Após a discussão na sala de jantar, me vi saindo pela porta da frente e pulando degraus da escada do casarão sem ter comando sobre os meus pés. Imaginei ser a forma que meu corpo usou para extrair a raiva crescente dentro de mim. Não conseguia parar, e só me retesei quando percebi que estava distante o suficiente, e não havia ninguém me seguindo. Não houve gritos pedindo que eu ficasse nem cadeiras se movendo e pessoas correndo atrás de mim. Por um breve segundo me senti mal por ver o desinteresse, mas foi melhor assim. Me seguir seria apenas estender a briga para o terreno de fora. Sem saber o que fazer e vendo que estava a alguns bons metros a frente da casa, no meio da estrada que me trouxe ao casarão, me joguei no chão sem me preocupar com a neve aos montes, sentada de índio com o rosto colado as palmas das mãos. Eu queria me esconder, mesmo que não tivesse ninguém ali para ver, eu queria fingir que alem de tudo não existiam as arvores gigantes que faziam papel de cerca impedindo a visão para alem delas a bons quilômetros a frente. Nem céu acima de minha cabeça, nem terra alguma abaixo. Queria apenas flutuar. Soltei meu rosto percebendo o quão molhadas estavam minhas mãos. Chorar era um sinal de que eles conseguiram me magoar no nível máster. Me considerava uma pessoa chorona, então evitava chorar por qualquer coisa pra não ser nomeada como manhosa, era uma meta. Mas aquela tinha sido difícil de passar. Era irônico, nem mesmo quando quebrei o braço no escorrega da escola aos seis anos chorei. Nem quando fui excluída dos times de vôlei do colégio, nem quando não pude me formar no ensino médio corretamente. O que martelava em minha mente era o fato de ser rancorosa. Eu nunca me vingaria de alguém que me chateasse, ainda mais meus pais. Porem seria difícil perdoá-los. Tinha algo muito errado acontecendo. Comecei a sentir uma pontada de desespero crescer junto a raiva. Me sentia extremamente claustrofóbica. Aquela carga de coisa novas acontecendo não condiziam com o que eu esperava. Dizer que queria novas experiências não incluía as ruins todas de uma vez só. Era como um trem cheio de pólvora fora dos trilhos.
Olhei para o alto, as arvores impedia a passagem do sol na estrada, elas deviam ter uns cinqüenta metros, com as fortes folhas e galhos cheios de neve. Me virei e idealizei aquele túnel de arvores como a entrada planejada para uma prisão.
Me assustando e desvanecendo meus pensamentos deprimidos, um movimento nos arbustos me fez saltar de susto. Já não era uma boa idéia ficar ali e o barulho me comoveu a me levantar. Estava escuro e eu devia ter pensado antes de andar para longe, mesmo tendo a casa em minha reta de visão. Dei alguns passos em direção a casa, mas não me senti confortável ao fazê-lo. Ainda estava chateada e parte de mim não queria entra lá ainda. Outra parte dizia que não deveria ficar ali também. Olhei com atenção por entre as grandes arvores, notei que havia trilhas entrelaçadas que daria em algum lugar além daquelas enormes proteções. Senti brotar uma curiosidade. Me aproximei e percebi que nas poucas fendas entre as arvores havia arames. Varias tiras tão próximas que impediriam até mesmo um coelho de passar dentre elas. Aquela proteção toda parecia ser desnecessária. A floresta adiante aparentava tranqüilidade, com a luz da lua que a essa altura já estava aparecendo no alto, tudo parecia bonito.
Sem pensar de novo comecei a escalar a cerca, na descida do outro lado, minha sapatilha se enganchou no arame. Não deu tempo de me segurar e cai pra trás ganhando um rasgo na calça. A primeira coisa que vi foi o céu começando a se estrelar e quando me sentei, o sangue sobre a ferida na canela direita. Lamentei a calça que era uma das que mais gostava. Mesmo sentindo dor, limpei a ferida e me levantei. Minhas meias estavam molhadas da neve que adentrou a sapatilha quando cai, sacudi os pés e me virei para a mata, sabia quão burra era a idéia de entrar na floresta, mas continuei caminhando.
Pisando em folhas mortas e atolando os pés em montes de neve acompanhei animais que insistiam em fugir de mim, observei e guardei cada pedacinho do lugar em que ia seguindo. A trilha não era larga e me indagava porque estavam ali, e quem as usava. O lugar era grande, e a luz que refletia no imenso branco no chão deixava o ambiente mais aberto para a visão. Quando já tinha feito uma boa caminhada adentro, parei para olhar algo. No meio de tantas arvores, duas se destacavam bem a frente. Um arco perfeito era formado por seus troncos verdes brilhosos, diferente das outras que eram esbranquiçadas. Haviam folhas viçosas e um monte de flores, aos pés das arvores havia uma linha de terra seca. Aquilo era estranho, como se aquelas arvores não fizessem parte da floresta. Como uma criança curiosa, me aproximei das arvores, tocando as flores que tinham um cheiro bom. Passei por debaixo do arco e quando me dei conta. Uma corrente de vento chicoteou meu corpo inteiro impulsionando para frente, me desequilibrei caindo no chão com força suficiente pra perder o ar dos pulmões.
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Alya - Por quê não?
FantezieInconformada com as mudanças saindo dos trilhos, Alya começa a buscar respostas e acaba descobrindo coisas que nunca imaginaria conhecer. o que sera que a espera ? Não esqueçam de comentar o que acharam ...é muito importante para o progresso da his...