Noite de Novembro

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Dezoito de novembro, e é, provavelmente, o dia mais frio do ano, pelo menos em Arcadia. Nos Estados Unidos, a cada dez pessoas, apenas uma acredita que o destino catastrófico de algo, ou alguém, pode, ou poderia, ser evitado de forma racional. As outras nove, se dividem entre os que acreditam em destino imutável - onde o ser humano não interfere no processo natural das coisas - e Deus.

Já passa das 6:30 da noite, as pessoas estão chegando em casa, de seus trabalhos exaustivos, ligando os aquecedores e preparando o jantar.

- Posto policial de Arcadia. - diz a atendente.

"Tem alguém atirando! Alguém está atirando na escola!" grita a voz ao telefone. A jovem está desesperada e pedindo por ajuda. Mesmo que na situação mais tensa existente, é exigido de uma atendente de emergência que mantenha-se firme e prossiga com a mesmo processo cognitivo.

- Arcadia High School? - questiona ela, enquanto aciona as viaturas para irem para o local.

"Isso! Isso! Por favor, rápido, mandem polícia pra cá...", Madison Retenson implora por ajuda. Ela e a amiga estão abaixadas, escondidas, atrás de um dos carros do estacionamento. As garotas estão desesperadas e tentam não fazer muito barulho.

- Mantenha a calma e tente se afastar do local, você está em um lugar seguro? - a atendente pergunta, mas é possível ouvir um disparo ao fundo.

"Estou, estou! Eu e minha amiga estamos do lado de fora da escola, mas tem gente lá dentro, tem... tem gente lá dentro! A nossa amiga está no vestiário feminino e tem gente nas salas!", Madison está com muita dificuldade para responder as perguntas e chora ao telefone. As duas estão uniformizadas como líderes de torcida, em rubro e branco, com agasalhos, realmente quentes, por cima.

- Estamos enviando ajuda. Mantenha-se ao telefone e informe qualquer movimentação que presenciar. - a atendente também parece muito nervosa e, sem ter o que fazer, aciona todas as viaturas para o local. Era algo que nunca havia acontecido na cidade que, em seus muitos anos de existência, sempre foi calma demais.

Arcadia é uma cidade de dias e noites tranquilas, nada grandioso, nenhum artista vem à cidade, nenhum crime de grande porte. "Essa cidade é um porre", seria algo que Ruth diria para Georgia a caminho da escola. Ela passava na casa da amiga, todos os dias, faltando quinze minutos para a aula começar. Mesmo nos dias quentes, ensolarados e extremamente claros, as duas demarcavam a personalidade delas em roupas pretas.

Banda indie, volume alto, Ruth começava o dia com um cigarro na boca e terminava com o maço no último, nesse fluxo de gastos, metade da mesada ia embora em fumaça. Georgia não fumava, nunca gostou muito disso, mas não se importava com o cheiro e não podia se dar ao luxo de dizer que aquilo fazia mal à saúde, sempre que falava em bebida, ela era a primeira.

Passar pelos corredores de Arcadia High School por quatro anos consecutivos deve ser a tarefa mais entediante de alguém em toda a sua vida. É tudo neutro demais. Armários cinzentos, alguns cartazes perto dos bebedouros e lixeiras, o baile de inverno estava próximo, as meninas começavam suas campanhas para se elegerem rainhas, algumas esperavam convites dos namorados, namoradas, parceiros e parceiras, e alguns nem se davam conta de que o evento aconteceria.

Gwen Curnway era o rosto da escola, mantinha uma média ok, um número de faltas aceitável, e, mesmo com alunos mais bem avaliados, "quem seria melhor para representar nossa querida instituição?", anunciava o diretor, no auditório. Uma campanha contra o bullying seria protagonizada por uma menina alta, magra, branca, loira e rica. Pra ser sincero, nem era surpreendente, então, a maior parte só aplaudiu, afinal, era "GWEN CURNWAY! A filha da ex-modelo de uma marca famosa". Na maior parte do tempo, ela desfilava pelos corredores, essa era sua função na escola, já que não fazia nenhuma extracurricular e não prestava atenção nas aulas, exatamente o contrário de Russel.

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