De mãos dadas ele me levou para uma sala escondida no final do corredor, abriu a porta e abraçou-me fortemente. Encostado em seu peito musculoso senti o seu cheiro, um cheiro de natureza, cheiro de casa, minhas duas mãos agarraram a sua camisa, naquele momento elas eram garras, apoiei-me, segurei-o, aprisionei nós dois, aprisionei aquele instante. Senti seu nariz roçar levemente em meus cachos. "Seu cabelo é macio, cheiroso, combina com você" murmurou enquanto dava-me delicados beijos na minha cabeça e testa, sua mão afagava as minhas costas, um movimento que me fez suspirar, extravasando todas as borboletas acumuladas no meu estômago, fechei os olhos sentindo-me no paraíso, um paraíso construído em cima de um castelos de cartas, eu sabia que era arriscado, mas mesmo assim entreguei-me, entreguei-me a esse homem gentil, sorridente e brincalhão, que arranca risos sem dizer uma palavra, que me faz explorar lugares que eu nunca achei possível existir em mim mesmo. Pegou a minha mão e guiou-me ao banco de madeira sem encosto em frente aos armários dos funcionários, sentou-se, por extinto sentei em seu colo envolvendo minhas pernas no seu quadril, senti seu corpo estremecer com o movimento rápido e preciso. Ficamos de frente um para o outro, perdendo-me na imensidão dos seus enormes olhos azuis, agarrei sua nuca com a minha mão direita e com a outra segurei seu rosto ternamente, enquanto suas mãos seguravam-me pela cintura, vi seus olhos se fecharem por um breve instante e ao abri-los sorriu, mostrando apenas o início dos seus maravilhosos dentes, incrivelmente brancos que se destacavam na pele clara do seu rosto que nesse momento ardia em um vermelho intenso, desloquei a mão esquerda do seu rosto para juntar-se a minha outra mão na sua nuca, enquanto ele deslocava sua cabeça para beijar-me, nossas bocas se juntando em uma união perfeita, movimentando-se de um lado para o outro como se estivéssemos em uma montanha russa, sua língua misturando-se a minha até torna-se uma só, até nos tornar um só ser. Sentia sua eração pulsar na minha coxa entre o tecido das nossas calças, sem ar, sem folego, nosso beijo terminando com a sensação de perda, como se o tivesse perdido entre as minhas próprias mãos, voltando a mim quando sua boca deslocou-se da minha para o meu pescoço, senti sua língua passear na minha pele fria, beijando-me, chupando-me, extraindo cada gota do meu eu, fazendo-me delirar e remexer em seu colo, fechei os olhos e reclinei a minha cebeça para trás puxando os poucos fios ruivos da sua nuca, seu sexo pulsava, rijo, intenso. Ouvi um zumbido, começando baixinho e aumentando gradativamente, algo vibrava em seu bolso na parte da calça que eu ainda estava em cima, as carícias param, ele olhou para mim com um olhar triste e um sorriso amarelo, expondo a decepção que surgiu de dentro do seu ser e se emanou até mim. "Desculpe-me, mas você sabe como é" sussurrou em meu ouvido. Não tinha como não resistir ou não perdoar, ele falava com tanto ardor, malícia, ruborizando-me da cabeça aos pés. Dei de ombros e sorri do jeito mais amistoso que pude. Abaixei o olhar e vislumbrei um pequeno pedaço da sua pele branca exposta por causa dos dois botões abertos da sua camisa, como é que não vi isso antes ! Passei a mão e logo em seguida comecei a dar pequenos beijinhos na pequena abertura sentindo a sua carne branca e quente enquanto desajeitadamente desabotoava os próximos, seu corpo estremeceu com meu toque, deslizei a mão pelo seu peito, comecei a descer com mãos e boca bem devagar, passei pelo meio do seu tórax, avançando até o seu umbigo, sua respiração acelerava, parecia que estava com dificuldades para respirar, sorri de excitação e desejo, sua reação inesperada, exagerada, sincera. Parei, ergui o tronco bem devagar, seu olhar tinha um ardor inexplicável, mas havia decepção nele também. Em um movimento súbito, dei um rápido beijo, somente o encontro dos lábios, senti que procurava-me, queria algo mais, mas lembrei do toque do celular e do olhar de desculpas que encontrava-se em seu rosto minutos atrás, não queria que perdesse a hora, decepcionei-me pela quantidade de autocontrole que dispunha. "Você está atrasado, é melhor ir se não quiser chegar tarde. Seja lá aonde for." Disse usando o tom mais amigável possível, em uma tentativa falha de parecer otimista. Na empolgação do momento continuei o meu discurso. "Você poderia aproveitar mais, se jantasse comigo hoje a noite" terminei sorrindo, seu rosto era um completo ponto de interrogação, baixei a cabeça e fitei o chão denunciando a minha vergonha com a vermelhidão das minhas bochechas; pareceu não ter palavras para descrever ou responder a minha pergunta, que não foi uma pergunta, foi mais uma inquisição. Levantou as sobrancelhas clarinhas e dirigiu-se a mim com toda excitação e ternura, beijou-me, envolveu-me novamente no seu transe, embriagando-me com seu cheiro, seu toque, o aperto dos seus braços, mãos e corpo, tornando-me sua vítima, seu brinquedo, sua marionete, deixei conduzir-me ao paraíso dos prazeres, tornando-o traficante e droga, eu, seu usuário, sua barba ruiva roçando nas minhas bochechas e boca, suas mãos na minha nuca e cintura, as minhas envolvidas em seu rosto, alisando discretamente a suas feições. Novamente sem folego terminamos aquele beijo apressado, os rostos afoguentados de prazer. "Sim, eu aceito o seu discreto convite", seu rosto másculo e sensual contraiu-se até virar um doce sorriso, "Quero saber como vai despistar os seus pais" disse olhando o relógio e saindo porta a fora sem esquecer de dar uma piscadela para mim, "Te encontro ás 19h depois do seu expediente" gritei pelo corredor. Acredito que tenha me ouvido. Peguei a minha mochila, coloquei nos ombros e saí correndo como sempre faço, desci as escadas de metal que davam para recepção em seguida para a rua, já na calçada senti o celular vibrar no bolso, mensagem.
