Destroçada

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Nem muitas águas conseguem
apagar o amor
os rios não conseguem levá-lo
na correnteza.
Se alguém oferecesse todas as riquezas
da sua casa para adquirir o amor,
seria totalmente desprezado.
Cânticos 8:7

Capítulo 1

Me curvo mais uma vez sobre o vaso colocando o vinho que eu havia ingerido no dia anterior para fora várias vezes em seguido até não sair mais nada. Me sento no chão e encosto na parede passando minha mão trêmula nos lábios sujos e me ponho a chorar, desesperadamente. Eu me sentia tão mau a dias e me recusava a comer alguma coisa o vinho foi meu único porto seguro desde que ela partiu. Como eu sentia sua falta, saudades da sua voz melosa, e até das caretas quando me via fazer algo que não era de seu agrado. Os soluços só aumentavam a cada segundo, sendo induzido pelas lembranças malditas. Me encolho puxando as pernas contra a barriga e enfio meu rosto ali.
Hoje seria seu enterro, após dias em uma sala gelada com várias químicas em seu corpo para não apodrecer. Pensar nisso me fez senti ainda mas náuseas, me inclino sobre o vaso esperando mais líquido descer, não tinha mais nada porem.

"Querida, ai está você" Mary falou deixando a dor que sentia explícito em seus olhos ao me encontrar em um estado tão caótico. Ela se aproximou agachando ao meu lado e me deixou chorar em seu ombro sussurrando que ia ficar tudo bem. Como ia ficar tudo bem? Eu a havia perdido, para sempre.
Depois de um tempo, o choro cessou e Mary foi em busca de toalhas limpas para que eu tomasse uma ducha. Levantei-me com as pernas bambas e parei em frente ao espelho me analisando. Eu estava horrível, olhos inchados, o rosto que sempre houve cor estava pálido como de um fantasma, eu estava tão magra que era possível vê os ossos em algumas partes do meu corpo. Fundo do poço era o que descrevia a ocasião.

Mary chegou me mandando apressar-me, o enterro seria daqui a meia hora e precisávamos chegar cedo. Concordei com a cabeça me despindo logo em seguida me enfiando debaixo da água gelada. Ótimo, eu precisava dela assim.

Ao sair do banho minha roupa negra repousava em cima da cama junto a saltos da mesma cor. Suspiro e visto minhas roupas íntimas logo em seguida seco meus cabelos castanhos e o prendo no alto da cabeça deixando as mechas em seus lugares. Me enfio dentro do vestido de cetim, e calço os sapatos. Estava pronta.

"O táxi chegou" Mary apareceu na porta.

"Já estou descendo" murmuro com a voz rouca.

Uma vez mamãe me disse que as coisas mais valiosas do universo são as almas, elas são limpas, cheias de energias, e em um mundo desconhecido há batalhas por elas, grandes batalhas. Ela adorava contar essas histórias antes de me pô para dormir, ela falava que não me deixa-se enganar, existia o bem, mas, também existia o mal. A luz vagava por ai, sempre em conflito com as trevas. Eu sempre a questionava como ela sabia de todas essas coisas, e ela respondia: Um dia minha pequena Audrey, você irá entender tudo.
E eu sorria assentindo pronta para dormi, e com um beijo de boa noite ela sussurrava: Não se preocupe, seu anjo da guarda sempre estará contigo.
Pura ilusão, se os anjos da guarda estivessem conosco, nos protegendo de todo o mal a teriam protegido também. Agora, ela está esticada em um caixão, pronta para receber terras em cima de se. Mordo o lábio inferior segurando as lágrimas teimosas ao vê mamãe ser posta no fundo de um buraco. Me perguntando constantemente o que eu fiz de errado para Deus, ou quem quer que seja, tira-lá tão bruscamente de me. Eu não confiava mais nele, nunca mais, mamãe poderia confiar de olhos fechados, mas, eu não. Ele tirou sua vida, a tirou de me, assim como fez com meu pai, e hoje me encontro sozinha e perdida. Jamais fui protegida por anjo da guarda nenhum, pura invenção de padres, pastores, que nos fazem acreditar em coisas inexistentes. Aliás, é assim que o mundo é constituído, através da mídia, ela vem lança, faz propaganda e nós meros seres humanos burros seguimos.

Depois de um tempo, o cemitério já estava praticamente vazio, todos a quem eu conhecia haviam partido, e Mary havia ido visitar o túmulo de seu ex namorado. Me aproximo da mais nova lápide do pedaço. Amber Marie Hollander. Deixo meus joelhos cederem em frente à ela e me ponho a chorar involuntariamente, desesperadamente, como um bebê que não é atendido de imediato. E que queria ser ninado pela mãe, era exatamente isso que eu queria afinal. Que ela estivesse aqui. Comigo. Eu só conseguia sentir o vazio dentro de me, algo oco que jamais irá sarar, uma dor tão cruel que não desejaria a meu pior inimigo. Abro os olhos soluçando, sentido as lágrimas gordas rolarem por minha face. Porque me deixou mamãe? Você era tudo para me, minha única família. Como pôde me deixar sozinha nesse mundo imundo?

