4

272 2 0
                                    


— Esse cachorro é uma vergonha absoluta — disse Rube, e eu compreendi que certas

coisas nunca mudariam. Apenas sumiriam e voltariam.

    Após todo o episódio do ponto de ônibus, cheguei em casa e, depois do jantar, Rube e

eu fomos levar Miffy, o cachorro nanico do nosso vizinho, para seu passeio costumeiro.

Como sempre, vestíamos os capuzes para que ninguém nos reconhecesse, porque, nas

palavras do Rube, a visão do Miffy era um desastre completo.

— Quando o Keith arrumar outro cachorro — sugeriu ele —, vamos pedir para

arranjar um rottweiler. Ou um dobermann. Ou, no mínimo, alguma coisa com que se

possa ser visto em público.

    Paramos em um cruzamento.

    Rube se inclinou para Miffy e, em um tom super amistoso, disse:

— Você é um cretininho horroroso, Miffy, não é? Não é? É, sim. Você sabe que é.

    O cachorro lambeu os beiços e arfou, todo contente. Não tinha a menor ideia de que

Rube o estava sacaneando. Nós três atravessamos a rua.

    Meus pés se arrastaram.

    Os do Rube passeavam.

    Miffy andava aos pinotes, e a guia tilintava junto dele, no compasso da sua respiração.

Olhando-o, percebi que ele tinha o corpo de um roedor e a pelagem de alguma coisa

que só poderia se chamar de espantoso. Como se tivesse girado mil vezes em uma

secadora de roupas. O problema é que adorávamos aquele cachorro, apesar de tudo. Na

mesma noite, ao chegarmos em casa, eu lhe dei o pedaço de bife que a Sarah não

conseguira terminar na janta. Infelizmente, estava meio duro para os dentes fraquinhos do

Miffy, e por pouco ele não engasgou.

    — Mas que diabo, Cameron. — Meu irmão riu. — O que está tentando fazer com o

pobre cretininho? Ele está entalado.

    — Pensei que não teria problema.

    — Não teria problema o cacete. Olhe para ele — disse Rube, apontando. — Olhe só

para ele!

    — O que devo fazer? — perguntei.

Rube teve uma ideia:

    — Talvez você deva tirar a carne da boca dele, mastigar um pouco e depois dar a carne

a ele.

    — O quê? — Olhei para Rube. — Você quer que eu ponha aquilo na boca?

    — Isso mesmo.

    — Talvez você deva fazer isso.

    — De jeito nenhum.

    Aí basicamente deixamos o Miffy se engasgar um pouquinho. No final, não pareceu

mesmo tão grave assim.

    — Vai fortalecer o caráter dele — sugeriu Rube. — Nada como uma boa engasgada

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Aug 11, 2016 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

A garota que eu queroOnde histórias criam vida. Descubra agora