Maré Baixa

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Era outono, árvores altas, avermelhadas, amareladas de caráter cálido e confortável. Havia galhos jogados no chão junto a folhas de todas as cores. Um cervo corria e alguém corria atrás dele, rápido e metódico. Parou de correr quando ele perdeu de vista o caçador, descansou em um corrego achando que não estava sendo seguido.... muito enganado. O caçador parou abaixado entre os galhos e esperou o momento certo. Olho fixos, respiração lenta, mãos pesadas, um tiro e um alvo. Ouvi-se um grunhido no meio da floresta, o caçador abateu a caça, o dia estava ganho. Agora era pôr-do-sol e ele precisava voltar com a caça para seu pai. Ela era pesada e estava sendo difícil de carregar, o caçador estava cansado. Nesse momento se ouviu um uivar e vários lobos se aproximavam do garoto. "Merda!", pensou. Pegou sua faca e se preparou para proteger a caça. Eles o encurralaram contra um o declive de um morro. Um deles avançou, mas o garoto acertou o olho dele com a faca. Ele grunhiu e voltou ao grupo. Os lobos estavam mais cuidadosos agora que sabiam que ele podia se proteger. Um deles avançou contra o garoto e ele o parou colocando a faca em sua mandíbula, mas não havia percebido que outro o atacava. Quando pulou e estava prestes a mordê-lo Bers saiu dos arbustos e acertou a cabeça do lobo com seu machado.
Todos eles recuaram quando Bers matou o segundo lobo com um golpe em suas costas. Eles estavam assustados, mas estavam com muita fome e avançaram. Bers acertou a cabeça do primeiro, desviou do segundo e matou o terceiro. O segundo, estando sozinho, fugiu em direção ao norte.
- O que pensa que está fazendo Abel?!- peguntou ele irritado.
-Coletando a caça.
-Falei para você voltar antes do pôr- do-sol! Você podia ter..- tentou se controlar-..podia ter morrido. E se eu não tivesse aparecido!Não tente nada estúpido!
Abel sentiu a preocupação do pai.
- Eu sei.....desculpe....queria trazê-lo pra casa....
Os dois olharam para o cervo.
-É...foi uma boa caça. - admitiu Bers- mas não tente nada idiota de novo.
-Okay....
-Leve os lobos- Bers segurou o cervo em um ombro e um lobo no outro-Vamos! Chegar tarde não nos renderá nada.
- Tá bom- pegou um lobo no ombro e no outro um também-O que foi?- percebeu seu pai parado.
-Nada...Só vou recolher alguns frutos, vá na frente.
Abel estranhou.
-Okay.
Esperou Abel se afastar e largou o cervo e o lobo. Sentou numa pedra e tentou se acalmar. Seu peito doía e sua respiração estava ofegante: era sua marca. Ela ardia a ponto de dizer "tchau" a sanidade de alguém e Bers a cada ano percebia que ela estava pior que o anterior. Seus olhos ardiam e ele começava a perder a noção do espaço. Em seus pensamentos as palavras "morte" e "matar" ressoavam muito bem e ele vinha aprendendo a cada vez como aguentar a si mesmo. Ele se acalmou e pegou um poco de fôlego, pois a dor diminuindo o deixava recuperar ar.
Bers pegou as caças e refez em sua memória os oito anos que haviam se passado desde que ganhou essa marca. Tudo o que ele teve que passar para Abel estar a salvo....e tudo o que teve que fazer. Como combatera no exercito e fora também comandante, estava acostumado com a vida de batalhas, mas a vida pacífica que vivia agora era algo que ele não conhecia e que, sinceramente, preferia não perder de modo algum. Colocou as caças na carroça e subiu no cavalo. Abel amarrou as caças e sentou na carroça.
-É outono han....
-É...sim..-falou Abel.
-Você irá ganhar um casaco.
Abel sorriu.
-Gostei da idéia.
-Pois bem- chicoteou as rédeas- vamos indo!
Ao longe, uma mulher de um longo vestido, observava intretida e curiosa.
Chegando à vila, decidiram deixar tudo pronto pra manhã seguinte, cortando o cervo e enterrando as partes enroladas em panos, para que as mesmas não estragassem. Abel foi direto para seu quarto e Bers foi se lavar. Abriu a janela do banheiro, colocou água na bacia e comecou a se lavar. No espelho do cubículo havia um homem que aos seus 38 anos tinha muitas cicatrizes e machucados, tinha uma barba avantajada e olhos cor de mel quase ofuscantes, olhos que já viram várias guerras e mortes. Uma das cicatrizes que marcava mais Bers era a que atravessava seu peito direito e percorria todo seu tórax, uma que ele ganhou faz oito anos, mas que lhe proporcionava dor até o seu agora e dela revivia todos os seus momentos dolorosos do passado.
Pegou uma garrafa de gim e bebeu um gole. Sentou- se em sua cama, deixou o gim debaixo dela e se preparou para dormir quando sua marca começou a arder. Pegou seu machado e correu em direção a floresta, sentia o cheiro dela e sabia que ela estava lá.
-Apareça Klaríx!!- gritou aos ventos.
Uma mulher saiu detrás de umas árvores.
-Ora Bers, como é bom revê-lo.
-O que está fazendo aqui?!-perguntou Bers sem rodeios.
-Ora! Como sempre, você não sabe como saudar dama alguma- ela parou um pouco- como esta o garoto?
Bers se infureceu.
- Não lhe interessa de forma alguma e a menos que me mostre um bom motivo para não lhe atacar...
- Uau!- ela sentou em uma pedra- eu esperava um abraço e um quente beijo seu para esquentar meu outono- falava com um tom ácido e sensual que Bers já sabia desviar.
-Depois de tudo que você fez, não acho que eu teria algo a lhe dar.
Ela se levantou.
-Nem se isso tem haver com Abel?
Bers parou perplexo.
-Como assim?!
-Bem, você sabia que essa hora iria chegar meu amor- ela se teletransportou para frente de Bers e paralisou seu corpo com um rapidez que ele não previa. Ela sorriu, beijou sua bochecha e o abraçou. Se afastou e o liberou- O Criador quer seus filhos de volta! E eles decidiu que o único meio de eles aprenderem a ser filhos em vez de deuses é se alguém inferior derrotá-los.
   Bers ficou espantado.
-E o que Abel tem haver com isso?!
Ela sorriu sarcasticamente triste.
-Ownn....bem- ela sorriu - essa parte é um segredo.
Nesse momento ouviu-se uma explosão vinda da cidade.
-É melhor ir olhar seu filhinho- disse sorrindo.
Bers correu em direção a sua casa não ligando para as provocações de Klaríx, que desapareceu nas árvores. Corria desesperadamente com seu machado para sua casa. Chegando, entrou e correu para o quarto de Abel, que não estava lá.
-Merda Abel! Merda!

Ascensão dos MortaisOnde histórias criam vida. Descubra agora