tem novas histórias, confissões e declarações de amor. Sempre há uma gama de clientes assíduos que vão de maridos à ficantes.

Eles comprar buquês de rosas vermelhas, escolhem os arranjos mais caros, as flores com o melhor aroma e os embrulhos mais peculiares possíveis. Muitas vezes para corrigir seus erros.

Vou te falar o que eu acho, sinceramente é sim um clichê. Os homens precisam parar de fazer isso para corrigir seus erros, deveriam nos dar flores por motivos bons e até sem motivos relevantes.
Qual é a mulher que não quer que seu marido, namorado ou noivo lhe de flores e bombons quando ela estiver com cólicas e TPM? Diga-me, pois eu adoraria!

Mas agora vamos à história, acabei falando demais.

*****

Durante o dia atendi alguns clientes e arrumei algumas coisas que estavam fora de seus lugares normais. Eu tenho alguns problemas com limpeza e arrumação. Tudo tem seu devido lugar, certo? Então, cada coisa deve estar em seu lugar.

Depois de tudo feito e arrumado olhei o relógio e percebi que já estava na hora de fechar a loja e ir para casa. Coloquei todas as flores na refrigeração, assim elas não iriam murchar, peguei minhas chaves no balcão e tranquei tudo.

Andar sozinha pelas ruas de Nova York não parece tão ruim quando o céu está repleto de estrelas, brilhantes e cadentes, esperando por alguém que se atreva a lhe fazer um pedido. Olhei para o céu e desejei que viessem dias melhores.

Parei no meio do caminho para comprar um cappuccino. Olhei em volta e senti vontade de me sentar em uma mesa e curtir o momento. Eu amo tomar cappuccino no fim de toda tarde, na verdade, faço isso com mais frequência do que deveria.

Ainda tomando o café, olho para a tela do celular esperando algo acontecer, algo diferente, alguma novidade, uma mensagem.
Não sei se você já fez um pedido a alguma estrela cadente, mas é assim que a gente fica, à espera de alguma mágica ou milagre, ai já é interpretação individual, entenda como quiser.

Fiquei esperançosa por um momento, mas logo, lembrei que eu não estava em uma maré de sorte. Isso não faria do meu dia melhor, já que eu
eu irei para casa e ficarei deitada na minha cama, enquanto as Pessoas da minha idade estão curtindo como se o mundo fosse acabar hoje.

Eu já estava me agasalhava para sair da cafeteria, de costas para a TV e perdida em meus pensamentos, ouvi uma voz grossa e firme vinda da TV que Bob, o dono da cafeteria, comprara para passar os jogos de rúgbi e o jornal local.

- Senhor pode nos dar uma, breve, entrevista? - Uma voz feminina surgiu e fez o pedido educadamente ao homem, que parecia estar com bastante pressa.

-Mas é claro, se me prometer que este "breve" será fiel ao sentindo da palavra, tenho uma reunião daqui a 20 minutos - disse ele em tom firme, seguro e direto.

- Pode nos dizer o que está acontecendo lá dentro? Já se passaram horas e tudo parece muito quieto.

Depois desta pergunta comecei a ouvir muitas vozes, fazendo muitas perguntas, algumas sem sentido, outras maldosas, mas todas se referindo a uma só situação. Voltei a ouvir a mesma voz do homem que estava sendo sufocado por uma "maré" de perguntas.

- Estas são informações de alto sigilo, senhores - ele disse e continuou - Você tem outra pergunta? Não? Então estamos conversados.

Ele saiu sem dar qualquer informação e deixou os repórteres feito bobos.
Eu o achei arrogante e mesquinho apesar de ter feito o correto, se é sigilo não há como vazar informações.
Antes de sair passei no balcão de biscoitos para cumprimentar minha amiga Daniela, nós nos conhecemos desde pequenas, 17 anos de amizade. Confesso que se eu pudesse ficaria até o dia seguinte jogando conversa fora, mas sei que tenho obrigações em casa e amanhã não terei folga.

Fui andando para casa devagar, não fica longe da cafeteria. O céu estava mesmo deslumbrante e uma das coisas que sempre me cativou, foi olhar o luar e as estrelas como pequenos pontos de luz. Fazia lembrar minha mãe que se chamava Lua. Cheguei na minha casa e percebi que as luzes estavam apagadas, talvez a tia Rosa estivesse dormindo. Abri a porta silenciosamente e acendi a luz, depois de trancar a porta fui direto para a cozinha pegar um copo com água.

Ao ficar de frente para a geladeira avistei um papel lembrete que minha tia tem o vício de usar para tudo, que estava escrito:

Precisei ir a uma convenção de floristas, volto amanhã à noite; cuide de tudo. Se precisar de alguma coisa, me ligue!

*****

No dia seguinte acordei cedo e fiz café. Peguei a xícara de porcelana e me servi, senti o aroma do cacau que subia da xícara para a cozinha, tornando o local perfumado.
Ouvi a campainha e fui atende- lá, era a senhora Mackenzie, uma idosa de 80 anos que de vez em quando vem a minha casa pensando ser a da filha dela, está nos primeiros estágios da Alzheimer. Eu a conduzi para sua casa e depois voltei para terminar o café, tive de ser rápida, pois já estava no horário de abrir a loja. Coloquei a roupa rapidamente e sai calçando os sapatos.
Não se empolgue em querer saber sobre a minha roupa! Não sou uma blogueira, ok? Há tudo bem, você quer mesmo saber, né? Eu uso um uniforme para trabalhar; calça preta e blusa mais preta ainda, e fim! Não tem nada de interessante na Minha vida, nada mesmo. Eu não fui soberba quando fiz um pedido àquela estrela, eu realmente preciso disso! Esquece isso, estou atrasada e preciso correr.

Saí a todo vapor e consegui chegar na loja na hora exata. Abri a porta e comecei a arrumar as caixas, vi uma caixa em cima do armário e quis saber do que se tratava, subi num banquinho e tentei alcançar a caixa, mas meus dedos não a encontravam. Comecei a dar pulinhos cuidadosos para não cair, então consegui puxa-la para mais perto e mais perto, quando ela escapou e caiu em cima da minha cabeça com folhas e flores secas. Tentei me limpar mais fui interrompida pelo sino que fica na porta da floricultura, arrumei a roupa e fui direto para o balcão.

- Olá - ele fez uma cara de quem queria rir, mas se conteve e começou a mexer no celular.

- Posso ajudar?

- Acho que sim, né. Você trabalha aqui afinal das contas! - Ele disse olhando tudo em volta, com o olhar debochado.

Flor de outonoOnde histórias criam vida. Descubra agora