― Está faltando apenas 25 dias para o Natal e mesmo assim o clima não melhora. Dias chuvosos e frios, existem chances até de nevar nos próximos dias. ― falava a mulher do tempo na televisão.
― Obrigada Caren. ― disse uma mulher de cabelos negros. ― Daqui 14 dias completa um ano em que o famoso restaurante se recuperou de um incêndio, o Brouillard.
― Isso sem nos esquecermos do acidente do ano anterior em que uma funcionária caiu em uma das máquinas de triturar carne em 2013. ― disse desta vez outro jornalista, um homem.
― Infelizmente essa tragédia veio para a família Brouillard. As duas jovens irmãs ocorreram o infortúnio de se acidentar dentro do restaurante. E no ano passado, a única filha que restara morreu em um incêndio. ― falou com pesar, mas era óbvio ser apenas uma emoção forçada. ― Agora a Madame Monique cuida sozinha do seu restaurante.
― Apesar de ser um grande pesar, depois das mortes o restaurante da família Brouillard ficou ainda mais famoso.
― Que saco! ― falei desligando a TV. Levantei-me do sofá e caminhei até a cozinha para comer algo. Meu estômago roncava alto já fazia algum tempo e já estava na hora de dar algo para ele digerir.
Preparei um café e quando fui pôr na xícara torci para não deixar cair no meu dorso exposto; estava usando apenas uma calça folgada.
Talvez seja interessante ir ao Brouillard.... Pensei interessado na reportagem.
Balancei a cabeça negativamente. Se minha mãe me visse agora brigaria comigo, ela vivia dizendo que eu tenho um fascínio por coisas estranhas.
Pietro para já com isso. Eu podia ouvir a voz dela em minha mente. Uma pena não estar mais aqui...
Já eram quase sete horas da noite. Fui até a janela e verifiquei se ainda estava chovendo. O céu ainda estava totalmente fechado, mas parara de chover. Coloquei uma caça jeans e um blusão com capuz.
Minha casa ficava um tanto quanto afastada da cidade, assim peguei meu velho carro indo em direção ao Brouillard. As pessoas andavam calmamente. Casais de namorados, solteiros, bêbados, pessoas voltando do trabalho, valentões. Existia de tudo nas ruas de Paris.
Eu sabia exatamente onde era a localização do restaurante, não era a primeira vez que eu ia. Assim que fiquei sabendo do acidente da garota dois anos atrás eu passei a vir neste local, mas quando ouve o incêndio tive de parar de vir para que pudessem reformar. Finalmente, hoje eles estavam inaugurando-o novamente; passaram um ano em total reforma e esperava que o restaurante se mostrasse tão misterioso quanto antes.
Como pensei o mesmo estava lotado. Havia uma enorme fila, e algumas cadeiras lá fora, que infelizmente já estavam cheias. Se eu tivesse sorte conseguiria entrar antes de das nove horas da noite.
Felizmente ou não, gastei uma hora na fila. O local estava bem maior, agora havia banquinhos que davam no balcão; achei uns vazios em um canto e fui me sentar.
― Vodca. ― disse pegando uma dose.
― Interessante este lugar, não? ― perguntou uma mulher loira se sentando ao meu lado. De todas as vezes que eu tinha ido ali eu nunca a tinha visto. ― Sou Alícia, e você?
― Pietro. ― olhei-a atentamente. Certamente era uma jovem muito bonita. ― Pietro Bridget.
― Você vem sempre aqui, monsier? ― perguntou ela, para logo depois soltar uma longa risada. Ao que parecia ela estava tentando ser educada, no entanto, tudo o que conseguiu é que soasse ainda mais sedutora. ― Ok, isto não foi uma cantada. Eu sou detetive, sabe? Não consigo evitar perguntas assim, por mais que pareça uma cantada.
Os olhos azuis dela cintilavam. Era tão bonita.
― Detetive? ― questionei curioso. ― Por favor, não é necessário ser formal. — disse rindo. — Está investigando? Ou não está em horário de serviço?
― Ok! Nada de monsier. ― ela animadamente bebia outra dose de vodca. ― Os dois! E você, o que faz?
― Eu, hm... ― fiquei sem graça em falar que atualmente estava desempregado, mas que não me importava, pois havia recebido uma boa herança de minha mãe.
Não éramos ricos, mas também não éramos pobres. O dinheiro que ela me deixara dava para me sustentar até conseguir algo.
― Já sei, nem me fale. ― como ela conseguia ser tão animada? ― Ainda bem que já passei desta fase.
O seu olhar por um momento me pareceu um pouco nostálgico, mas logo aquele ar animado dela voltou.
― Como você está desempregado, não quer me ajudar em algo?
― Com o que? ― provavelmente eu devo ter feito uma boa cara de curioso, pois ela deu outra risadinha.
― Preciso que me ajude em uma investigação.
― Sobre?...
Ela se virou para mim, pude ter uma boa visão de seu decote. Só agora reparei que ela usava uma blusa branca com uma saia azul, além de um belo salto. O cabelo loiro liso estava amarrado em um rabo de cavalo, mas a franja estava caída de forma sexy sobre seus olhos.
Os olhos azuis pareciam animados e brincalhões, e a boca rosa estava curvada em um belo sorriso.
Ela se aproximou de mim concentrando em meus olhos.
― Belos olhos! ― falou me desconcentrando. Estava tentando não encarar o seu belo decote. Provavelmente ela estava elogiando a cor dos meus olhos, que, aliás, eram verdes. ― Agora, voltando ao assunto. Eu não acho que esses "acidentes" sejam mesmo acidentes.
― E o que você acha que são?
― Assassinatos. ― ela simplesmente se virou para frente e tomou outra dose de vodca.
Meu corpo se arrepiou em pensar que as duas mortes envolvidas com aquele restaurante não eram simplesmente acidentes e sim assassinatos. Só esperava que não estivesse inventando essas coisas.
― Tem certeza?
― Bom, estou aqui para investigar! ― havia parado com o ar de suspense e agora já estava toda alegre. Será que era o tempo todo assim?
Não disse mais nada. Apenas a olhava de rabo de olho enquanto tomava algumas doses. Ela parecia se divertir, na verdade desconfiava que era mesmo um detetive e não uma maluca querendo chamar atenção.
― Aqui está o meu número. ― ela me entregou um papelzinho e me obrigou a salvar no meu celular na frente dela para que não perdesse. ― Agora me passe o seu.
Falei calmamente meu número enquanto ela anotava concentrada.
― E agora? ― perguntei querendo saber o que iríamos fazer. Eu realmente havia ficado curioso e ficaria chateado se fosse tudo uma mentira.
― Agora você espera a minha ligação. ― Alícia desceu elegantemente do banco, podia jurar que vi sua calcinha branca com rendas. ― Até depois, gracinha! ― ela apertou uma das minhas bochechas e por um momento me senti feliz.
Talvez não seja tão ruim assim me encontrar com uma detetive gostosona.
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Brouillard
Mystery / ThrillerBrouillard é um restaurante famoso na cidade de Paris, mas sua fama nos últimos anos não se deu pela boa comida ou pelo adorável ambiente, mas sim por dois acidentes que aconteceram naquele lugar. Em 2014, o restaurante foi incendiado. Ao que tudo i...