Como em todo livro devo começar pelo começo, mas não o começo de minha existência pois é claro que isso seria um saco. Disse anteriormente que minha memória não é das melhores, então não esperem que lembre tudo nos mínimos detalhe, porem irei me esforçar.
Lembro-me que tudo começou naquela pequena floresta em que vivia, no sul do país, onde nada interessante acontecia. Sim, apesar de ser entranho, vivia em uma floresta. Na verdade não vivia na floresta, sempre estava de mudança, andando pelo mundo, sem um local específico para ficar. Não tinha muitos objetivos na vida, mas ficar parada sem fazer nada não era um deles, por isso sempre estava andando, no intuito de achar algo interessante ou até mesmo fazer minha própria evolução pessoal. Nunca fui alguém que gostava de se envolver ou se comunicar com outras pessoas, era na minha, reservada, gostava era de conversar com pequenas criaturas que viviam pelo local. Mesmo antes de tudo acontecer e eu me tornar o que sou hoje, não era de muito papo.
Apesar dessa minha distancia da cidade, uma vez ou outra eu tinha que ir até a parte mais movimentada, principalmente para me alimentar.
Era uma cidade portuária mas não tão movimentada assim, não era igual as grandes cidades costeiras super cheias de turistas, era simples, silenciosa na sua maior parte. Claro que em seu centro comercial haviam mais pessoas andando, como se fossem zumbis guiados pela ganância de comprar sempre mais e mais e gastar mais e mais, e depois eu é que era a esquisita. Sempre estava nublado ou chovendo e por isso tinha que me hospedar em hotéis algumas vezes, ficar muito tempo na chuva molhada não era bom e depois de tantos dias assim já estava cansada. Engraçado pensar nisso agora, depois de tanto tempo e de todas as coisas que já aconteceram até agora e o rumo que as coisas tomaram, pensar como era simples... agora tudo é tão difícil e cada decisão que tomamos ou as que tomo sozinha mudam tudo.
Eram por voltas de meia noite quando cheguei no hotel de beira de estrada, sua entrada era simples, duas grandes portas de madeira antiga estavam abertas, pelo aspecto delas esse hotel parecia ser daqueles criados a seculos e passado de geração em geração, sem mudanças em seu exterior, pra mim isso não importava, ele parecia dentro de minhas economias então dava pro gasto. Entrei. O saguão era amplo, com varias palmeirinhas em vasos bem grandes nos cantos das paredes, um grande tapete vermelho vinha da porta até o balcão de madeira escura, havia também uma mesinha de centro com algumas poltronas e revistas para os clientes passarem o tempo enquanto aguardam. A direita tinha o elevador e as escadas e atras do balcão pude observar duas portas e o quadro de quartos que indicavam os quartos disponíveis. De trás do balcão tinha uma moça que aparentava ter por volta de seus quarenta e poucos anos, cabelos loiros presos em um coque bem feito. Me aproximei, ela me olhou de cima abaixo e enquanto ela me olhava eu acompanhava seu olhar, que se demorou em minha roupas surradas e sujas a meu cabelo desgrenhado e minha cara de poucos amigos, levantei uma sobrancelha de reprovação quando seu olhar encontrou o meu, já não gostei dela de cara.
- Em que posso ajudar - Ela falou em um tom seco.
- Quero um quarto - respondi no mesmo tom
- A diária custa 50 reais - disse como se achasse que não tinha grana pra pagar.
Comecei a procurar o dinheiro em meus bolsos puxei uma nota de 50 amassada e pus em cima do balcão. - Tá ai. - Ela me entregou uma chave com grande número 307 e me fez assinar o livro-caixa.
