Vida Nova

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Fiquei no quarto assistindo a TV, de 20 em 20 minutos uma enfermeira nova vinha. Foi um dia de "calma" digamos assim, tirando as partes de perguntas.

A porta do quarto se abriu como um estrondo me dando um susto. Logo policiais entraram no quarto.

- Manuella Tavares, sou a Comandante Sousa. - Então era ela. A mandante da invasão ao morro? Se eu estivesse com a minha lara aqui já havia descarregado o armamento todo na cabeça dessa desmiolada. - Estou aqui para te fazer algumas perguntas.

Alguns policiais foram se espalhando pelo quarto como se estivessem me escoltando.

- Algum problema Sra. Delegada?

- Muitos. Ela me repreendeu com o olhar. O Morro do Limo foi tomado pela polícia, Alice Oliveira esta desaparecida assim como seus capachos. - estava pronta para gritar e meu corpo fervia.

- E o que tenho haver com isso? - perguntei seca.

- Tem ideia do paradeiro deles? - Neguei com a cabeça. - Tem 17 anos, mora no Morro do Limo e não tem conhecimento de nada? - neguei novamente. - Levou 2 tiros e não tem noção de onde sairam?

Respirei fundo ao lembrar de JN e neguei.

- Responda com palavras! - A tal comandante gritou.

- Não! Eu não sei! Não sei onde AC pode estar, não tenho conheci...

- Quem é AC? - Ela disse me interrompendo. - Disse que não eram amigas.

- E não somos! Mas ela é conhecida como AC, você não tinha o conhecimento disso?

A tal comandante me olhou com ódio e pude ouvir "favelada" antes da mesma sair do quarto.

- Quando for liberada, vai retornar ao morro para pegar suas coisas e irá morar em um apartamento com escolta de um dos soldados. Até lá, não ira receber visitas. - Um dos policiais pronunciou alto até de mais e bateu forte a porta me deixando novamente sozinha no quarto.

***

Os dias se arrastaram como nunca. Sorte minha ser tão invisível na mídia assim, caso contrário teriam várias fotos minhas ou da minha irmã.

Foram exatamente 3 meses longe de casa. O tiro na perna levou menos tempo, já no abdômen vai ficar cicatriz.

Estava entrando no morro quando alguns moradores vieram me cumprimentar. No começo fiquei com medo de alguém me chamar de Alice ou de AC mas o protocolo estava sendo seguido.

Fui para minha casa normal mesmo, não ligava se era casa da AC ou da Manuella, ali que estavam minhas coisas. Fernanda, a moça que trabalha lá estranhou mas logo me ajudou com as malas e as coisas.

- Sabe que não deveria estar aqui, Alice! - ela me chamou atenção.

- Manuella!

- Não ache que isso vai durar para sempre, nem que vai sair desta casa e voltar como se tudo estivesse normal.

- Fernanda. - Segurei seu rosto que aparentava cansaço dos anos. - Vai dar tudo certo. Recebeu notícias da Priscila?

- Ela esta bem.

- Meus documentos? - Ela me entregou documentos, carteirinhas e claro, o passaporte. Todos no nome de Manuella Tavares como havia dito para JN fazer. - Se cuida!

Abracei ela e peguei a bolsa que TD separou para mim. Saí de casa e fiquei alguns segundos olhando minha casa.

As lembranças logo invadiram minha mente, o balanço que minha mãe brincava comigo, quando papai chegava do trabalho e me rodava tão no alto que era possível ver o morro todo, os biscoitos antes de dormir, quando dormia no sofá e acordava na cama. Todos esses momentos ficarão marcados, inclusive a bala que meu pai tomou, a depressão em que minha mãe entrou me levando a constar que estava sozinha. Até Priscila chegar na minha vida, filha da minha amiga que faleceu em seu nascimento, sem conhecer o pai, prometi cuidar dela.

Desci o morro olhando para baixo até ser puxada com força. Dei um murro no sujeito sem dó, o olhei e descobri que era Paulo.

- De qual é Alice?! - ele disse massageando a testa.

- Manuella, Paulo! Manuella! - o repreendi.

- Precisa voltar! Esses policiais tão agredindo todo mundo! Sabe a doidinha ali de cima? Tá ameaçando de desarmar o plano! Eu não sei mais o que fazer

- Contenha e preserve o plano, se me pegarem eu to morta, saco?! - Paulo afirmou.

- O que que tá acontecendo aqui?! - Um policial entrou no beco. - Manuella Tavares, não é mesmo? - afirmei. - Você tá sobre escolta policial!

- Mil perdões chefe, - disse pensando em uma estratégia, me virei para Paulo. - Prometo voltar, amor. Enquanto isso, se cuida.

- Não Manu! Eu cuido de você - ele disse fazendo drama. Sacou rápido.

- Eu vou lutar por uma vida melhor. - Saí do beco e senti o policial atrás de mim.

O morro não estava mais sobe meu comando....

Sangue FrioOnde histórias criam vida. Descubra agora