“Te encontro ás 19h30 no local de sempre ;)”
Rapidamente cliquei em responder e digitei:
“Pode ser, estarei esperando”
Reli três vezes a mensagem perguntando a mim mesmo se as palavras estavam corretas e se havia concordância na frase, chequei também se eram informais ou formais demais e perguntei-me o porque de tantas dúvidas, balancei a cabeça para por os pensamentos em ordem e cliquei em enviar, abri a mochila, joguei o celular dentro sem saber ao certo o que eu estava pensando ou fazendo...
* * *
Revirei-me na cama de um lado para o outro. Suor, meu pijama colando no meu peito e nas minhas coxas, chutei o cobertor para longe deixando apenas o lençol sobre meu corpo magro e esguio, tentei encontrar algum sentido em toda essa situação, eu não estava naquele quarto, com os armários, com o banco, não desci aquelas escadas e nem sequer mandei aquela mensagem, não encontrei o ruivo, não senti o seu cheiro, os abraços muito menos aquela ereção, eu não senti nada, porque não aconteceu nada ! Era um sonho. Perfeito, mas ainda sim um sonho. O desespero tomou conta de mim, tendo início dentro do meu ventre e subindo até fechar a minha garganta e secar a minha boca, tossi, levantei com dificuldade pondo-me a sentar e desejei que tudo voltasse, a paixão, a ternura. Deitei de novo, virei-me de um lado a outro, espremi os olhos. Nada. O sonho cada vez mais distante, turvo, perdendo-se no vento, nas minhas memórias, confundindo-se na minha alma. Sentei, apertei a minha cabeça na esperança de salvar qualquer resto, qualquer sobra de tudo que eu senti; abracei as minhas pernas e em um misto de tristeza e frustração, chorei, esperneei, as lágrimas jorrando, molhando as minhas roupas, solucei, engasguei com o próprio ar, com a saliva, não conseguindo mais respirar coloquei as duas mãos envolta do pescoço em um movimento inútil e sem efeito nenhum, deitei no travesseiro encharcando a fronha. Não lembro de mais nada, somente o final do sonho, a escadaria de metal e uma visão turva do ruivo gentil que me recebeu de braços abertos, de coração aberto, o abismo o qual eu me joguei de cabeça, a ponte onde amarrei pedras em meus pés e joguei-me ao mar em um momento de prazer suicida.
Ruídos de pratos e passos. Deve ser minha mãe, querendo saber o que acontece, o por que do barulho, das lágrimas, do soluço, dos espasmos e a motivação de tudo isso, perguntas as quais eu não tenho resposta. Três toques na porta. Um rangido, um olhar cauteloso, olhos azuis ternos e ardentes; meu corpo estremeceu de repente, as lágrimas de tristeza transformaram-se em lágrimas de alívio e euforia, pulei da cama tropeçando em todas as coisas que estavam pela frente, pulei em seus braços fortes agarrando-me em seu peito nu, os seus braços segurando-me firme, como os de alguém que agarra-se a própria existência, que abraça alguém em uma saudade intensa e sem explicação, braços que envolvem-se, que o mantém em segurança contra tudo e todos. "O que foi ?" Perguntou a voz melodiosa e ao mesmo tempo cheia de preocupação. Pegou-me no colo sem o menor esforço, embalou-me, encostei minha cabeça em seu peito desnudo, branco, incrivelmente liso, macio, com as sardas que eu amo tanto...Beijou minha cabeça e limpou as sobras das lágrimas do meu rosto com as costas da mão enquanto sentava-se na beira da cama colocando-me em seu colo, minhas mãos enroscaram-se em sua nuca, passei os meus dedos finos nos mesmos fios ruivos do meu sonho. "Devia ter ficado aqui" resmungou mais para si mesmo do que para mim. "Desculpa, quebrei a minha promessa, me perdoa ?". Sem palavras olhei no fundo dos seus olhos azuis em sinal de perdão, nossos corpos ajeitando-se em direção a cabeceira da cama em movimentos urgentes, seus braços envolvendo-me, minha cabeça encostando mais uma vez em seu peito, seus dedos enroscando-se nos meus cachos. Logo depois baixei o olhar e sorri, senti uma risada profunda vinda do seu ser. Abraçou-me mais forte, envolvi meus braços ao redor do seu tronco retribuindo o movimento, desafiando as leis da física, tentando de alguma maneira ocupar o mesmo espaço desse homem que sem mais nem menos entrou na minha vida, trocando os móveis de lugar, revirando gavetas, matando demônios, ajudando-me a reescrever o meu romance, trocando finais e adicionando personagens para que história de culpa e lamentação não volte a se repitir. Nunca. Nunca mais. Procurei sua mão com avidez, esforçando-me para entrelaçar nossos dedos, movimento que ele fez em pouco segundos, beijou a minha mão enquanto eu via seus olhos enchendo-se de lágrimas, como se eu fosse o que ele havia procurado a vida inteira.