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Deixei de saber como me expressar. As palavras flutuam para fora de minha boca, mas nunca de forma a criar uma sentença; as cores com as quais incessantemente pinto o quadro nunca parecem o suficiente para preencher a tela em branco; comando meu corpo, movo meus pés delicadamente ao som da melodia, mas tudo o que consigo são desajeitados tropeços, um atrás do outro, sem parar; dou o meu melhor para que minha voz encontre novamente o tom e cante tal como os passarinhos que felizes avisam o chegar da manhã, mas tudo o que alcanço é uma nota desafinada, uma após a outra; tento transformar meus pensamentos em poesia, mas os versos não parecem rimar e faltam ainda de uma certa cadência.

Expressar-se requer muito. Requer sua entrega, quase completa, um mergulho de cabeça. Mas somente à uma coisa podemos nos doar por inteiro. Receio que dela não haja mas nem um pingo em meu coração, ele se secou durante seu último adeus. Vê? Esse é o grande problema. Expressar-se requer amar e isso, injustamente, você me tomou. Eu já não sou mais capaz. Resta em mim o vazio, vazio que nunca será pintado, nunca será ouvido, quem dirá compreendido. Não sou nem ao menos capaz de detalhar a única emoção com a qual me deixou para trás.

Deixei de saber como me expressar no momento em que você deixou de me amar.

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