Acordei desorientada, sem saber como, quando ou o porquê de estar em um quarto estranho pintado de uma cor creme, e estar escutando um barulho constate me irritando. Meu olho esquerdo estava com algo em volta dele, o que me impedia de ver qualquer coisa daquele lado. Tentei retirar o que estava me impedindo de enxergar e não consegui levantar meu braço, e ao olhar para ele, o vi todo enfaixado e preso a cama, e ao tentar várias vezes me desfazer dessa prisão puxando o braço, alguém levantou de algum lugar e veio até meu lado, mas não consegui ver quem era, pois, a pessoa foi inteligente o suficiente de ficar do lado em que não conseguia ver nada, o esquerdo. Bufei, o que fez o indivíduo se mover para o outro lado, e estranhamente consegui ver quem era somente quando chegou próximo ao meu rosto.
Tentei falar, mas minha garganta estava seca e irritada. Mika foi até o pé da cama e voltou com um copo e um canudo em minha direção. Tomei a água com dificuldade, mas agradecendo por conseguir falar, com voz rouca e fraca, mas já era alguma coisa.
Perguntei o que estava acontecendo, o que eram aquelas amarras nos meus braços e por que tinha uma venda no meu olho, mas ao prestar atenção nela, vi que estava se segurando para não chorar, ela levantou a mão para tocar no meu rosto, mas se deteve e se desculpando saiu do quarto sem responder qualquer uma das perguntas que fiz.
Fiquei sozinha por um tempo tentando entender por que a Mika saiu desse jeito e tentando lembrar algo que me dissesse por que estava enfurnada em uma cama de hospital.
Hospital? Eu estava em um hospital? Claro, onde mais seria? Esse barulho irritante era daquelas maquinas que medem os batimentos, esse quarto com essa cor sem graça e essa cama com proteção só poderia ser de um hospital. Mas por que eu acordaria aqui?
Do nada começaram a vir flashes aleatórios de algum sonho ou lembranças, eu não sabia dizer até então.
Eu conseguia ver nós quatro junto de nossos companheiros; conseguia ver nós dois em momentos só nossos, nossos olhares e sorrisos; as festas que participamos; lugares que visitamos... e a última visão foi de todos nós indo passar o feriado na casa de praia dos pais da Sue, o dia na praia, as brincadeiras dentro e fora da água, o momento no quarto, nossa declaração de amor (o que me pegou desprevenida e me fez ver que eu já estava apaixonada a muito tempo), fumaça e fogo. Muito fogo.
Fogo. A casa estava em chamas. Já havia pegado o primeiro andar inteiro. Sue estava gritando para acordarmos e sair da casa, mas que teríamos que arranjar um jeito de sair por cima. Nick conseguiu ajudar todos a chegar ao sótão e sair pelo telhado até o telhado da garagem, que ainda estava intacto, ao contrário da casa. Ele e o paquera da Mika ajudou um por um a subir na árvore que tinha ali perto, depois ele ajudou o garoto e quando foi subir, o telhado cedeu...
Comecei a tremer e sentia minha garganta se fechar. Não conseguia mais respirar, não entrava e nem saia mais ar, e minha visão já embaçada pelas lágrimas foi escurecendo, a última coisa que lembro foi dos seus olhos me mostrando seu amor...
Passei quase três anos no hospital entre cirurgias e fisioterapia. Tiveram que fazer enxerto de pele em regiões pequenas das pernas, barriga, braços, mas o mais prejudicado foi o rosto. Os médicos diziam que eu poderia voltar a ter um rosto quase normal, que poderia fazer implante capilar nas regiões que não nascerem mais cabelos. Eu respondia quando devia e acenava com a cabeça, mas não estava nem um pouco preocupada com nada disso. Por mim, poderiam me deixar do jeito que estava, nada mais me importava. Exceto uma coisa. Meu pequeno Mickael, ou Mick.
Eu descobri que estava grávida depois de acordar e os médicos me explicarem os acontecimentos e a gravidade do meu caso. Depois de o teto desabar, eu desci da árvore e fui correndo para a garagem que como o fogo havia deixado a casa toda frágil, consegui quebrar a parede ao lado do portão e entrei, queimei boa parte do meu corpo tentando chegar onde eu achava que encontraria o Nick, o meu garoto. Conseguiram me tirar de lá momentos antes da garagem desabar. Eu não lembro muito pois no momento que entrei, o fogo estava tão alto e a fumaça tão carregada lá dento que desmaiei em segundos.
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A Bela e o Monstro
ContoEsta é uma pequena história sobre uma bela garota que vê sua vida transformar do dia para noite. E que por ironia do destino,ou não... vive seu próprio conto de A Bela e a Fera...