Capítulo 08

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8.

Eu não sabia o que fazer. Mal sabia o que responder. Mas apenas fiz. Puro instinto.

- Porque posso. E farei muito mais se não aparecerem. A quem devo dirigir a palavra? Quem, dentre vocês é o líder daqui? Quem, dentre vocês é responsável por tanta morte nesse recinto?

- Ninguém é líder aqui... – Sussurrou outra voz.

- Somos todos seguidores... – Sussurrou outra.

- Somos todos vítimas – Sussurrou uma terceira.

- COMO VOCÊ!!!!!!!!!!!!! – E, num grito, um vulto qualquer me atravessou. Não senti dor, apenas uma tontura e uma visão turva.

Estava eu, agora, flutuando no teto da casa, como ela deveria ser: iluminada, arrumada, em ordem. Uma família, alegre, janta como qualquer outra. Servem chá. De maçã. Ora! Quem diabos toma chá de maçã hoje em dia? Hoje. Em dia. Então? Não eram tempos atuais! Percebi pelos relógios de parede marcando 23h59. Pelas vestes antigas. Pelas pessoas naquela casa. Que se tornou outra e mais outra e outra. Até que a família não voltou mais para o jantar. A sala foi ficando escura novamente. E apenas corpos, dilacerados, eram servidos. E uma só pessoa se servia, faminta...

- Voz de veludo? – Balbuciei, sem pensar.

- Você já viu demais, criança – Disse-me uma das tantas vozes naquela casa. Agora só havia escuridão. Na casa. No meu corpo. Na minha alma.

- O que houve aqui?

- Morte. Mortes. E sempre será assim. – Responderam.

- Por quê?

- A casa tem fome, criança. Precisa ser alimentada. Mas você, não. Você é indigesto demais. Não serve para ela. Sua carne e sangue são das voragens. Você precisa cuidar desse ferimento. Ou vai morrer como todos aqui.

- Mas a voz de veludo... Ela...

- Ela o atraiu aqui para alimentar a casa. Não a culpe. Está apenas fazendo o papel dela. Faça o seu e ponha um fim nisso.

- A casa precisa de sangue. Se não seu, o dela.

- E se eu me recusar?

- Você não tem opção. Está morrendo. E sabe disso. Quantos já matou? Para não morrer? E sem piedade? Para sobreviver? O que são só mais alguns litros de sangue para seu curriculum mortem?

E minha vida, novamente, foi posta à prova. Era pegar ou largar.

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⏰ Última atualização: Aug 26, 2014 ⏰

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