Arcadia Six

A Ordem do Gatilho

"É com muito pesar que reportamos a morte de Gwen Curnway, de dezoito anos, às 18 e 45 do dia 02 de dezembro. Devido à uma parada cardíaca, a jovem não resistiu à um atendimento de emergência e veio ao óbito."

A repórter do canal 4, Melissa, anuncia o trágico evento. Com aquilo, o país reviveu a tragédia em Arcadia, caso que chocou a todos no dia dezoito de novembro. Para alguns, era "um evento trágico sem sobreviventes", para outros, era "o fim de um caso terrível", mas, para Lena, mãe de Gwen, aquele era o momento mais doloroso que alguém poderia passar, aquele era o momento onde uma chama de esperança cessava e a última vela da igreja era apagada. Ela acompanhara a filha nas duas últimas semanas e, por mais que fosse contra todos os meios naturais, ela acredita na recuperação milagrosa da filha, mesmo com todos os médicos murmurando sobre ela estar piorando. Mãe. Contra tudo e todos, ela fechava segurava o sono e imaginava Gwen abrindo os olhos, se levantando daquela cama e reclamando sobre como estava horrível sem a maquiagem. Mãe.

Com óculos escuros e vestindo uma jaqueta da filha, a senhora Curnway tentava escapar dos jornalistas e entrar no carro, enquanto Gwen era levada para a funerária. Processo padrão. Depois de entrar no carro, com os vidros fechados e o motor desligado, Lena abaixa a cabeça no volante e chora o mais alto que pode, gritando e soluçando. Ao notarem o que está acontecendo, os jornalistas com bom senso se afastam do carro e reservam um tempo para a senhora. "Gwen! Gwen! Não!", gritava de dentro do automóvel, enquanto um ou dois repórteres se emocionavam com o que viam.

Dezembro começa a dar espaço para decorações de natal, mas as comemorações de diversas famílias estarão paradas, nem mesmo há o que se comemorar. Algumas guirlandas começam a aparecer nas portas das casas, alguns penduram outras decorações e esperam que a neve comece a engrossar para complementar os espaços. Alguns pisca-piscas e árvores de natal se espalham pelos estabelecimentos comerciais e as promoções de peru de natal, presentes e produtos para a ceia começam a ser anunciadas.

Georgia passou uma boa parte do ano juntando dinheiro para comprar um colar que tinha notado que Ruth sempre encarava ao passar por uma joalheria. Sem ter o que fazer com aquele embrulho, ela foi até a loja para devolver, mas o atendente disse que não aceitavam devoluções de produtos sem nota fiscal.

- Você me vendou isso! Qual é? Você se lembra de mim, o embrulho está intacto—

- Eu não posso, não estou autorizado a fazer isso, lamento mesmo.

A jovem sai da loja, soltando vapor pela boca, enquanto respira. Ela usa uma touca preta e protetores de ouvido, junto de um sobretudo escuro que cobre um vestido azulado, deixando apenas a beirada para fora. As botas quase no joelho cobrem o resto do corpo, com uma meia ainda mais alta que os calçados. Ela passa pela lixeira e joga a caixa, e o papel de presente, fora. O colar é como uma moeda, talvez um pouco maior, com o símbolo Wicca marcado dos dois lados. Ele se abre ao meio e é possível colocar uma foto de cada lado. Georgia pega uma pequena foto de Ruth, guardada na carteira, e a coloca no colar, passando a usá-lo depois.

O vazamento do vídeo que anunciava que a morte de Timothy não foi um suicídio, resultou em um estado de alerta constante. A polícia investigava todas as pessoas envolvidas, e, novamente, diversos alunos, professores, familiares e amigos das vítimas tiveram de comparecer à delegacia.

"Eu não faço ideia de quem possa ter sido... Eu nem conhecia esse cara", diz Michael ao delegado. Ele foi mencionado no depoimento de Georgia sobre o envolvimento dele com Ruth. "Pera, não foi suicídio?", pergunta um estudante que aparentava não saber das últimas notícias. "Pode ser tanta gente... O mundo odeia esse cara e, quando vazou o primeiro vídeo, com ele entrando na escola, muita gente estava motivada em reconhecê-lo e acabar com ele.", evidenciou um outro jovem. A luz daquela sala deixa qualquer um acuado e inseguro do que diz. A mesa centralizada no ambiente, as persianas fechadas, os objetos seguindo um padrão monótono e os homens uniformizados vigiando a porta. É intimidador.