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A melodia o envolvia e fazia se lembrar de coisas do passado. Memórias antigas que ele havia afogado e trancado em um lugar da mente. Quando virou o caminho em uma grande rocha da praia, viu a garota. Ela estava com os braços abraçando as  pernas e parecia ser frágil. Ela olhava para o céu e cantava. Com o coração.

Subitamente, ela parou. Uma sombra se passou por seu rosto e ela começou a soluçar com a cabeça entre seus joelhos. O coração de Namjoon se apertou. Ele não conseguia ver uma pessoa nesse estado. Sentiu a necessidade de ajudar a garota.

Devagar ele se aproximou dela e se sentou em um local próximo. Ela estava tão ocupada derramando lágrimas que sequer notara a presença de alguém perto dela. Ela então levantou a cabeça e o viu. Ele somente a encarou. A garota estava mortificada pela presença de um estranho ali. Discretamente tentou secar as lágrimas e o encarar seriamente.

— Está tudo bem? — claro que não estava. Mas ele sentiu a necessidade de perguntar.

A garota desatou a chorar. Namjoon não soube como reagir a isso. Ele queria a consolar, mas não sabia nada sobre a causa de seu choro.

— Ninguém deveria me ver assim... — ela murmurou, secando as lágrimas e forçando um pequeno sorriso que Namjoon facilmente reconhecia como um sorriso triste usado para esconder algo. Ele mesmo estava acostumado com esse sorriso. Estava acostumado com o fingimento.

Ele quis dizer que tudo iria ficar bem, mas ele mesmo tinha suas dúvidas quanto ao fato.

— Tudo bem — ele a olhou. Mas a garota nem sequer se virou, ocupada com suas próprias aflições. — Neste lugar não existe nada além de areia, mar e estrelas. Pode chorar à vontade, até se sentir bem. Não existe nada que te impeça de o fazer. Nenhuma máscara.

Ela de repente se virou ao escutar isso e o encarou fixamente. Um brilho tinha tomado seus olhos. A garota esboçou um pequeno sorriso, mas o mesmo não chegava aos seus olhos.

— Você não entende — ela passou as mãos pela areia da praia, distraída. — Ninguém entende. Estou sozinha.

— Então somos iguais nisso. Vim parar nessa praia justamente por isso.

Os olhos dela brilhavam enquanto ela encarava a areia.

— Meu pai agredia minha mãe — suas palavras eram duras. Não tinha nenhum resquício do sorriso de antes. — Eu não tive infância. Cresci com minha tia escutando as risadas de minhas primas por eu não estar no padrão de beleza coreano.

Namjoon engoliu em seco, pois sabia o que isso significava. Quando resolveu reparar melhor em seu rosto, percebeu coisas que não havia notado antes, como o fato de que os olhos dela não eram puxados e eram azuis. Definitivamente, ela não se encaixava no padrão de beleza da Coréia do Sul. Namjoon sabia que esse podia ser o maior problema de uma adolescente, principalmente porque no colégio as pessoas não pareciam pensar e esmagavam qualquer um que não estivesse dentro dos estereótipos. Ele sempre odiou pessoas desse tipo, pessoas que julgam alguém apenas pela aparência. Dane-se esse padrão ridículo.

— Meu maior sonho é sair deste lugar horrível chamado Casa da Minha Tia — ela continuou. — Gostaria de pegar um vôo para bem longe, um lugar onde me aceitassem desta forma. Talvez Estados Unidos, quem sabe?

— E por quê não vai? — ele resolveu perguntar.

— Não tenho dinheiro. Minha tia tirou a poupança que meu pai guardara para mim. Peguei um emprego em um café para juntar dinheiro — a garota suspirou.

— Pelo menos você não vai estar em um avião para depois servir ao exército em menos de doze horas.

Se não estivesse escuro, Namjoon teria certeza que ela tinha ficado vermelha de vergonha.

Under the Sky [BTS]Onde histórias criam vida. Descubra agora