Capítulo 1

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– Perdão padre. Eu pequei.

– Estou ouvindo. Pode falar.

– Há umas duas noites eu tava com o Dinho, meu irmão mais novo, nas vielas do morro, "administrando os negócio", "sacumé". Foi quando os "home" apareceu:

...

– Parados! Mãos na cabeça!

– Que isso sangue bom?

– Cala a boca! Correa, algema neles!

...

Eles não deram a menor chance de reação. Botaram a porta do barraco abaixo, e foram logo dando porrada e algemando nós dois.

...

– Que isso? "Num" precisa disso, pô!

– Presta atenção vagabundo! Que eu vou te explicar a situação. Tá vendo aquele otário que você chama de irmão...?

Bam!

– Ahn!

– Dinho! – Gritou Dil!

– ... Que acabou de levar um tiro na perna? Pois esse foi só o primeiro. Tu vai me dar a grana agora, ou teu irmãozinho vai virar peneira.

– Merda Dil! Fala logo pra eles.

– Relaxa mano. A gente vai sair dessa.

– Falar o quê? Que conversa é essa? – Interrogou o policial

– A grana tem sido pouca, por causa dum tal de padre Lúcio, que veio pra igrejinha aqui perto, e começou uma merda de projeto social. E pra piorar, um cara que tava numa parada com a gente, roubou nossa grana.

– Há... Parece que alguém levou tua grana Milton. – Ironizou o policial Correa.

– É isso mesmo Dil? Tu deixou que um merdinha levasse meu dinheiro?

– Eu vou recuperar a grana, cara. Me dá só mais um tempo.

– Dá um tempo, Dil? Correa! Dá é outro tiro nesse infeliz.

Bam!

– Ahn! Meu Deus! – Gemeu Dinho, levando a mão a outra perna que acabara de ser baleada.

– Pára, porra! Já falei que num precisa disso, seus desgraçados!

– Tu, agora resolveu ser corajoso? Tua coragem vai embora rapidinho quando for a tua vez de levar chumbo, seu mané!

– Milton, eu vou te dar a grana. Só me dá mais um tempo. Eu vou achar o cara que roubou a gente, aí...

Bam!

Dil não teve tempo de terminar de falar. Dessa vez seu irmão mal reagiu ao disparo, realizado por Milton, que atingiu seu abdômen. Estava inconsciente, devido à hemorragia.

– Teu irmão virou peneira. Mas com você vai ser bem pior. Tu vai virar exemplo, pra quem não pagar o que me deve, tá sabendo? Tua sorte acabou Dil.

– Engraçado. Eu ia dizer o mesmo pra você.

– Como é que é?

Milton ouviu um gemido gutural vindo de Dil, que estava de cabeça baixa, e começou a se encolher no canto do barraco.

Estava com as mãos algemadas para trás, quando se levantou, de costas para os policiais, com o rosto grudado na parede de madeira, e arrebentou as algemas.

Milton não estava acreditando que as algemas foram quebradas como se fossem de brinquedo. Talvez por isso tenha demorado para mirar e atirar. Mas, já era tarde demais. Tinha perdido Dil de vista. E de repente, ele já estava bem na sua frente, apertando seu pescoço.

Angelus - A ProfeciaOnde histórias criam vida. Descubra agora