"Não chore" uma voz grave soou pelo lugar, interrompendo meus pensamentos. Ela me transmitiu paz, uma calmaria por uma pequena infinidade de segundos, difícil de descrever, algo tão limpo e profundo, lavando a minha alma. Por pouco tempo porém.

"Por favor, saia daqui." Murmuro me sentindo exausta. Já havia aguentado tempo demais sem chorar, e finalmente estava colocando tudo para fora, não queria consolo, ainda mais de um estranho mostrando a educação.

"Não, você precisa para de chorar, está me machucando assim." Ele continua se aproximando de me com o rosto contorcido em dor. Me afasto bruscamente e me levanto sem se importar com o fato de meu joelhos estarem cobertos de neve, olhando com indignação para o homem em minha frente, alto, cabelos castanhos e ondulados, olhos verdes encantadores. Sua roupas era um terno negro bem passado. Eu até me sentiria atraída se não fosse pela ocasião. Solto uma risada irônica. Como ousa?

"Você está equivocado, nem conheço você como pode dizer algo assim? Procure outra pessoa para encher a porra do saco" digo com o tom de voz alto e me retiro dali a passos largos. Ele permaneceu parado e me observando com a mesma expressão de dor. Quem achava que era? Falar algo assim como se fosse tão, próximo. Só podia está louco.

A neve que se instalará no chão de Holmes Chapel me impedia de chegar a Mary rápido, e o salto só piorava, mas continuei mesmo assim.

"Por favor, me tire daqui" digo ao encontra-la em pé ao lado da lápide de Jarry. Parecia está longe, mas me olhou atentamente com o ar preocupado.

"O que houve Audrey?" Questionou.

"O que houve Mary? Como assim o que houve? Não vê que minha vida está uma droga? Eu só quero ir para casa, não lhe devo explicação alguma." Disparo sentido meus olhos ameaçarem a vazar. Minha amiga me lança um olhar magoado o que só me faz senti ainda pior. Talvez eu tenho pegado pesado demais.

"Tudo bem, desculpe. Vamos!" Ela murmura me tirando dali.

Adentro a sala espaçosa trancando a porta em seguida, jogo meus sapatos no chão sentido o carpete felpudo fazerem cócegas nos meus pés. Suspiro me jogando no sofá mais próximo. Além do sofrimento mamãe também havia deixado contas, e isso queria dizer que eu seria expulsa dessa casa em semanas para pagar o que devo. Havia tantos momentos aqui, tantas lembranças, meu coração estava ficando minúsculo a cada instante desse maldito dia. Deixar a casa vai ser tão difícil quanto foi deixa mamãe, doloroso o bastante para me deixa fora dos eixos. Eu sou um lixo.

Fecho os olhos sentindo a cabeça prestes a explodir, porém, assim mesmo minha mente não deixou de me levar até o homem no cemitério, ele trouxe em algumas palavras uma paz tão deliciosa, tão cheia de energia, adoraria senti aquilo novamente, mas ele é um desconhecido, um desconhecido bonito, mais ainda sim um desconhecido. Porém, aquela paz, tirando todos os meus problemas da mente por alguns segundos, como se eu estivesse em um jardim com diversas flores de todos os tipos e cheirosas que me deixavam respirar, diferente do odor que eu me encontrava, como um buraco escuro e fedido, sem fim e cruel, me corroendo por dentro. Meus olhos estavam pesando, e eu sabia que precisava dormi, passo as mãos pelos cabelos embrenhados e me levanto um pouco zonza me arrastando para o quarto bagunçado. Com as pernas bambas subo a escada de madeira apoiando-me no corrimão, um pé em falso e eu me juntaria a mamãe. Riu ironicamente. Talvez eu queira isso.

A visto a cama coberta e me jogo nela sentindo a cabeça rodar ainda mais, talvez eu esteja ficando doente. Com toda a certeza, minha imunidade está mínima, mas, dane-se. Tudo que desejo é dormi, dormi e não acorda nunca mais.

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Notas da Autora: Espero que tenham gostado do primeiro capítulo de verdade, comentem o que acharam. Não importa se for ruim ou bom, somos fortalecidos através de críticas e sugestões. Eu prometo que não falharei com vocês, sempre estarei aqui postando e de verdade, espero fazer vocês chorarem, rirem, puxar os cabelos de ansiedade. Beijos de Viih. 💕

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