Emme e Rachel

Capítulo II

-Emme! - Lucy gritou chamando minha atenção, tirando-me totalmente dos pensamentos sobre aquela garota à qual eu tinha visto no corredor, incrivelmente semelhante a mim - Venha aqui!

-C-Calma...o que foi?

-Olha, sabe que se estiver acontecendo alguma coisa com você, pode falar comigo né?

-Por quê essa pergunta tão repentina?

-Bom, vejamos, mês passado você derrubou aquela estátua valiosa da sua mãe no chão, e disse que "foi sem querer", semana passada você colocou fogo em uma árvore do jardim, e também disse que "foi sem querer".

-O que quer dizer com isso?

-Hoje você quebrou um vaso, totalmente do nada... Isso não é normal. Eu já tive sua idade Emme, eu sei como vocês adolescentes pensam. Você acha que eu não percebi no seu olhar que você escondia alguma coisa? Muito mais do que um simples ato "sem querer".

Tá, ela estava certa, aquilo não foi "sem querer", nenhuma das vezes foi, mas digamos que, quando eu fico incrivelmente brava, as coisas sempre quebram, algo que é TOTALMENTE sem sentido. Como eu iria desabafar com a Lucy sobre uma coisa que nem mesmo eu consigo entender?

-Engano seu Lucy, não tem nada a ver! -gaguejei -Eu não fiz aquilo por vontade própria, eu juro - falei rapidamente tentando evitar olhar diretamente nos olhos castanhos preocupados dela.

-Emme...

-É sério! Apenas deixe isso pra lá -digo, com um tom alterado, olhando para qualquer outra direção exceto seus olhos.

-Se você insiste...

-Obrigada - Suspirei, aliviada

-Porém, se acontecer de novo, você vai ter que me contar tudo!

-Tudo o que? Não estou escondendo nada, E.U. N.Ã.O. F.I.Z. A.Q.U.I.L.O. D.E. P.R.O.P.Ó.S.I.T.O -revirei meus olhos.

-Só vamos para casa, já está ficando tarde. E o médico disse que seu machucado curará em cerca de dois ou três dias, então não precisamos nos preocupar tanto.

Quando eu estava passando pela porta de saída lembrei-me daquela garota igual a mim que eu tinha visto. Será que eu devia voltar pra procurar ela? Não é todo dia que você encontra uma réplica humana sua andando pelos corredores de um hospital

-Entre, Emme!

Novamente fui tirada de meus pensamentos pela Lucy, quando olho pra frente ela está segurando a porta do carro para eu entrar. Será que eu devia mesmo desistir de ir atrás da garota igual a mim?

-Emme?! Vai entrar ou não?

-Estou indo -assenti e logo em seguida entrei no carro, e ela fechou a porta. Talvez eu me arrepende disso depois, mas quer saber, foda-se. Quantas coisas eu não fiz que já me arrependi depois? Fazer o que, está no meu DNA.

****************

-Emme, a janta está na mesa! - ouvi Lucy gritar meu nome do andar inferior.

-Já estou indo!

Abro a porta branca com alguns enfeites pretos e fotos com frase inspiradoras -que minha mãe insistiu em por-, então saio do meu quarto entediantemente branco. Cara, como isso me irritava, juro que me dá vontade de vomitar quando olho pra ele, até rosa ficaria mais legal que branco, não, rosa não, até marrom fica melhor que branco. Desço minhas escadas, elas não eram tão longas nem tão sem graça como o meu quarto, mas ainda me dava ânsia;
Eu sou crítica de mais quanto falo sobre cores e decoração, mas minha mãe decidiu deixar a casa quase toda branca, o que daria "uma leveza e um toque sutil à casa", nas palavras dela. Quando eu chego no andar de baixo avisto a Lucy me esperando, a mesma puxa a cadeira para eu sentar.

-Emme, hoje eu decidi fazer sua comida preferida, lasanha!

-Você é mesmo demais Lucy! -me joguei nos braços dela, à abraçando.

Ela era a pessoa que eu mais amava no mundo, como uma mãe para mim.

-Eu sei que sou -ela piscou o olho direito, sorrindo.

-Modéstia à parte! -falei, depois me sentei na cadeira e ela começou a me servir.

Bom, eu reclamo MUITO por não ter meus pais presentes na minha vida, mas sabe, pode não ser de sangue, mais Lucy é mais incrível do que qualquer mãe ou pai que eu poderia querer. Ela que está comigo nos meus momentos mais tristes e felizes. Quando eu me machuco, ela que cuida de mim, quando preciso de conselhos, ela que me dá. De sangue ou não, ela é uma mãe para mim. A melhor que eu poderia querer.