Me encaminhei para o elevador, estava cansada após minha refeição e não queria subir escada. E ali o primeiro sinal de que algo não estava certo apareceu. O elevador era feito de ferro e tinha um espelho, uma luz vinha de cima e parecia não ter câmeras. Apertei o botão do terceiro andar e as portas se fecharam, ele subia lentamente e com um barulho desagradável das engrenagens que davam a sensação de que logo tudo desabaria e então chegamos ao terceiro andar, mas antes da porta abrir a luz do elevador apagou me deixando num breu total. Não liguei muito, caso ficasse presa eu arrombaria a porta, então esperei uns segundo e então a porta se abriu. O corredor era largo com azulejos pretos no centro e nos cantos brancos, havia quatro portas de apartamento em cada lado do corredor, cada um com a numeração correspondente a cima das portas. Encaminhei para meu quarto que era uns dos últimos do corredor, abri a porta e entrei.
Era um quarto simples com uma cama de solteiro, um guarda roupas , uma mesinha para refeições com cardápio do hotel e um telefone, e um pequeno banheiro. Joguei minha mochila surrada em cima da cama e em seguida me joguei também. Fazia um tempo razoável que não dormia em uma cama macia que já nem lembrava como era, não que me importasse em dormir no chão de uma caverna escondida, mas até que era bom deitar em uma cama.
Sou uma garota, pode se dizer, mas desde que "acordei" parei de me incomodar com as coisas cotidianas das meninas comuns, não preciso disso... Não transpiro, não respiro, meus órgãos estão atrofiados, não sinto nenhuma necessidade fisiológica, só tenho fome, uma fome quase incontrolável. Demorei muito tempo a me acostumar com isso, mas hoje em dia, depois de tantos anos já me acostumei, porem as pessoas não gostam do modo como me visto, como aquela mulher do balcão, então decidir tomar um banho e trocar de roupa. Antes de me vestir fiquei me olhando no espelho, era algo que não fazia a seculos, minha pele pálida , quase transparente me dava um aspecto sombrio, adorava isso em mim, meus cabelos negros grande estavam molhados e escorriam ate abaixo da bunda, quase esquelética e desengonçada era engraçado me olhar no espelho novamente, um rosto fino me encarava de volta e enquanto encarava meus olhos amarelos no espelho uma grande batida pode ser ouvida vindo de fora do hotel, como se acordasse de um transe olhei pela janela. Uma grande construção estava sendo feita do outro lado da rua, podia ver andaimes montados, carrinhos de cimento, tijolos e todas as parafernálias que se tem em um canteiro de obras. Chovia muito aquela noite, ao longe podia se ver os raios e ouvir os trovões da tempestade que caia. Provavelmente o barulho veio de lá pensei eu.
Terminei de me vestir e me deitei.
Não se passaram nem um minuto e novamente as luzes se apagaram.
"Pelo menos não estou no elevador." - Pensei comigo mesma.
Apesar de estar acostumada a ficar na escuridão, senti um calafrio subindo pela espinha até a nuca, não era comum eu ser acometida por esse tipo de sentimento. Algo naquele lugar não parecia certo.
Passaram-se cinco, dez, quinze minutos e nada da luz voltar e aquele silêncio já estava começando a me incomodar. Não adiantava mais ficar deitada, eu não iria dormir mesmo já que o sol havia se posto a poucas horas, resolvi ir na recepção para saber o que estava acontecendo.
Segui em direção a porta e ao tocar na maçaneta, um som à minhas costas me deixou em alerta, virei rapidamente à tempo de ver um vulto passando por um feixe de luz que vinha da janela. Respirei fundo, fechei os olhos e me concentrei para poder ver melhor no escuro. Ao abrir os olhos, por alguns segundos, pude ser o vulto se movendo na escuridão. "Porra, que merda foi essa." pensei. O vulto seguiu em direção a parede e desapareceu como que se tivesse entrado na mesma. Aquela cena me deixou paralisada, não pelo susto, mas pela surpresa. Em toda minha não vida, havia presenciado esse tipo de situação e, com meu pouco conhecimento sobre o submundo, não podia enteder que diabos era aquele vulto.
Comecei a vasculhar o quarto em busca de algo que pudesse me explicar
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Memorias de uma Vampira
VampirRelatos da historia vivida por Katy Laregel, uma vampira Gangrel que conheceu o que é o verdadeiro significado do sobrenatural.